Alfredo Binda venceu cinco Voltas a Itália
(Fotografia: Wikimedia Commons) |
Os primeiros anos da Volta a Itália foram dominados pelos ciclistas da casa. Só em 1950 foi quebrada a hegemonia, quando o suíço Hugo Koblet bateu Gino Bartali e Alfredo Martini (ambos italianos, pois claro). Durante esse período surgiram dois dos grandes nomes do ciclismo transalpinos, que ainda hoje são vistos como dos melhores da modalidade. Fausto Coppi e, antes, Alfredo Binda. E Binda esteve envolvido num dos casos mais estranhos da longa história do Giro. Hoje seria impossível imaginar que um ciclista fosse convidado a não competir para dar a possibilidade a outros a ganhar. Numa comparação com a actual realidade, talvez se possa dizer que seria o mesmo que pedir à Sky para não ir à Volta a França!
Mas voltando a Binda. Com apenas 19 anos, quando começou a correr, rapidamente tornou-se claro que se estava perante um enorme talento. Porém, apesar de ser um excelente ciclista e um vencedor de excepção, a verdade é que Binda começou mal a relação com os adeptos e tudo porque ganhou o Giro de 1925. Foi a sua primeira participação e ia ser a última Costante Girardengo, então muito admirado e que já contava com duas Voltas a Itália. O desejo de ver Girardengo despedir-se campeão acabou por transformar Binda numa espécie de anti-herói. No ano seguinte, Binda ficou em segundo, mas depois conquistou três edições consecutivas, com um domínio quase total. Em 1927, venceu 12 das 15 etapas e em 1929 foi primeiro em oito tiradas consecutivas.
Reza a história que, perante tal domínio, a Gazzetta dello Sport, jornal que se mantinha como organizador da corrida que tinha criado, pediu a Binda para não ir no Giro de 1930, para que os outros ciclistas tivessem a possibilidade de ganhar. Para convencer o corredor, deram-lhe o valor que receberia se ganhasse: 22.500 liras. Binda foi então ao Tour ganhar duas etapas e Luigi Marchisio aproveitou para conquistar um Giro.
Entretanto, havia uma guerra de ídolos. O episódio de Girardengo demorou a ser ultrapassado, até porque o antigo ciclista resolveu "apadrinhar" Learco Guerra, dizendo que era o seu sucessor. E numa altura em que o regime político tinha uma enorme influência em tudo, o apoio do partido fascista fazia com que Guerra tivesse toda a cobertura mediática, enquanto Binda ficava em segundo plano, ou muitas vezes em nenhum plano, apesar de ser ele quem ganhava. Também não ajudava o facto de ser descrito como uma pessoa fria e distante.
Binda nunca se preocupou com a popularidade dos outros, pois dizia que estava concentrado em ganhar e não em dar espectáculo. Com esta atitude, continuava a não ter muitos apoiantes, apesar de estar claramente acima de toda a concorrência. Binda só voltaria a vencer o Giro em 1933 - então já recebia alguma admiração por parte dos adeptos - e até hoje as cinco conquistas nunca foram ultrapassadas, apenas igualadas por Fausto Coppi e Eddy Merckx.
Um outro recorde de Binda demorou décadas a ser batido: as 41 vitórias em etapas só foram ultrapassadas em 2003, quando Mario Cipollini venceu a sua 42ª. Binda conta ainda no currículo com três Mundiais, quatro Giros da Lombardia e duas Milano-Sanremo. Tornou-se mais tarde director da selecção italiana - já como ciclista tornou-se conhecido por ter métodos inovadores de treino - e ajudou a levar Fausto Coppi, Gino Bartali e Gastone Nencini até à conquista da Volta a França.
Sem comentários:
Enviar um comentário