(Fotografia: giroditalia.it) |
As atenções começam a centrar-se na Volta a França que se aproxima, mas o Giro ainda mexe. Ou mais correctamente, o Giro de 2017 já mexe. Não vai ser apenas mais uma Volta a Itália. Será a 100ª edição e o simbolismo do número exige algo mais, algo diferente, algo melhor. É para isso que a RCS Sports, empresa que organiza a competição, já trabalha. Mas não estamos a falar apenas de etapas do mais especial que se possa querer, estamos mesmo a falar de ter um pelotão que nos últimos anos apenas se vê no Tour.
Do pouco que já se sabe, a 100ª edição decorrerá toda em território italiano, passando pelas ilhas de Sicília e Sardenha (onde deverá começar), o que poderá motivar Vincenzo Nibali e Fabio Aru, que lá nasceram. A última vez que as duas ilhas foram visitadas na mesma edição foi na 50ª, em 1967. As cidades que receberam o Giro no seu primeiro ano também serão visitadas, como Milão, Bolonha, Génova, Florença, Nápoles e Roma. E como não poderia deixar de ser, a maioria das míticas subidas deverão fazer parte de um percurso que a organização quer tornar histórico. Mortirolo e Colle dell Finestre não deverão faltar.
Porém, a RCS Sports sabe que de pouco valerá um percurso fantástico se não tiver as grandes figuras do ciclismo mundial para o percorrer e, por isso, já se está a preocupar em fazer uma campanha de sedução, com Chris Froome, Nairo Quintana e Alberto Contador como principais alvos, mas não só.
É provavelmente a maior ambição dos últimos anos dos organizadores do Giro, ainda mais do que preparar o percurso de uma 100ª edição. "Nunca é fácil juntar todos os favoritos numa grande volta. O objectivo é fazê-lo no próximo ano porque é especial, visto ser a 100ª edição do Giro", salientou Mauro Vegni, director da RCS Sports, ao site Cycling News.
Há muito anos que a Volta a Itália tem sofrido com o destaque que o Tour tem. Os principais ciclistas do pelotão apontam à Volta a França e com apenas cerca de um mês para recuperar entre o fim do Giro e o início do Tour, são raros os que assumem o risco de fazer as duas corridas. Contador fê-lo há um ano. Venceu o Giro e não conseguiu ser um verdadeiro candidato no Tour. O próprio confessou recentemente que em 2015, por esta alto, estava "destruído" fisicamente. O último a ganhar as duas corridas foi Marco Pantani em 1998.
O sonho da RCS Sports parece ter tudo para ser impossível de se concretizar. No entanto, há factores que poderão jogar a favor do organizador do Giro. Chris Froome, por exemplo, nunca fechou a porta a participar na Volta a Itália e se voltar a sofrer os ataques de que foi alvo em 2015 (cuspidelas e mesmo agressões), até que ponto Froome não poderá pensar em tirar uma "folga" do Tour e fazer o Giro? Tendo em conta que vai sofrendo alguma pressão para vencer outra grande corrida de três semanas, a Volta a Itália poderá ser muito tentadora, dependendo do percurso, principalmente no que diz respeito aos contra-relógios.
Quintana e Contador serão casos mais complicados. Ambos já venceram o Giro e o colombiano está muito focado no Tour. Quando em 2014 foi escalado para a Volta a Itália, enquanto Valverde foi o líder para o Tour, Quintana não ficou particularmente satisfeito, mas a equipa prometeu-lhe ser o número um no ano seguinte. Mesmo não estando muito feliz, o colombiano respondeu com o triunfo, mas a sua prova de eleição é o Tour. Será difícil mudar as suas ideias.
O mesmo deverá acontecer com Contador. Voltou atrás na decisão de se retirar e agora procura equipa já que a Tinkoff acaba no final do ano. O espanhol já avisou que seja uma equipa nova ou uma existente, terá de ter a capacidade de lutar... pelo Tour.
Vincenzo Nibali será presença quase garantida - independentemente da equipa que esteja a representar, a 100ª edição será irresistível para o Tubarão -, já Fabio Aru poderá ser tentado, ainda mais com o início na "sua" ilha. Sendo ainda um ciclista novo (25 anos), Aru também poderá pensar que terá tempo para atacar o Tour (para o qual é um dos candidatos já este ano).
Quem poderá tentar uma última vez é Joaquim Rodríguez. Aos 37 anos, o espanhol não dá mostras de querer retirar-se, portanto não será surpresa vê-lo pelo menos em 2017. Este ano vai insistir no Tour, mas para quem ainda sonha com uma vitória numa grande volta, conseguir numa 100ª edição do Giro (que já esteve tão perto de ganhar em 2012, quando perdeu no contra-relógio para Ryder Hesjedal)... será algo a ser certamente ponderado, mesmo que Ilnur Zakarin também esteja na Katusha.
Richie Porte e Tejay Van Garderen serão outros potenciais alvos da organização. Os homens da BMC vão os dois ao Tour este ano, mas a equipa poderá sentir-se tentada a colocar um deles - provavelmente Porte - no Giro, fortalecendo uma equipa que dependeu de Atapuma para se ver um pouco na prova deste ano.
Os franceses, como Thibaut Pinot ou Warren Barguil preferem, compreensivelmente, o Tour, mas a edição especial do Giro contará, quase de certeza, com os que se têm revelado nesta prova, casos de Steven Kruijswijk, Johan Esteban Chaves, o já referido Zakarin e Bob Jungels. É ainda provável que Valverde possa regressar já que a primeira experiência acabou com uma vitória de etapa e o pódio.
A missão é difícil, mas irá gerar enorme curiosidade. Ter os maiores nomes numa competição que nas últimas edições tem sido palco de bons espectáculos - mesmo sem as principais referências - que tem características diferentes do Tour, com as etapas a terem tendência a serem mais atacadas... se o objectivo for concretizado, será um Giro com um potencial de ser realmente memorável.
Há ainda um outro factor a ter em conta: o desentendimento entre UCI e ASO (organizador do Tour) quanto aos novos regulamentos ainda não está resolvido. A ASO já ameaçou tirar as suas provas do World Tour. Se tal acontecer, muita coisa pode mudar. Mas se tudo ficar resolvido, então a Volta a França terá sempre um peso que o Giro e a Vuelta não conseguem alcançar... mesmo se sair do World Tour. E não há patrocinador que não queira o seu nome a ser visto na "La Grand Boucle".
O Giro de 2017 está agora a começar.
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