31 de janeiro de 2018

"Há dias em que me pergunto como foi possível ganhar aos profissionais logo a abrir a época"

Momento em que Francisco Campos venceu a primeira corrida de 2017
Francisco Campos não poderia ter começado 2017 de forma mais perfeita. Este jovem de 19 anos, bateu os profissionais na primeira corrida do ano. Aproxima-se a Prova de Abertura Região de Aveiro (no domingo) e inevitavelmente as memórias daquele 5 de Fevereiro estão novamente muito vivas, mas há uma que surge mais intensamente: "É sempre aquele sprint final, em que consegui bater toda a concorrência e acho que com alguma qualidade!" O jovem ciclista do Miranda-Mortágua partiu para uma época que sempre o marcará, pois os bons resultados continuaram, como o título nacional de sub-23, e também teve as primeiras internacionalizações, que incluíram presenças no Tour de l'Avenir e nos Mundiais, por exemplo.

"De certo modo, acho que aquela vitória fez com que tivesse uma excelente temporada. Acho que tirou logo toda a pressão para conseguir trabalhar de outra forma. Aquela corrida deu-me outro incentivo", salientou ao Volta ao Ciclismo. Mas Francisco Campos admite: "Há dias em que me pergunto como foi possível ganhar aos profissionais logo a abrir a época."

Francisco Campos é o campeão nacional de sub-23
Agora é tempo de pensar em 2018, com novas responsabilidades, tanto pelos resultados que alcançou no ano passado, como pela subida da equipa ao escalão Continental. Contudo, perante a aproximação da corrida que ganhou em 2017, o ciclista realçou: "Coloco uma pressão em mim próprio e acho que a equipa está a confiar em mim para fazer um bom resultado na Prova de Abertura Região de Aveiro."

O Miranda-Mortágua conta agora com dois ciclistas com experiência de elite. António Barbio e Nuno Meireles regressaram a uma casa que bem conhecem, para tentar levar longe esta nova ambição da estrutura liderada pelo director desportivo Pedro Silva. "Eles são ciclistas mais experientes e vão ajudar-nos em tudo o que puderem, mas com a noção que nós, os mais novos, temos muita qualidade e podemos também fazer grandes resultados", salientou. "Para eles é um bocado difícil este trabalho numa equipa mais jovem. Mas acho que eles tomaram a decisão certa e vai dar frutos por eles terem ingressado no Miranda-Mortágua", acrescentou.

Para Francisco Campos, a subida de escalão "irá aumentar um pouco a pressão, mas nada de mais". Afirmou que "os objectivos irão manter-se mais ou menos os mesmos", tal como a logística, ainda que neste aspecto tenha destacado haver "mais qualidade". Claro que a Volta a Portugal ganha agora outra relevância, já que o Miranda-Mortágua poderá participar. "É sempre o objectivo principal das equipas portuguesas. Para mim também é um objectivo, claro, mas estarei igualmente a pensar nas provas de selecção que se seguem, como o Tour de l'Avenir", referiu.

"Estou ciente que vou à Volta ao Algarve mais para a aprendizagem, mas estou ansioso!"

Continuar a representar a selecção nacional é algo que Francisco Campos deseja muito e depois de toda a experiência que viveu em 2017, espera que este ano se possa ver os resultados do que terá evoluído: "Acho que daqui para a frente as coisas vão melhorar e penso vir a fazer melhores resultados pela selecção."

Quanto ao Miranda-Mortágua, depois da Prova de Abertura seguir-se-á a Volta ao Algarve, onde Francisco Campos poderá ter a oportunidade de pedalar ao lado de grandes sprinters, estando para já confirmado o campeão francês Arnaud Démare. "Estou ciente que vou à Volta ao Algarve mais para a aprendizagem, mas estou ansioso! Nós, os mais novos, temos muita ambição e pensamos nessas pequenas coisas [de estar ao lado de grandes nomes], contudo, temos de ter os pés bem assentes na terra", disse. Já na Volta ao Alentejo, fica desde já o aviso que "se as sensações forem boas", Francisco Campos quer surpreender.

Oliveira do Bairro recebe início de temporada

A Prova de Abertura Região de Aveiro começa este ano em Oliveira do Bairro, com a partida agendada para as 12:15 de domingo (4 de Fevereiro), junto à Câmara Municipal. Serão 155,5 quilómetros que terminarão na Torreira, na Avenida Hintze Ribeiro, por volta das 16:00.

