Oleg Tinkov tem sido uma das vozes mais críticas
do actual modelo do ciclismo (Fotografia: Wikimedia)
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O anúncio de Oleg Tinkov em acabar com a sua equipa no final do ano fez soar o alarme no World Tour. Afinal é uma das melhores equipas, com mais dinheiro e com dois dos melhores e mais populares ciclistas mundiais: Alberto Contador e Peter Sagan. Além, claro, de outros de grande qualidade. Durante a Volta a Itália, a IAM noticiou que fecha as portas em 2016. Não se pode dizer que foi uma surpresa, mas a saída da equipa suíça aumentou o volume do alarme. O principal escalão vai perder dois conjuntos e apesar de candidatos a preencher esses lugares, o pedido de mudanças no ciclismo - com Tinkov como voz de destaque - ganha outra relevância.
O ciclismo está constantemente em crise. A diferença para os momentos em que a economia está pior é a maior dificuldade em encontrar patrocinadores. Mas a verdade é que os directores das equipas estão constantemente preocupados em garantir que há dinheiro a entrar. O modelo do ciclismo tem sido este, mas talvez tenha chegado o momento de mudar um pouco as coisas.
Da UCI espera-se que em breve anuncie como será 2017, pois o desentendimento com a ASO - empresa que organiza a Volta a França, Paris-Roubaix, Critérium du Dauphiné e outras provas importantes do World Tour - está a criar tensão no pelotão mundial. A indefinição não ajuda a quem tem de trabalhar para angariar patrocínios. Se não se sabe como será o próximo ano, torna quase impossível vender o seu "produto".
Enquanto se aguarda pela UCI, mais notícias desanimadoras vão surgindo. Agora é a Lotto Soudal que está em risco. A equipa mais antiga do pelotão - mantém-se na estrada desde 1985 - arrisca perder o apoio estatal que tem sustentado o conjunto belga. A necessidade de cortar gastos nos dinheiros públicos está a colocar em causa o apoio.
E ainda se tem Oleg Tinkov a lançar achas para a fogueira. O magnata russo afirmou que tem a certeza que a BMC e a Katusha vão fechar as portas brevemente. Sem ter adiantado pormenores, Tinkov voltou a referir como o actual modelo está errado. "A modalidade está numa enorme crise e se a ASO não concordar em partilhar com as equipas os direitos televisivos, as coisas nunca mudarão. Poderá mudar a modalidade, mas até acontecer, teremos escândalo atrás de escândalo, colapso atrás de colapso. Não vejo futuro na modalidade neste modelo", afirmou Tinkov, citado pelo site Cycling News.
Tinkov defende então, entre outras ideias, a distribuição dos direitos televisivos pelas equipas, como acontece na Fórmula 1, por exemplo. A pretensão é legítima, precisamente porque noutras modalidades é uma situação absolutamente normal. No ciclismo, mais do que nunca será um assunto cada vez mais em cima da mesa, tendo em conta que de ano para ano as transmissões vão aumentando e Portugal é um exemplo disso.
Outra ideia, mas que não recolhe grande apoio, é a venda de bilhetes, para certas zonas dos percursos. Sendo o ciclismo um desporto desde sempre muito perto do povo e que ainda hoje, apesar das grandes estrelas que tem, continua a ter uma aproximação sem igual dos adeptos. Obrigar a pagar seria algo muito mal recebido.
2016 ameaça ser um ano de mudança. Este século ficou desde logo marcado pelas profundas mudanças no combate ao doping. Actualmente há a preocupação com os constantes acidentes com motos e carros nas corridas. Mas ninguém nega a necessidade de alterações ainda mais profundas, como é o caso do modelo de gestão, de forma a garantir a continuidade das equipas e o proporcionar aparecimento de novas.
Respeita-se o profissionalismo e a necessidade de gerir uma equipa, que não deixa de ser um negócio, mas espera-se sempre que se mantenha a génese do ciclismo, que tem a capacidade de arrastar multidões para as bermas das estradas para muitas vezes ver o pelotão por breves instantes, depois de horas de espera. Os adeptos também fazem a modalidade.
No entanto, há que salientar um factor importante: crise, escândalos, tudo tem abalado o ciclismo desde sempre, mas esta modalidade tem uma capacidade enorme de sobreviver, muito devido às paixões que move.
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