O algarvio sempre teve ambição de alcançar algo grande na sua carreira. Sonhou com a possibilidade de chegar ao World Tour um dia. Com a CCC concretizou esse sonho e esteve numa grande volta, o Giro. A experiência não correu como desejaria e regressou a Portugal, à W52-FC Porto onde há dois anos viveu a sua melhor época. Aquela vitória no Malhão, na Volta ao Algarve foi marcante. Mas faltava-lhe a Volta a Portugal.
Desde os seus tempos de júnior que Amaro era visto como um ciclista com potencial. Não demorou a mostrar as suas características de trepador nato e a sua evolução em Portugal foi acompanhada sempre com atenção. Em 2013 apostou numa ida para o estrangeiro. A italiana Ceramica Flaminia-Fondriest tinha como objectivo apostar em jovens. Além de Amaro, passaram por lá Pedro Paulinho (Efapel), Rafael Reis (Feirense) e António Barbio (já se retirou). A experiência não foi nada do que os ciclistas esperavam.
Banco BIC-Carmin e depois LA Antarte, Amaro continua a mostrar como poderia ser um líder com capacidade para disputar a Volta. Chegou então 2017, o ano em que tudo mudou. Na W52-FC Porto, o algarvio deu o salto que há muito se esperava. Além do triunfo no Malhão, conquistou o Troféu Joaquim Agostinho, venceu na etapa da Serra da Estrela na Volta a Portugal, foi segundo e o rei da montanha. E ajudou Raúl Alarcón a vencer a corrida.
Veloso venceu o contra-relógio final de Lisboa, mas vê um companheiro ganhar. Primeiro Rui Vinhas, agora Amaro Antunes. Aos 40 anos surgiu muito competitivo, mas o tri continua a escapar-lhe. Se concretizar a anunciada despedida, Veloso fez a sua última tentativa.
Quanto a Amaro, aos 29 anos, o algarvio cumpre um objectivo de carreira. As lágrimas foram dando lugar ao sorriso. A festa em Lisboa de ser contida. As restrições devido à pandemia assim o exigiram. Mas numa edição que foi apelidada de Especial, Amaro colocou o seu nome entre os vencedores da Volta a Portugal.
E já são oito
O domínio da W52-FC Porto continua. Antes da Volta, nas poucas corridas realizadas em 2020, a formação de Nuno Ribeiro não somava qualquer triunfo. Como sempre, apresenta-se na Volta, mesmo numa altura diferente do ano do habitual, fortíssima. Se em 2019 só garantiu o triunfo na última etapa, desta feita o grande passo foi dado logo ao terceiro dia, na Senhora da Graça. Com Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) a ser o mais directo rival (de uma equipa diferente), desde a Serra da Estrela que se percebeu que seriam Amaro e Veloso a provavelmente discutir a vitória no contra-relógio.
O espanhol recuperou algum tempo. Começou a 1:13, terminou a 42 segundos. Amaro fez mesmo um grande contra-relógio, pois no prólogo tinha perdido 32 segundos em sete quilómetros. Desta feita foram 31 em 17,7 quilómetros. A diferença que faz na motivação e na força mental (às vezes mais do que na física) ter vestida uma camisola amarela.
Com este triunfo, a equipa do sobrado eleva para oito as vitórias consecutivas na Volta, um domínio que começou com Alejandro Marque, continuou com Gustavo Veloso (duas vitórias), teve em Rui Vinhas a maior surpresa, Raúl Alarcón venceu mais duas vezes para a equipa, João Rodrigues foi o herói da Avenida dos Aliados, antes de Amaro continuar a senda.
De referir que, por equipas, são sete as vitórias consecutivas e com o FC Porto como patrocinador - e nestes momentos as alusões ao futebol dificilmente ficam de lado - a equipa fez o penta! Veloso venceu o prólogo e o contra-relógio final, Amaro foi o mais forte na Senhora da Graça, ou seja, três vitórias para a equipa, que vestiu a amarela do primeiro ao último dia (dois com Veloso e os restantes com Amaro).
Terminada a Edição Especial, a pergunta que tanto se coloca há anos, continua sem resposta: quem bate a W52-FC Porto na Volta a Portugal?
As camisolas e um merecido pódio
O jovem Hugo Nunes, da Rádio Popular-Boavista, levou para casa a camisola da montanha, enquanto Luís Gomes, o rei desta classificação em 2019, conquistou desta feita a dos pontos, numa excelente Volta para a Kelly-Simoldes-UDO - Gomes venceu ainda a etapa de Viana do Castelo. O britânico da Nippo Delko One Provence, Simon Carr, foi o melhor na juventude, batendo o francês Matis Louvel, da Arkéa Samsic, por 11:08 minutos. José Azevedo regressou a Portugal como director desportivo desta equipa e sai da Volta satisfeito com o seu jovem atleta, de 22 anos.
De referir ainda Frederico Figueiredo. Não conseguiu segurar o segundo lugar, mas ficou num mais do que merecido pódio. Foi ele que arriscou com um ataque de longe na Senhora da Graça, ainda que depois na Serra da Estrela não tenha conseguido fazer a diferença que queria. O senhor regularidade do pelotão, que tantos top dez soma, conseguiu em 2020 a sua primeira vitória como profissional, ao vencer uma etapa e a geral no Troféu Joaquim Agostinho e foi terceiro na Volta. Finalmente a equipa apostou nele como líder e eis o resultado.
Classificações completas, via FirstCycling.
(Fotografias: © João Fonseca Photographer)
»»Amaro Antunes mais perto da vitória, mas ainda há uma ameaça««
Na minha infância comecei a gostar desta modalidade e da Volta a Portugal, era fã do Joaquim Gomes e uma das voltas que gostei mais foi a luta entre Orlando Rodrigues, Joaquim Gomes e Vitor Gamito. Ao longo dos anos tenho visto mais ciclismo como as grandes voltas, classicas e provas de uma semana, se dá na tv então é para ver. Mas ao mesmo tempo o meu encanto pela Volta a Portugal tem perdido cada vez mais. É com grande tristeza que podiamos ter uma grande volta internacional mas contentamos com uma prova com baixa qualidade que ano após ano tem praticamente com as equipas portuguesas a fazerem figura e as equipas estrangeiras que cá vem por norma parecem mais interessadas em dar experiência aos seus ciclistas sem que tenham grande impacto durante a prova. A VOLTA a Portugal merecia mudar e tirar aquele colete de forças que tem estado ano após ano, deveria ser uma prova a promover o turismo e ser vista pela europa fora, esse é que devia ser objectivo da Volta. Gostava que colocasse em causa várias decisões por exemplo temos a volta em Agosto? Mas será que uma prova por semana entre o Tour e a Vuelta funciona ou o calendário é muito prejudica a inscrição de equipas principalmente devido à temperatura que ocorre em Agosto? Talvez outra altura ? Por exemplo em Junho (aproveitando feriado 10 de Junho e a epoca dos santos populares). Mudanças são necessárias para trazer a Volta a Portugal a ser relevante outra vez. Já agora o Norte de Portugal e a região de Galiza poderiam organizar uma prova entre eles, pois promovia o turismo em ambos paises, seria uma prova do estilo Benelux. Somente acho que temos excelentes condições para ter grandes provas em Portugal por etapas ou até clássicas como se vê na Belgica. Dizem que o motivo é a falta de capacidade financeira para organizar essas provas e eu entendo, mas manter como está não vejo o ciclismo português a melhorar ou até das as minhas condições aos ciclistas portugueses como há 20 ou 30 anos atrás.
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