Placa de homenagem a Casartelli no local onde modrreu © Peter Krsko, Slovakia/Wikimedia Commons |
A imagem de Fabio Casartelli no chão, inerte, a sangrar da cabeça, é ainda hoje uma das mais fortes, pelos piores motivos, da Volta a França. Estávamos a 18 de Julho de 1995, na etapa rainha do Tour, com o Tourmalet como principal referência de um dia complicado.
Os ciclistas tinham ultrapassado os primeiros 30 quilómetros dos 207, quando, numa descida em que terão atingido os 80 quilómetros/hora, alguns corredores caem. Houve quem não ficasse nada bem tratado, mas foi Casartelli que acabaria por morrer num momento que viria impulsionar definitivamente uma das maiores e mais importantes mudanças no ciclismo: a utilização do capacete.
Ainda se teria de esperar oito anos e mais um atleta morreria até que o capacete se tornou finalmente obrigatório. Porém, o acidente de Casartelli e aquela imagem do ciclista a sangrar no alcatrão não seria esquecida e lançou definitivamente a discussão.
Um jovem campeão olímpico
Casartelli estava a menos de um mês de celebrar 25 anos e preparava-se para ser pai. Já não era nenhum desconhecido no pelotão. Em 1992, o jovem italiano sagrou-se campeão olímpico nos Jogos de Barcelona.
As suas qualidades levaram-no até à Motorola, equipa americana que contava com nomes como Lance Armstrong, George Hincapie e Bobby Julich, todos ainda numa fase inicial das suas carreiras, tal como o belga Axel Merckx. Uma das referências era o britânico Sean Yates, então um veterano de 35 anos.
Havia destacado-se enquanto amador, com algumas vitórias. A nos Jogos Olímpicos abriu-lhe as portas do profissionalismo. Representou a Ariostea, a ZG Mobili, antes de chegar à Motorola.
Aquele Tour...
Monumento de homenagem a Casartelli no Col Portet D'Aspet
© HubertduMaine/Wikimedia Commons |
Era a segunda Volta a França da curta carreira de Casartelli. Na descida em Portet D'Aspet, na 15ª etapa, o italiano perderia a vida. A assistência médica não demorou e o ciclista foi transportado de helicóptero para o hospital. O site da Marca recorda como Casartelli teve de ser reanimado três vezes durante a viagem. Pouco depois de chegar ao hospital de Tarbes, o ciclista morreu.
Os directores desportivos foram sendo informados do trágico desfecho. Entre os ciclistas, alguns foram descobrindo à medida que cortaram a meta em Cauterets, outros foram sabendo da notícia durante a etapa. A vitória de Richard Virenque, a exibição de Miguel Indurain que o deixaram mais perto do seu quinto Tour, ficaram em segundo plano.
No dia seguinte os ciclistas foram para a estrada, mas numa etapa neutralizada. No início, em Tarbes, houve um minuto de silêncio. Na meta, em Pau, os corredores da Motorola passaram na frente. Apesar de não haver classificação, o prémio monetário foi entregue. Recebeu-o a família de Casartelli.
Dois dias depois, Lance Armstrong venceu em Limoges, numa etapa que se diz que Casartelli teria tido liberdade para procurar a vitória. O americano terminou apontando para o céu, numa vitória que ainda resta no seu currículo, após a sanção que viria a ser alvo.
Pensée pour Fabio Casartelli, décédé il y a 25 ans aujourd'hui.— Tour de France™ (@LeTour) July 18, 2020
Tribute to Fabio Casartelli, who died 25 years ago today. pic.twitter.com/kEoKUWoQZ8
Capacete sem consenso
A discussão sobre a utilização do capacete não era nova. Porém, na altura, este era visto como um elemento incomodativo, ainda mais quando se falava em etapas com muito calor. Vários ciclistas com muita influência no pelotão não eram a favor do capacete.
O médico da Volta a França, Gerard Nicolet, afirmou que o capacete não teria salvo a vida de Casartelli. Porém, aquela imagem do ciclista não deixou que o tema fosse completamente esquecido. Alguns atletas já iam utilizando o capacete, mas o caminho ainda foi longo até à obrigatoriedade.
Muitos dos ciclistas que estiveram naquele Tour e mesmo os viram o que aconteceu ao italiano pela televisão, consideram que aquele foi o momento que serviu de base para que a regra viesse a ser alterada.
Em 2003, o regulamento mudou após mais uma morte. O cazaque da Cofidis, Andrei Kivilev, caiu no Paris-Nice, entrou em coma e faleceu no hospital. Dois meses depois o capacete passava a ser obrigatório, mas, inicialmente, ainda houve excepções.
Actualmente é impensável um ciclista não ter aquela protecção na sua cabeça. Ainda hoje o acidente de Casartelli é visto como aquele que alterou o rumo da discussão sobre o uso de um capacete que já ninguém discute que pode salvar uma vida.
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