Além das nove equipas Continentais portuguesas e as de clube, também estará presente a selecção nacional que irá apresentar o novo equipamento. Os gémeos Oliveira (Ivo e Rui) e João Almeida, da Hagens Berman Axeon, Joaquim Silva (Caja Rural), José Gonçalves e Tiago Machado (Katusha-Alpecin) estarão às ordens de José Poeira. Porém, haverá ainda duas presenças do BTT. Tiago Ferreira e José Dias vão ter uma experiência de estrada.

A primeira corrida do calendário nacional marca também o arranque Troféu Liberty Seguros, que inclui ainda a Clássica da Arrábida (11 de Março) e a Clássica Aldeias do Xisto (25 de Março).


30 de janeiro de 2018

Quem será o sucessor de Contador? O próprio nomeia

(Fotografia: Filip Bossuyt/Wikimedia Commons)
Não será exagero dizer que em Espanha há uma obsessão por perceber quem poderá ser o sucessor de Alberto Contador. Quando Miguel Indurain se retirou, na segunda metade dos anos 90, nomes como Carlos Sastre ou Roberto Heras deram alegrias aos fervorosos adeptos espanhóis. Mas foi Alberto Contador quem atingiu os níveis de ídolo de Indurain, sem esquecer, claro Alejandro Valverde. Porém, nas grandes voltas, El Pistolero tornou-se na principal referência, principalmente quando com apenas 24 anos ganhou a Volta a França (2007). Agora que está dedicado à sua equipa de formação de jovens ciclistas e também irá enveredar pela função de comentador, no Eurosport, o que mais se deseja saber no país vizinho é: quem tomará o lugar de Contador como o voltista de referência. Quem ganhará novamente uma grande volta para Espanha.

Portanto, nada melhor do que fazer a questão directamente a Alberto Contador. "Há corredores jovens como o Enric Mas ou o Marc Soler que podem vir a ser das principais referências do ciclismo nacional no futuro. Porém, agora é tempo de esperar e ver o que acontece", afirmou o antigo ciclista. Das palavras de Contador há que destacar o cuidado que teve de não tornar as suas palavras numa forma de pressão para dois ciclistas que já demonstraram ter talento, mas que ainda estão numa fase de crescimento. Mas lá que devem motivar, isso certamente que sim!

Contador conhece bem Enric Mas, pois antes de assinar pela Klein Constantia em 2016, passou pela estrutura da fundação de El Pistolero, que este ano se tornou Continental e tem o nome de Polartec-Kometa. No ano passado, Patrick Lefevere contratou o espanhol (23 anos) e foi cuidadosamente colocando-o nas corridas, sem grande pressão, apenas para se adaptar ao mais alto nível. E mesmo assim já não há grandes dúvidas que Espanha tem um ciclista com um futuro muito (mas mesmo muito) promissor. Como curiosidade, Mas até tem o seu nome ligado a uma corrida portuguesa, pois ganhou a Volta ao Alentejo em 2016.

Quanto a Marc Soler (24 anos), a Movistar "agarrou-o" em 2015 e escolheu muitas vezes corridas menos mediáticas, ou mesmo de sub-23, para dar rodagem a este talentoso espanhol. Em 2017 chegou a altura de testá-lo em provas de maior importância. E o que é que Soler fez? Começou logo o ano a terminar no pódio na Volta a Catalunha (terceiro, atrás de Alejandro Valverde e Alberto Contador), foi quinto no Grande Prémio Miguel Indurain e oitavo na Volta à Suíça, uma corrida onde muitas das principais figuras preparam o Tour. Na Vuelta, numa Movistar sem líder, Marc Soler tentou agarrar a oportunidade de ter liberdade e bem tentou entrar em fugas e conquistar uma vitória, mas o melhor que conseguiu foi o terceiro lugar. Não tendo sido uma corrida muito feliz para a equipa, certamente que a experiência que Soler viveu será importante na sua evolução.

De vez em quando aparecem jovens ciclistas a surpreender os mais experientes e a ganhar grandes voltas - que o diga Contador -, contudo, no futuro imediato, o antigo ciclista (ainda parece algo estranho tratar assim Contador!) salientou como é preciso estar atento a Alejandro Valverde (37 anos), que deixou boas indicações no Challenge de Maiorca, tendo inclusivamente sido terceiro numa das corridas. E, claro, a Mikel Landa (28).

