13 de outubro de 2020

Assim nasce um líder

© Fabio Ferrari - Pool/Getty Images/
Deceuninck-QuickStep
Se há uma coisa certa numa Volta a Itália (e também numa Vuelta) é que assumir que se vai ter um dia calmo nunca é boa ideia. Inicialmente parecia que ia ser uma disputa entre quem está interessado na classificação dos pontos. Depois, Arnaud Démare (o dono da camisola ciclamino) deu ordem para a Groupama-FDJ não gastar forças na perseguição a Peter Sagan, que entrou na fuga. Contudo, os últimos 30 quilómetros foram simplesmente de loucos!

De certa forma até parece estranho não se destacar como Sagan finalmente regressou às vitórias e em grande estilo. Porém, não é todos os dias que se tem um português de camisola rosa e esta terça-feira, João Almeida mostrou que está feito num líder de muito, muito respeito. O que fez na 10ª etapa o jovem de apenas 22 anos, no seu ano de estreia no World Tour e na sua primeira grande volta - nunca é de mais recordar estes pormenores -, foi de um ciclista que está determinado em lutar pela vitória e que transmite confiança à sua equipa.

João Almeida está em terreno desconhecido. Nunca competiu numa corrida com tantos dias. Depois da folga, o português passou uma mensagem muito importante aos colegas da Deceuninck-QuickStep: podem contar com ele. Sem Remco Evenepoel, a equipa deu liberdade aos seus atletas para procurem os seus resultados no Giro, com o sprint a ser a principal aposta. No entanto, o espírito de sacrifício entre os ciclistas da formação belga veio novamente ao de cima com a prestação do português.

Com Almeida de rosa, a equipa não se preocupa em proteger Álvaro Hodeg ou Davide Ballerini, nem em entrar em fugas para ganhar etapas. Almeida demonstra que é um líder merecedor deste sacrifício de glória pessoal. Hoje deu mais uma prova. A equipa trabalhou muito bem durante a etapa, mas quando foi necessário o camisola rosa assumir a responsabilidade, Almeida fê-lo. E que exibição de nível apresentou! Assim nasce um líder.

Mais uma vez não entrou em pânico quando Pello Bilbao acelerou e lançou a confusão no grupo de favoritos. O espanhol da Bahrain-McLaren tinha 39 segundos de desvantagem (é terceiro) para o português. Foram 20 quilómetros a um ritmo infernal. Ao perceber que tinha de ser ele a assumir a perseguição, também atacou. Reitera-se o que já aqui se escreveu em dias anteriores: Almeida não é um líder por acaso.

Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) - que também tentou mexer na corrida - disse, na segunda-feira, que não sabia o que esperar do ciclista da Deceuninck-QuickStep. Provavelmente nem o próprio João Almeida consegue prever o que se irá passar nos dias que falta. Porém, ficou claro que podem esperar do português um ciclista que vai dar luta. Top 10, pódio, ou mesmo a vitória (ainda é cedo, mas porque não assumir a possibilidade)... Ninguém vai perder de vista o jovem das Caldas da Rainha.

E só para que não restassem dúvidas de como Almeida está bem, ainda foi sprintar pelos segundos de bonificação. Não só não perdeu tempo para ninguém - Nibali e Wilco Kelderman (Sunweb) bem tentaram - como ainda ganhou quatro segundos!

A senda de rosa continua...

© BORA-hansgrohe/Bettiniphoto & VeloImages
E agora Sagan

Não foi ao sprint, mas ao estilo de uma clássica. Sagan adoptou uma táctica diferente nesta 10ª etapa (Lanciano - Tortoreto, 177 quilómetros). Muito sobe e desce, a chuva a marcar presença na parte final e Sagan arrancou determinado a acabar com um jejum que durava desde o Tour de 2019.

A fuga, em que não esteve sozinho, tão rapidamente parecia que ia singrar, como foi apanhada quando os ataques no grupo dos favoritos começaram. Mas não Sagan. Foi sozinho pela estrada fora, determinado... aquele Sagan de outros tempos. Já se tinha saudades.

Um peso saiu dos ombros deste ciclista, que em 2020 fez 30 anos e 10 como profissional. Está fechado o pleno de vitórias em grandes voltas. Faltava o Giro. Até sacrificou as clássicas do pavé para estar em Itália e o espectáculo nesta etapa compensará um pouco não estar na Volta a Flandres, no próximo domingo.

Com Démare a deixar escapar Sagan, o eslovaco reentrou ainda na luta pela maglia ciclamino, estando agora com 20 pontos de diferença. Ruben Guerreiro também mantém a camisola azul da montanha, enquanto Almeida acumula a rosa com a branca da juventude, que esta quarta-feira será vestida, por empréstimo, por Jai Hindley (Sunweb), que subiu ao segundo lugar desta classificação.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

Jumbo-Visma e Mitchelton-Scott fora do Giro

A pandemia tornou-se novamente bem real no ciclismo. Depois de um Tour sem casos entre os ciclistas, entre os testes realizados domingo e segunda-feira houve resultados positivos. Simon Yates já tinha ido para casa antes da folga, mas com mais quatro casos entre membros do staff, a Mitchelton-Scott saiu da Volta a Itália.

A Jumbo-Visma não arriscou. Steven Kruijswijk deu positivo e a equipa retirou-se de imediato. O Giro perde assim mais um dos seus favoritos. Michael Matthews também está em isolamento depois do teste positivo, mas a Sunweb continua em prova. Ineos Grenadiers e AG2R tiveram um caso cada entre membros do staff.

O receio é grande e o controlo vai apertar. Teme-se que a Volta a Itália possa não chegar a Milão, no dia 25.

Pode ler mais sobre este receio da organização do Giro neste link.

11ª etapa: Porto Sant'Elpidio - Rimini, 182 quilómetros

É dia para Arnaud Démare tentar recuperar alguma da vantagem perdida para Peter Sagan e procurar a quarta vitória de etapa no Giro. Ou será que é desta que Fernando Gaviria (UAE Team Emirates) aparece?

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