18 de setembro de 2016

As camisolas de Peter Sagan, "o melhor desta geração"

Durante a Volta a França, quando Peter Sagan vestiu pela primeira vez na sua carreira a camisola amarela, questionaram-lhe se lutaria por mantê-la quando chegassem etapas mais montanhosas. Sagan teve uma resposta... à Sagan: "Se não vestir a amarela, tenho a verde [classificação por pontos], se não vestir a verde tenho a de campeão do mundo." Naquela altura já tinha "cedido" o título de campeão nacional ao seu irmão Juraj. No entanto, tem agora mais uma "camada": a primeira camisola de um campeão da Europa da categoria de elite. Em Plumelec, o eslovaco escreveu mais uma página de uma história que o consagra cada vez como um dos melhores. E tem apenas 26 anos. Perante mais este triunfo, Julian Alaphilippe (segundo classificado) não teve problemas em dizer que se está perante o melhor ciclista da sua geração.

Sagan levou uma mão à cabeça ao cortar a meta depois de um sprint - a forma como queria que esta corrida se decidisse - em que basicamente todos, ciclistas, adeptos presentes, telespectadores, sabiam que seria o eslovaco a ganhar sem grandes problemas. Mas não deveria ser bem por estar surpreendido com esta vitória que fez aquele gesto. Talvez esteja a ficar sem formas de celebrar depois de um 2016 repleto de triunfos importantes, envergando a camisola de campeão do mundo... A famosa maldição da camisola arco-íris está mais do que "quebrada"!

A mudança de Nice para Plumelec, devido aos atentados de terroristas de 14 de Julho, motivou Sagan a perseguir os Europeus. O próprio confessou após a corrida que no percurso de Nice não teria competido, mas o de Plumelec era à sua medida. O eslovaco destacou ainda que ter uma equipa de seis foi também determinante, ainda que quando o italiano Moreno Moser ameaçou surpreender o grupo, foi Sagan quem foi à frente dar o exemplo e acelerar um pouco a perseguição. A atitude deste ciclista é simplesmente de alguém a caminho de se tornar uma voz de referência no pelotão internacional, abandonando aos poucos a imagem do rapaz irreverente, com os animados festejos (e que nem sempre agradavam os adversários). É capaz de nunca perder a sua irreverência, mas vai amadurecendo como ciclista e como ser humano.

Em 2016 são 11 vitórias, que incluem três etapas na Volta a França e o seu primeiro monumento, a Volta a Flandres. A estes resultados juntam-se ainda as conquistas das classificações por pontos da Volta a França, Volta à Califórnia e Tirreno-Adriatico. Sendo também conhecido pelo homem dos segundos lugares, soma 10 este ano, mais o segundo posto na classificação por pontos da Volta à Suíça e na geral do Tirreno-Adriatico.

No entanto, a época ainda não acabou para Peter Sagan. Um dos grandes objectivos é terminar o ano em primeiro no ranking World Tour, o que seria uma estreia para o eslovaco. Nairo Quintana ultrapassou-o após a Volta a Espanha e Sagan vai apanhar um avião a jacto para nesta segunda-feira estar na partida do Eneco Tour, última prova por etapas do World Tour. Seguem-se os Mundiais em Outubro, mas não sendo um sprinter puro, o eslovaco sabe que será difícil manter a camisola do arco-íris no Qatar, mas certamente que o vamos ver dar tudo para tentar.

Alaphilippe, o respeito e o talento

Julian Alaphilippe sabe bem o que é ser segundo atrás de Peter Sagan: aquela vitória na geral na Volta à Califórina em 2015, quando um super eslovaco tirou ao francês a camisola da liderança na última etapa dificilmente será esquecida. Em Plumelec, não foi preciso um super Sagan no sprint, mas mesmo sabendo da desvantagem, Alaphilippe foi à luta e subiu ao pódio nos Europeus do seu país. O francês não escondeu alguma desilusão, no entanto, ciente da qualidade do adversário, não hesitou em dizer: "É o melhor da nossa geração."

Um sinal de respeito que também revela o outro lado de um ciclista que se vai tornando um caso sério de talento por "explodir". Este ano lá conseguiu levar a Volta à Califórnia, esteve a bom nível na Volta a França e ainda demonstrou que se dá bem em algumas clássicas. Aos 24 anos, a Etixx-QuickStep tem um atleta que a qualquer momento poderá então "explodir", tendo todas as características para rapidamente se colocar como uma das referências do ciclismo gaulês.

A completar o pódio esteve um homem de experiência. Dani Moreno (35 anos) foi terceiro, o que permitiu à Espanha ter mais uma medalha, depois de Jonathan Castroviejo ter sido campeão da Europa de contra-relógio.


(Fotografia: Facebook Federação Portuguesa de Ciclismo)
Rui Costa e uma excelente ajuda dos companheiros

Quanto a Rui Costa, o português esteve na luta, mas ao sprint, não teve hipótese. O ciclista já tinha avisado que o circuito favorecia homens mais rápidos, ainda assim, a equipa portuguesa teve uma exibição brilhante, principalmente Sérgio Paulinho e Tiago Machado, que muito trabalharam para garantir que Rui Costa pudesse discutir a corrida. Depois, o campeão do mundo de 2013 fez o resto. Foi inteligente na colocação nos últimos quilómetros, mas o português não tem ponta final para fazer frente a um ciclista como Peter Sagan.

Sérgio Paulinho foi 33º a 57 segundos, Tiago Machado 59º, André Cardoso 62º e José Gonçalves 68º, os três a 3:43 minutos do vencedor. De recordar que José Mendes não competiu devido a problemas físicos.

Ainda assim, o saldo da participação portuguesa nestes Europeus é muito positivo. Ao sexto lugar de Rui Costa junta-se o quarto de Nelson Oliveira no contra-relógio (depois dos top dez nos Jogos Olímpicos, os dois continuam a somar bons resultados ao serviço da selecção). Daniela Reis acabou por ter azar, mas a sua determinação foi um exemplo. Quanto aos sub-23 e juniores ficou a garantia que há trabalho a fazer, mas Portugal tem mais uma geração prometedora a surgir.

Veja aqui os resultados completos da primeira prova masculina de elite dos Campeonatos Europeus.

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