Sem se alongar muito sobre estes dois ciclistas, a verdade é que é para Landa que os espanhóis mais olham na esperança de levar Espanha novamente à conquista de uma grande volta. E se é sempre bom ter um ciclista da casa ganhar a Vuelta, é o Tour que mais ambicionam. Mikel Landa também!

Numa segunda linha aparecem David de la Cruz (28) - foi para a Sky e quanto muito poderá ter um papel mais livre na Vuelta - e os irmãos Izagirre (Gorka, 30 anos, e Ion, 28), que ao voltarem a estar juntos, agora na Bahrain-Merida, revelam uma enorme motivação para mostrarem que podem mesmo ser muito mais do que gregários de luxo. Aliás, Ion já teve essa liberdade em 2017, mas, tal como Valverde, caiu no contra-relógio inicial do Tour e a temporada terminou ali.

Enquanto se espera pelo sucessor de Contador, ele próprio vai ajudando a preparar novas figuras do ciclismo com a sua equipa, com a qual tem treinado, o que deve ser absolutamente fantástico para o grupo de jovens corredores que compõem a Polartec-Kometa.

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29 de janeiro de 2018

Cavendish já sabe o que poderá fazer depois do ciclismo. E continua a ser sobre rodas

(Fotografia: Scott Mitchell/Dimension Data)
Trinta etapas na Volta a França. Faltam quatro para igualar o recorde de Eddy Merckx e aos 32 anos, Mark Cavendish está concentrado em recuperar a melhor forma e deixar para trás um 2017 marcado por uma mononucleose e a violenta queda na Volta a França. Porém, ao ser questionado sobre o seu futuro pós-ciclismo, o britânico não esconde que tem outra paixão e que não se importaria de a seguir a desportivamente.

Mark Cavendish foi entrevistado pela Esquire, na versão para o Médio Oriente, e admitiu o quanto gosta daquela zona do globo, principalmente Abu Dhabi, onde quando terminar a carreira de ciclista não se importará de ir viver. Começando por recordar que está há umas semanas no local e que até esteve no Grande Prémio de Fórmula 1, em Novembro, essa revelação acabou por servir de mote para a conversa sobre o seu futuro quando deixar as bicicletas.

"Acho que não seria suficientemente bom", realçou quando questionado se poderia tornar-se num piloto de automóveis. "Todos pensam que é como conduzir um carro em passeio, mas não é bem a mesma coisa. Para ser honesto, prefiro mais as motos. Gostaria antes de competir nelas", afirmou. De imediato o jornalista perguntou: "Então é isso que se segue? Depois do ciclismo?" Resposta: "Muito seriamente, penso que sim." E para que não se tenha dúvidas desta sua paixão das duas rodas, mas com motor, Mark Cavendish tem várias motos... Talvez 20, pois nem tem bem a certeza quantas estão na sua garagem.

Mas que descansem os fãs de Cavendish, o britânico não tem planos para se retirar do ciclismo para já. No entanto, confessou que fazer 30 anos foi algo que o deixou algo perturbado, por uns momentos. "Pensei que me ia 'passar', pensei que ia comprar um carro desportivo", disse, bem humorado. Porém, a família acabou por ser uma enorme inspiração para enfrentar a nova década na sua vida. "A um mês de fazer 30 anos, recordo-me que era o aniversário da minha filha e que a minha mulher estava grávida. Sentei-me e vi-a a andar de um lado para o outro, a garantir que estavam todos bem e a Delilah estava com o seu vestidinho, só me lembro de pensar: 'Que mais posso querer quando fizer 30?' Não poderia desejar alcançar mais e não poderia desejar ter uma melhor família", salientou.

Convidado a deixar um conselho a si próprio se tivesse 21 anos, Cavendish diria: "Pára de lutar contra o mundo. O mundo não está contra ti. Só parece que sim, às vezes. Livra-te daquele chip no teu ombro. Quando agora olho para trás, eu era apenas um homem zangado, a lutar contra toda a gente."

E numa altura em que a segurança dos ciclistas na estrada voltou a ser muito falada após o atropelamento de Laurens de Plus e Petr Vakoc (Quick-Step Floors) quando treinavam na África do Sul, Cavendish deixou a sua mensagem. "Na bicicleta és uma pessoa só. As pessoas nos carros deveriam ter atenção, mesmo que alguém esteja zangado, você está protegido na sua concha e a segurança deles [ciclistas] está nas suas mãos. Por isso, tenha cuidado ao zangar-se e nas suas reacções para com eles", apelou.

