Se há algo que muito se tem ouvido pelo Algarve nos últimos dias é "isto até parece o Tour". Curiosamente, nem Miguel Ángel López, o vencedor no Malhão, nem Remco Evenepoel, o camisola amarela, estiveram na Volta a França (ainda), mas entendamos a expressão como o estarmos perante um pelotão que não fica a dever muito a grandes voltas. A sequência de nomes que se ouviu no Malhão numa fase de ataques, pode enganar o mais distraído, pensando que está a assistir uma grande corrida no estrangeiro. Mas não. A grande corrida, com os grandes nomes e um grande espectáculo está aqui bem perto. Cada vez mais o Algarve não só é palco das principais estrelas - mais experientes ou mais recentes -, como as exibições são emocionantes e justificam em pleno as muitas horas que tantas e tantas pessoas passaram nos 2700 metros do Malhão, por exemplo.
Com a camisola amarela em causa e distâncias de tempo muito curtas, Remco Evenepoel e a Deceuninck-QuickStep sabiam que era dia para controlar e defender... e eventualmente atacar, pois sabe-se que não é fácil segurar esse ímpeto natural do belga. Com o contra-relógio ainda pela frente - algo que não acontecia desde 2013, quando venceu Tony Martin - Evenepoel tem vantagem sobre a concorrência mais próxima, já que outros especialistas e também fortes na montanha, estão fora da luta pela amarela. Casos de Geraint Thomas (Ineos), para dizer um nome.
No Malhão era dia para os adversários tentarem ganhar segundos preciosos, para que os 20,3 quilómetros de Lagoa este domingo não sejam apenas os de consagração para Evenepoel. Tentativas não faltaram e até Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) resolveu aparecer em destaque, mas o ataque não passou de um teste que fez à sua própria forma, depois de dois estágios em altitude.
Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) foi dos mais activos, com Rui Costa (UAE Team Emirates) a comprovar o bom arranque de temporada. Max Schachmann (Bora-Hansgrohe) esteve sempre muito atento ao camisola amarela, mas foi Miguel Ángel López que conseguiu definitivamente quebrar um pouco a resistência do grupo de candidatos. Um pouco, porque as diferenças entre o primeiro e quinto (Rui Costa) ficaram-se pelos cinco segundos.
Para o colombiano da Astana, o objectivo do dia até passou mais por vencer a etapa, pois ao não conseguir ser o mais forte na Fóia, López sabia que não seria no Malhão que se colocaria numa posição de ganhar a corrida. Só está a um segundo de Evenepoel, mas seria uma enorme surpresa se acabasse a Algarvia de amarelo. De referir que o Super-Homem do ciclismo está a preparar-se para fazer a estreia precisamente na Volta a França.
Em teoria, a emoção para o contra-relógio é muita. Martin e Schachmann têm o mesmo tempo que o belga da Deceuninck-QuickStep, Rui Costa está a três segundos. Porém, na prática, a vantagem está do lado do prodígio belga de 20 anos, que já é uma figura no esforço individual. Só não vai exibir a camisola de campeão da Europa, porque terá de vestir a amarela de líder da Volta ao Algarve. Além de ser candidato a vencer a prova, também já era um dos favoritos para vencer a etapa.
Daniel Martin tem dificuldades nesta especialidade, Rui Costa sabe defender-se e certamente que irá a fundo para chegar ao pódio, mas o favoritismo está quase todo do lado de Evenepoel. Quase porque Schachmann (26 anos) tem vindo a trabalhar o seu contra-relógio e a vitória nessa etapa da Volta ao País Basco em 2019 - corrida que acabaria por conquistar - foi um sinal da sua melhoria. Mas foi uma tirada de 11,3 quilómetros.
Evenepoel tem tudo para conquistar a 46ª edição e assim suceder a outro jovem talento, Tadej Pogacar (UAE Team Emirates), mas como o ciclismo não se faz de certezas antecipadas, o belga não poderá facilitar. Quem já pode relaxar um pouco é o companheiro Fabio Jakobsen, que tem a camisola vermelha dos pontos garantida.
