2 de setembro de 2020

Alaphilippe perdeu a camisola amarela (afinal aconteceu algo na quinta etapa)

© ASO/Alex Broadway
Uma situação que custa a entender custou a camisola amarela a Julian Alaphilippe. Num dia em que o vento poderia provocar alguns problemas, afinal nem foi muito forte, mas nem assim o pelotão se preocupou em fazer desta etapa uma minimamente interessante. Valeram os 10 quilómetros finais e o sprint. Ou assim se pensava. Afinal, com cerca para 17 quilómetros do fim, um pequeno gesto acabaria por se tornar na história do dia. Julian Alaphilippe recebeu um abastecimento ilegal, foi sancionado com 20 segundos e entregou de bandeja a camisola amarela a Adam Yates.

O abastecimento não era permitido nos 20 quilómetros finais, mas as imagens televisivas não deixam dúvidas. Alaphilippe recebeu um bidão de um membro do staff da Deceuninck-QuickStep já dentro desse limite. Um erro que custou muito caro. A equipa ainda tirou uma fotografia orgulhosa por Sam Bennett ter vestido a camisola verde - mais um estranho pormenor do dia: Peter Sagan perdeu a verde (!) - e de ter Alaphilippe de amarelo. Mas afinal, a liderança está agora a 16 segundos, com o francês a cair para a 16ª posição na geral.

Uma desilusão para Alaphilippe, mas que preferiu olhar para a frente e para a possibilidade de continuar a ser uma das figuras do Tour. Disse mesmo que amanhã não se falaria mais nisso, numa etapa em que é novamente apontado como candidato à vitória.

O director desportivo Tom Steels admitiu o erro, justificando com dificuldades em escolher um local seguro para poder abastecer os ciclistas naquela zona do percurso (vídeo em inglês).


A Deceuninck-QuickStep vai ser forçada a ainda mais trabalho se quiser recuperar já a amarela. Não pode "apenas" controlar. A acção irá decorrer toda nos últimos 50 quilómetros, com duas terceiras categorias e uma primeira. Haverá ainda segundos bónus na última subida (oito, cinco e dois). A Alaphilippe não basta a vitória de etapa, terá de ser aquele ciclista que em 2019 deslumbrou se quer recuperar rapidamente a camisola amarela.

Já para Adam Yates é um dia de orgulho, mas com uma sensação algo estranha, como foi, aliás, todo o dia. O britânico da Mitchelton-Scott admitiu que não era assim que queria vestir a camisola amarela. Realçou que esta quinta-feira ia tentar ganhá-la a Alaphilippe. Mesmo sendo líder, Yates - um vencedor da juventude no Tour e quarto classificado, mas que está a demorar a confirmar credenciais na luta pela geral das grandes voltas -, afirmou que vai manter-se fiel ao plano: ganhar etapas. A amarela é algo para mostrar enquanto for possível.

Dia estranho

Foi assim a etapa quase toda. Até deu para pôr a conversa em dia entre os ciclistas
© ASO/Alex Broadway
É o que se pode dizer desta quarta-feira no Tour. Foi um dia estranho. O pelotão fez uma espécie de pacto de não agressão. Ninguém sequer atacou para uma fuga. 183 quilómetros entre Gap e Privas que deram para mais do que para fazer uma sesta. Quase deu para colocar o sono em dia!

O dia foi tão estranho que o prémio da combatividade foi entregue a Wout Poels (Bahrain-McLaren), que passou grande parte da etapa na parte de trás do pelotão. Um prémio por continuar em prova depois de partir uma costela e sofrer uma contusão pulmonar numa queda na primeira etapa.

Nos últimos 50 quilómetros lá se aumentou um pouco o ritmo (no final foi de 42,01 quilómetros/hora). Mas foram nos últimos dez que todos tiveram de se preocupar com a corrida. A Ineos Grenadiers acelerou e bem, provocando cortes no pelotão, com a ajuda do vento. Não houve continuidade no trabalho, pelo que a maioria dos que chegaram a perder o contacto com o pelotão, conseguiram regressar.

© ASO/PresseSports/Bernard Papon
E depois o sprint. A Sunweb foi a única equipa que conseguiu fazer o comboio para o seu sprinter. Cees Bol começa a ameaçar ganhar, mas Wout van Aert está simplesmente incrível. Um dia depois de trabalhar de forma perfeita para Primoz Roglic ganhar na primeira chegada em alto do Tour, o belga conquistou a sua etapa, repetindo o sucesso de 2019.

Strade Bianche, Milano-Torino, etapa e classificação dos pontos no Critérium du Dauphiné, campeão nacional de contra-relógio e agora etapa no Tour. Que 2020 memorável está a ter Van Aert. Ganha e ajuda a ganhar. A Jumbo-Visma tem mesmo um super ciclista.

Classificações complestas, via ProCyclingStats.

6ª etapa: Le Teil - Mont Aigoual, 191 quilómetros


Percurso sem dificuldades até aos 50 quilómetros finais. A situação de Julian Alaphilippe poderá alterar um pouco os planos para a etapa, mas os principais candidatos deverão ficar mais na expectativa, do que pensar em ataques. Claro que se repetir uma situação como a de terça-feira, cuidado com Primoz Roglic. Poderá ser um bom dia para uns ciclistas mais atrasados na classificação arriscarem uma fuga e talvez "terem autorização" do pelotão para disputar a vitória.

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