4 de julho de 2016

A sério Contador? A sério BMC?

Contador sofreu a segunda queda em dois dias no Tour (Fotografia: Team Sky)
Duas etapas e Alberto Contador só pode amaldiçoar a sua falta de sorte. Duas etapas, duas quedas e as dores a serem demasiado fortes para aguentar o ritmo dos melhores. O espanhol pode juntar-se a Richie Porte para lamentar as desgraças. É que enquanto um é perseguido por quedas, o outro é perseguido por furos. O australiano furou a cinco quilómetros do fim e a equipa abandonou-o. Há um ano, no Giro, teve o apoio da equipa e até de outra e por causa dessa ajuda foi penalizado em dois minutos. Este domingo cortou a 1:45 do vencedor. Contador ficou a 48 segundos.

É certo que falta muito muito Tour, mas estas situações são um duro golpe na motivação dos ciclistas. Contador quase parece estar mesmo amaldiçoado, mas Porte só pode estar furioso com uma BMC que o deixou sozinho. Ele, o dorsal um da equipa.

Começando por Contador. Caiu nas duas etapas. Na primeira afectou o lado direito do corpo e na segunda o esquerdo. Como irá reagir o ciclista é a grande questão. Há meses que o espanhol prepara esta Volta a França. Não a ganha desde 2009 (perdeu uma devido a uma acusação de doping) e o espanhol tem como grande objectivo de conquistar a sua terceira. Em 2014 também se apresentava em grande forma e uma queda atirou-o para fora da corrida, em 2015 estava demasiado cansado depois de fazer o Giro e não lutou pela vitória e 2016... a história ainda está por ser escrita e neste momento ou acontece algo de épico, ou Contador prepara-se para viver outra volta amarga.

Psicologicamente é um ciclista que tem tendência a lutar até lhe acabarem as forças, mas há muita curiosidade para ver como se irá comportar, numa altura em que poderá ter de lidar com uma ansiedade extra, afinal o azar está a persegui-lo. Só se poderá desejar que possa recuperar mentalmente e, claro, fisicamente, a tempo das principais etapas. De forte candidato à vitória na geral, Contador passou a ter um enorme ponto de interrogação sobre o que poderá fazer.

Líder? Não parecia

O que disse Richie Porte quando regressou ao autocarro? O que lhe disseram os responsáveis da BMC? Como seria bom saber. Porte não pode estar feliz. Aliás, se estiver furioso tem toda a razão. Como é possível que o dorsal número um tenha sido deixado à sua sorte a cinco quilómetros do fim após furar? A equipa americana traz dois líderes. Além de Porte, Tejay Van Garderen, visto há muito como o sucessor de Cadel Evans, mas que demora em atingir o nível do australiano.

Porém, a BMC mostrou quem afinal é o número um. Richie Porte ia muito bem colocado na aproximação à subida final. Um furo estragou-lhe a etapa, a BMC estragou-lhe o Tour. Ninguém ficou imediatamente para trás com Porte. O apoio neutro trocou-lhe a roda, numa operação nada célere... Tudo correu mal. Porte seguiu sozinho. Marcus Burghardt lá apareceu. Tarde, muito tarde.

Richie Porte é mais um a amaldiçoar a sua sorte e disse que o melhor é "fingir que não aconteceu". Impossível. Enquanto Contador precisa de recuperar mentalmente a força que o permita tentar ainda recuperar o tempo perdido, Porte terá de procurar conseguir psicologicamente sentir-se confortável numa equipa que tem todas as razões para desconfiar. Está em final de contrato e a vontade de renovar poderá estar a desvanecer-se. 

Pensou que tinha encontrado uma equipa para liderar, mas aparentemente enganou-se. Será difícil pensar que tudo não passou de um erro, de uma falta de comunicação. Passou demasiado tempo desde que furou até Burghardt aparecer para não ser mais do que uma decisão estranha da BMC.

De recordar que no Giro de 2015 - então na Sky -, Porte também furou e o compatriota Simon Gerrans deu-lhe uma roda. Porém, como era de uma equipa diferente, Porte foi penalizado pela organização e nunca mais recuperou psicologicamente dos dois minutos que lhe tiraram por causa de um furo. Acabou por abandonar depois de ter continuado a perder tempo.

À BMC resta-lhe esperar que Van Garderen confirme finalmente que pode apresentar-se como candidato forte na Volta a França.

Um Sagan distraído

Enquanto Contador sofria e Porte tentava recuperar tempo, um Peter Sagan sprintava para a vitória numa etapa que o pelotão enfrentou com uma calma desconcertante, que a certa altura parecia mesmo que a fuga iria vingar. Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) - o último resistente - só foi apanhado no último quilómetro. Mas Sagan não reparou. Quando cortou a meta parecia quase impávido e sereno. Como se fosse mais um dia. Atrás de si, Julian Alaphilippe (Etixx-QuickStep) batia com a mão no guiador, frustrado pelo segundo lugar. De Sagan não veio nem um festejo: não sabia que tinha ganho. O eslovaco tinha conhecimento de dois ciclistas fugidos na última subida, mas não se apercebeu que foram apanhados.

A forma como sprintou só comprova algo. A camisola verde é para ganhar. Pois pensava que pedalava para o terceiro posto e deu tudo para o conseguir. Portanto, vencer e vestir a amarela até teve um sentimento bem diferente perante a surpresa. E sim, é mais uma camisola para a colecção de Sagan. Este brilhante ciclista continua a escrever uma história muito própria no ciclismo. E acabou como o jejum de dois anos sem vencer no Tour. Soma agora cinco vitórias de etapas.

Dia emoções contraditóras para a Tinkoff: tem o líder desiludido, mas tem a superstar de amarelo. Oleg Tinkov não escondeu a satisfação de ver Sagan como líder da Volta a França.


Uma palavra para Julian Alaphilippe. Este francês, de 24 anos, parece destinado a grandes feitos. Falta saber como vai evoluir na carreira, se para um ciclista de três semanas, ou provas de um dia e de uma semana.

Etapa 3: Granville - Angers (223,5 quilómetros)



É novamente dia para os sprinters, com o Tour a dirigir-se mais para o interior de França. Etapa praticamente toda plana, exceptuando uma ou outra pequena subida no início. É a vez de Marcel Kittel, André Greipel, Mark Cavendish e os restantes sprinters voltarem a mostrar-se. Peter Sagan também deverá aparecer na luta e, se nada de anormal acontecer, tem garantido mais um dia de amarelo.


Résumé - Étape 2 (Saint-Lô / Cherbourg-en... por tourdefrance

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