Também a azul da montanha está entregue, com o belga Dries de Bondt a intrometer-se na fuga na etapa do Malhão para lutar por esta classificação, que teve um pretendente português. Tiago Antunes, da Efapel, bem tentou, mas será o ciclista da Alpecin-Fenix a subir ao pódio final em Lagoa. Mathieu van der Poel pode ter vindo ao Algarve para começar a ganhar ritmo para as clássicas, mas a sua equipa acaba por mostrar que tem mais ciclistas com ambição de aproveitar as oportunidades que lhes forem dadas.
Algarvios da W52-FC Porto mostraram-se
Um problema mecânico na etapa da Fóia afastou João Rodrigues de repetir a proeza de ficar no top dez da corrida, tal como em 2019. O ciclista da W52-FC Porto tentou no Malhão ter protagonismo e na primeira passagem estava destacado do grupo da fuga. Mas com a qualidade de ciclistas que estava de olhos postos na vitória na Algarvia ou na etapa, o vencedor da Volta a Portugal acabou por ver o seu esforço não ser compensado. Outro algarvio da equipa, Amaro Antunes, assumiu novamente o protagonismo numa subida onde viveu um dos grandes momentos da sua carreira, quando venceu no Malhão em 2017. Esteve sempre com os candidatos, quebrando um pouco nos metros finais. Ficou a 14 segundos (sétimo).
Quem também esteve muito bem foi Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel). Depois do sétimo lugar na Fóia, terminou na 14ª posição no Malhão, a 14 segundos de Miguel Ángel López. Boas indicações do "senhor regularidade" do pelotão nacional, num ano em que assume sem discussão a liderança da equipa de Vidal Fitas.
Ao falar-se de portugueses, há que terminar com João Almeida. Mais um dia de trabalho essencial para Evenepoel, estando a revelar ser um aliado muito importante para o companheiro. Almeida está na sua primeira época no World Tour e as indicações começam a ser muito boas, ocupando a segunda posição na juventude que tem Evenepoel como líder, com 37 segundos de vantagem. Sem reconhecimento no pódio, certamente que não o faltará dentro da equipa quando este domingo a Volta ao Algarve terminar.
Almeida está à porta do top dez, sendo 12º a seis segundos do 10º, Frederico Figueiredo e até pode subir mais uns lugares. É campeão nacional de contra-relógio de sub-23 (e em linha), pelo que não é de afastar que consiga um lugar bem honroso e merecido.
Almeida está à porta do top dez, sendo 12º a seis segundos do 10º, Frederico Figueiredo e até pode subir mais uns lugares. É campeão nacional de contra-relógio de sub-23 (e em linha), pelo que não é de afastar que consiga um lugar bem honroso e merecido.
5ª etapa: Lagoa-Lagoa (20,3 quilómetros)
Contra-relógio já conhecido, com algumas zonas técnicas e curtas, mas duras subidas que quebram o ritmo. O suíço Stefan Küng e o britânico Geraint Thomas venceram em 2019 e 2018, respectivamente.
Evenepoel é um dos favoritos, mas as atenções também se vão centrar muito em Rohan Dennis. O bicampeão do mundo nunca venceu um contra-relógio com a camisola do arco-íris vestida e tem estado muito discreto no Algarve. Será que poupou forças para Lagoa?
O primeiro a partir será David Livramento (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), às 13:04. O top dez vai para a estrada às 15:42, com dois minutos a separar os ciclistas, ou seja, Evenepoel, o último a sair, estará em acção às 16:00.
Classificação via FirstCycling.
»»Cees Bol mantém senda holandesa nos sprints««
»»Fóia marca uma estreia na carreira de Evenepoel««
Evenepoel é um dos favoritos, mas as atenções também se vão centrar muito em Rohan Dennis. O bicampeão do mundo nunca venceu um contra-relógio com a camisola do arco-íris vestida e tem estado muito discreto no Algarve. Será que poupou forças para Lagoa?
O primeiro a partir será David Livramento (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), às 13:04. O top dez vai para a estrada às 15:42, com dois minutos a separar os ciclistas, ou seja, Evenepoel, o último a sair, estará em acção às 16:00.
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