19 de agosto de 2016

La Vuelta: Round 2 da Volta a França ou a confirmação das figuras do Giro?

O "trio maravilha": Quintana. Froome e Contador (Fotografia: Facebook La Vuelta)
Esta Volta a Espanha é novamente para subir, subir, subir. Não há lugar para sprinters (ou quase). O percurso tem tanto de assustador para uns ciclistas, como de cativante para outros e talvez seja por isso que Chris Froome, Alberto Contador e Nairo Quintana não tenham resistido a estar presente. Bom, é uma das razões, pelo menos, mas já lá vamos. Claro que depois temos um Steven Kruijswijk a querer comprovar que a performance no Giro não foi caso único, tal como Johan Esteban Chaves. O pelotão da Vuelta tem ainda outros nomes de respeito que prometem uma volta interessante e nos últimos anos o espectáculo na estrada espanhola não tem desiludido. E bem estamos a precisar de uma grande Volta depois de um Tour algo aborrecido.

Inevitavelmente o "trio maravilha" está novamente no centro das atenções da prova que começa este sábado, mas talvez não seja justo entregar-lhe o protagonismo e muito menos o favoritismo. Sim, porque esta Vuelta tem mais ciclistas que vão fazer frente aos três suspeitos do costume. Mas vamos começar pelo trio. Lá terá de ser. Alberto Contador surge talvez com alguma vantagem. O Tour foi para esquecer - quedas ditaram o seu abandono - e perante os problemas físicos com que ficou, abdicou dos Jogos Olímpicos. Porém, chegou à Volta a Burgos e ganhou por um segundo. Contador não quer falar em vinganças, mas a verdade é que o homem da Tinkoff está com fome de vitórias e na Vuelta tem tendência a ganhá-la quando a disputa.

Nairo Quintana é o mais pressionado destes três ciclistas. O colombiano foi uma desilusão na Volta a França. É certo que subiu ao pódio, mas quando esteve todo o ano a preparar o "sueño amarillo" para ganhar o Tour, a sua exibição acabou por ficar muito aquém do que a própria Movistar esperaria. Quintana nunca esteve sequer perto do nível de Chris Froome, além de um ou outro erro táctico e desatenções que lhe custaram tempo. No final era um homem desalentado e alegou problemas de saúde para falhar os Jogos Olímpicos. Não compete desde o Tour.

Apesar do número um da Movistar ser Alejandro Valverde, tal se deve a uma forma da organização da Vuelta de premiar o espanhol por este ano estar a fazer as três grandes voltas e os Jogos Olímpicos. O vencedor de 2015, Fabio Aru, não estará presente, assim como os restantes ciclistas que subiram ao pódio: Joaquim Rodríguez e Rafal Majka. Ainda assim, a ver vamos o que fará Valverde, pois não parece que vá apenas passear à única Volta que ganhou na sua carreira.

E depois temos Chris Froome. O britânico vai aos poucos dando mostras que até quer ganhar outra grande Volta além do Tour, apesar de não abdicar da Volta a França. Nem pensar! A sua época está feita: venceu a competição francesa e ainda foi ao Jogos Olímpicos buscar a medalha de bronze de contra-relógio. O próprio admite que não está nas condições físicas com que se apresentou em França, o que é absolutamente natural. Ainda assim, Froome procura conseguir vencer duas grandes voltas num ano. E mesmo não tendo a super equipa do Tour a apoiá-lo, bom... a Sky tem um lote de ciclistas que permite ter uma equipa fortíssima. Perdeu Mikel Landa - ano de estreia na Sky para esquecer - devido a problemas de saúde, mas com Leopold König, Peter Kennaugh e David Lopez, Froome sentir-se-á bem acompanhado, ainda mais porque Michal Kwiatkowski está de volta. Falhou o Tour também por razões de saúde, mas na Vuelta pode ser mais do que um companheiro para o britânico, pode muito bem ser um plano B para a Sky.

Os homens do Giro. A próxima geração?
Kruijswijk é um dos candidatos a esta Vuelta
(Fotografia: Facebook do ciclista)
Vincenzo Nibali ganhou a Volta a Itália, é certo, naquilo que teve tanto de milagre como de azar para Steven Kruijswijk (ai aquela queda no Coll dell'Agnello!). Porém, o Giro apresentou a nova geração de voltistas a começar pelo holandês. Tem 29 anos e claramente atingiu a sua maturidade, pelo que o homem da Lotto-Jumbo é um ciclista a ter em atenção. Além de ter a oportunidade de mostrar que o que fez em Itália - liderou durante vários dias, até que uma queda acabou por tirá-lo inclusivamente do pódio - não foi um acidente, Kruijswijk pode mostrar-se ao lado dos considerados melhores do mundo. E o holandês é mesmo um ciclista a ter em conta. A equipa aposta de tal forma nele que até Robert Gesink - que falhou o Tour por lesão - terá de se satisfazer por um papel secundário e, claro, um plano B de luxo.

