(Fotografia: giroditalia.it) |
Nesta Volta a Itália não há previsões que resistam. Não há conhecimento da modalidade que resista. Este Giro é simplesmente louco. O que parece num dia, não é no outro. Não há vantagens que sejam seguras, não há camisola rosa garantida... até este sábado. Tem tudo para ser uma penúltima etapa épica e é, provavelmente, o único prognóstico possível de se fazer. Quanto ao que se vai passar... É a indefinição total e neste Giro a tendência tem sido para grandes surpresas. Será que a 21ª tirada nos reserva uma última?
Não se faz um balanço antes do final, mas uma coisa se pode dizer: a Volta a Itália está a ser espectacular. É tudo o que se pede para uma prova de três semanas. Luta até ao fim, trocas de liderança, vencedores e recuperações inesperadas. Mas falta uma etapa para decidir quem conquista entre memorável Giro, quem no domingo terá a sua consagração.
Como uma queda muda tudo
Até à subida do Colle dell'Agnello tudo se encaminhava para mais uma demonstração da superioridade de Steven Kruijswijk. O holandês da Lotto-Jumbo estava confortável mesmo a subir até o ponto mais alto da Volta a Itália - 2744 metros - e até estava a deixar para trás a ameaça de Alejandro Valverde (Movistar). Como uma queda muda tudo...
Foi aparatosa - com direito a um mortal - e com efeitos dramáticos para Kruijswijk.
O holandês não conseguiu recuperar o tempo perdido. Demorou a recuperar a sua bicicleta e acabou por trocá-la. Foi este o momento que Kruijswijk precisava da sua equipa... Nem vê-la. Com três minutos de vantagem para Johan Esteban Chaves, Kruijswijk acabou o dia em terceiro e a 1:05. Recuperável, é certo, mas mais do que o tempo que perdeu, será decisivo o moral que desapareceu e um corpo com marcas da queda.
"Perdi o Giro. F*** tudo. Foi um erro estúpido na descida. Lixei tudo. Estava no meu limite no topo e queria alimentar-me e beber algo. Estava a seguir os outros, mas cometi um erro e acabei no monte de neve." O ciclista nem tentou esconder a sua desilusão e frustração. E continuou: "Sinto que magoei as minhas costelas e as minhas costas. No final estava com muitas dores. O meu moral está desfeito. Tentei dar tudo, mas o meu corpo dói-me muito e, por isso, acabou."
(Fotografia: giroditalia.it) |
Mostrando ser claramente o homem mais forte até ao momento da queda, já é triste ver Kruijswijk perder desta forma, mas será terrível se nem acabar um Giro que tinha tudo para ser seu.
Chaves recebeu o brinde
O colombiano ia dando indicações que o segundo lugar já lhe agradava, mas a desgraça de Kruijswijk permitiu a Johan Esteban Chaves chegar à camisola rosa, com 44 segundos de vantagem sobre Vincenzo Nibali. É o sétimo líder do Giro, mas corre um sério risco de o ser apenas por um dia.
A grande questão é: estará a Orica-GreenEDGE preparada para defender uma liderança? Chaves estava no Giro com aspirações a um top dez, talvez um pódio, mas dificilmente a equipa australiana pensava que poderia chegar à vitória. O colombiano foi contratado para isso mesmo, mas a Orica ainda não tem um conjunto para proteger um líder nas três semanas.
Para agravar, o colombiano fraquejou na última subida do dia, deixando Nibali recuperar muito tempo e não é a primeira vez neste Giro que o vemos sem capacidade para andar ao ritmo dos melhores, apesar de estar a realizar uma prova excelente. É o momento para Chaves se transcender se quiser ganhar a Volta a Itália.
O derrotado e o azarado
Se Kruijswijk sente-se derrotado, Valverde não se pode sentir muito melhor. Grande altitude não é com o espanhol. Não foi a primeira vez que o vimos sofrer acima dos 1500/2000 metros. Saiu do pódio e está a 1:48 do líder. Poderá ainda ficar nos três primeiros, ainda mais com a dúvida sobre a condição física de Kruijswijk. Até poderá ganhar, porque não, afinal os milagres parecem ser possíveis no Giro. Que o diga Nibali!
O azarado é mesmo Ilnur Zakarin. O ciclista russo da Katusha estava também ele a realizar uma excelente Volta a Itália. As duas quedas no contra-relógio de 40,5 quilómetros - feito debaixo de chuva - colocaram-no fora da luta pela vitória, mas Zakarin ainda não tinha desistido da ideia de chegar ao pódio. Esta sexta-feira teve também ele uma queda aparatosa. Foi parar fora da estrada e assustou. Abandonou, mas fisicamente foi "apenas" uma clavícula partida.
Aí está Nibali
(Fotografia: giroditalia.it) |
A Astana até tinha começado o dia com o objectivo de ganhar a etapa com Michele Scarponi. Não podem só dizer que era táctica ter o veterano ciclista na frente, pois com mais de quatro minutos de vantagem, quase que parou para esperar por Nibali. Mas aquela queda mudou mesmo tudo. De repente, Nibali pedalava para ganhar o Giro e era notório que ganhar a etapa era apenas um bónus. A forma como subiu a primeira categoria até à meta em Risoul era de um homem determinado. Um homem com uma missão.
No final, a emoção tomou conta de Nibali, que ainda na sua bicicleta, chorou e libertou toda a tensão que claramente se apoderava dele, depois de momentos em que claudicou e pareciam ter terminado com a possibilidade de vencer o Giro.
Le lacrime di Nibali dopo l'impresa di Risoul por giroditalia
Afinal, os milagres podem acontecer, mas o Tubarão terá de este sábado de voltar a atacar como se não houvesse amanhã... que não há mesmo. É agora ou nunca para assinar uma recuperação que, a acontecer, terá tanto de inesperada como de memorável.
Giro d'Italia 2016 - Stage 19 highlights por giroditalia
Confira os resultados da etapa e as classificações.
Etapa 20: Guillestre - Sant' Anna di Vinadio (134 km)
Não é muito normal nos últimos anos chegar à etapa decisiva de uma grande volta com quatro ciclistas ainda com hipótese de ganhar. Vamos incluir Valverde, porque perante tudo o que aconteceu neste Giro, há que acreditar que tudo é possível.
Serão quatro montanhas, três de primeira categoria e uma de terceira para terminar. Duas delas ultrapassam os dois mil metros de altitude, a outra fica lá perto. A descida depois do Col de la Bonette será longa e exigirá muita atenção, ainda que a última do dia, mesmo sendo mais curta, não será menos difícil. As pendentes médias das três subidas de primeira categoria rondam os 6/7%, mas, como não podia deixar de ser, têm metros acima dos 10%. O pelotão não terá facilidades e os ataques poderão surgir a qualquer momento.
É o grande final. E pede-se algo épico para terminar em grande esta fantástica Volta a Itália.
Giro d'Italia 2016 - Stage 20 por giroditalia
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