Johan Esteban Chaves (na fotografia) teve a vitória no Giro na mão, mas deixou-a fugir na última etapa. Teminou em segundo e com 26 anos confirmou que a Orica-BikeExchange tem mesmo um voltista colombiano de qualidade. Foi precisamente há um ano, na Vuelta, que Chaves se apresentou ao mundo. Ganhou duas etapas, andou vários dias na liderança, terminando depois em quinto. No Giro confirmou e agora chegou o momento de se assumir como um candidato. Porque não? Terá a seu lado Simon Yates, que depois da confusão do doping, por erro do médico - que lhe valeu uma curta suspensão -, está na Vuelta para se mostrar, mas não será de surpreender que acabe por ser uma ajuda importante a Chaves.


Ainda dos homens do Giro, John Darwin Atapuma terminou a competição muito bem. Na Vuelta o veterano de 38 anos Samuel Sánchez surge como número um da BMC, enquanto Tejay van Garderen - mais um que não se quer lembrar do Tour - diz que vai ter uma táctica diferente e não apostar na classificação geral. Porém, Atapuma pode ser uma carta importante, se estiver para aí virado. O problema do colombiano é que tanto aparece em grande, como nem nos lembramos que está em prova. Mas Atapuma tem qualidade para lutar pelo menos por um top dez, se não ficar preso ao apoio a Sánchez, que tem um gosto especial pela Vuelta, naturalmente, e não há idade que o páre.

A Astana não vem este ano à Vuelta com uma aposta forte, depois de há um ano ter vencido com Fabio Aru. O jovem italiano esteve no Tour, tal como Nibali, que ainda tinha participado no Giro. As estrelas da equipa ficam de fora da última grande Volta do ano. A equipa cazaque dá assim o número um ao experiente Michele Scarponi, talvez mais por respeito (que é muito bonito). Porém, as atenções serão quase todas para mais um jovem colombiano: Miguel Ángel López (22 anos), vencedor da Volta à Suíça.

Também a Katusha se vê orfã de líder com a surpreendente decisão de Joaquim Rodríguez em já não participar na Vuelta, onde se pensaria que terminaria a carreira, depois de ter anunciado o adeus durante o Tour. A responsabilidade recai sobre Alberto Losada e Rein Taaramäe.

Se há ciclista que tem de se assumir como candidato é Andrew Talansky. Não quis nada com as outras grandes voltas e vai apostar tudo na Vuelta. Terá um infeliz Pierre Rolland (mais um que o Tour não foi nada simpático) a seu lado, mas também Joe Dombrowski e um ciclista em ascensão Benjamin King.

Depois há aqueles ciclistas que se terá de esperar para ver o que poderão fazer. Alguns passaram pelo Tour, outros não, mas a ter então em atenção (não necessariamente para uma vitória na geral): Mathias Frank (IAM), Thomas de Gendt (Lotto Soudal), Louis Meintjes (cada vez mais uma aposta da Lampre-Merida) e Igor Anton (Dimension Data).

Uma referência especial para Hugh Carthy. O jovem de 22 anos da Caja Rural está a caminho da Cannondale-Drapac, mas a equipa espanhola tem grandes esperança no britânico. Já se sabe como este equipa é uma animadora nata da Vuelta. Terá David Arroyo como líder e ainda José Gonçalves que lutará certamente por etapas.

Quanto a portugueses, serão cinco, mas já falaremos deles noutro texto: Mário Costa, Tiago Machado, Sérgio Paulinho, José Mendes e José Gonçalves.

Nelson Oliveira, que venceu uma etapa em 2015, ao serviço da Lampre-Merida, fica desta vez de fora, depois de ter estado muito bem na Volta a França na ajuda a Nairo Quintana, na Movistar.


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E entre as ausências mais notórias, já se referiu o pódio do ano passado, Vincenzo Nibali, o próprio Rui Costa  - ainda não é desta que o vemos na Vuelta - mas se calhar é Tom Dumoulin a que mais se estranha. Depois do brilharete em 2015, onde se chegou a pensar que poderia até conquistar a sua primeira Volta, o holandês não aparece entre os eleitos da Giant-Alpecin, que aposta em Warren Barguil, francês que ficou também ele aquém do se esperava no Tour e terá aqui uma segunda oportunidade para se mostrar em 2016.

Etapa 1: Ourense Termal / Balneario de Laias - Parque Náutico Castrelo de Miño (27,8 quilómetros)
Depois de duas grandes voltas sem contra-relógio por equipas, a Volta a Espanha começa desta forma. São quase 30 quilómetros planos e que obriga os candidatos a andar a fundo logo no primeiro dia para evitar perder tempo. A BMC assume-se desde já como forte candidata à vitória, assim como a Orica-BikeExchange, Movistar e Sky.

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