Mark Cavendish vai arrancar a sua temporada, a terceira na Dimension Data (está em final de contrato), precisamente no Médio Oriente, primeiro no Dubai, de 6 a 10 de Fevereiro e depois na Volta a Abu Dhabi, de 21 a 25 do mesmo mês. O seu grande objectivo de temporada (e de carreira) é chegar ao número 34 em etapas no Tour e de preferência chegar ao 35 e passar assim a ser ele o recordista.


Gaimon e Cancellara vão resolver "diferendo" na estrada

Desafio aceite! Phil Gaimon aceitou a proposta de Fabian Cancellara de se defrontarem numa das corridas que o suíço organiza, desde que deixou o profissionalismo em 2016. É caso para dizer que os dois antigos corredores vão resolver na estrada um "diferendo" que começou em Novembro quando o americano publicou um livro, no qual relançava as insinuações que Cancellara teria recorrido a um motor na sua bicicleta para ganhar a Volta a Flandres, em 2010. O suíço colocou os seus advogados em acção para que o livro deixasse de ser vendido, exigindo ainda um pedido de desculpas. Porém, das palavras vai-se passar... aos pedais. Só falta saber onde e quando.

"Vamos ver quantos watts o Gaimon ainda tem. Eu tenho uns bons números, mesmo que não por muito tempo já que não estou em forma. Ele deveria vir a uma das minhas corridas. Há nove para escolher, para ver o quanto ele é bom", afirmou Fabian Cancellara em recentes declarações à Gazzetta dello Sport. Logo em Novembro, no auge, digamos, da polémica, Cancellara (36 anos) havia deixado uma mensagem no Twitter a incitar Gaimon a aparecer numa das suas corridas.

O americano, de 32 anos, lá cedeu. "Nunca era o meu objectivo, mas está bem. Eu deixo-te para trás na tua própria corrida. No entanto, tenho algumas condições. O meu pessoal vai falar com o teu", escreveu Phil Gaimon no Twitter. Entre as tais condições estará a possibilidade de ser o americano a escolher qual a prova em que quer participar.

O Chasing Cancellara decorre maioritariamente na Europa, mas tem uma passagem por Abu Dhabi, a 20 de Março, no circuito Yas Marina, que tem recebido a última etapa da Volta a Abu Dhabi (já agora, que Rui Costa ganhou no ano passado). Mas essa não deverá interessar a Phil Gaimon, que é provável que procure terreno mais montanhoso. As duas corridas que têm os Alpes como cenário serão mais atractivas. A 24 de Junho decorre a Disentis-Andermatt e a 19 de Agosto realiza-se uma das mais exigentes deste calendário: Aigle a Villars-sur-Ollon, com passagens nos Col des Mosses, Col du Pillon, Col de la Croix, com um desnível acima dos 2700 metros em pouco mais de 80 quilómetros.

Ambos os ciclistas terminaram a carreira em 2016. Fabian Cancellara mantém-se ligado ao desporto, também numa vertente de empresário e até experimentou o triatlo. Entretanto esteve na universidade. Phil Gaimon, muito menos mediático, escreveu um livro que acabou por lhe trazer bastante atenção, intitulado Draft Animals: Living the Pro Cycling Dream (Once in a While).

"Quando se vêem as imagens, as acelerações dele não são nada naturais. É como se tivesse problemas em manter os pés nos pedais. Aquele cabrão provavelmente tinha um motor." Esta foi a frase que originou toda a polémica, com Gaimon a defender-se, dizendo que foi tirada do contexto e que não estava a alegar nada de novo. As suspeitas de Cancellara utilizar um motor na sua bicicleta já existem desde a tal Volta a Flandres em 2010, mas o livro de Gaimon reacendeu o interesse que até levou o novo presidente da UCI, David Lappartient, a querer que o caso fosse investigado. Numa nota à parte, em Março deverão ser anunciadas novas medidas de fiscalização das bicicletas para descobrir eventuais motores.

Quanto ao frente-a-frente entre Gaimon e Cancellara é esperar por novidades, mas não deixa de ser um ponto de interesse extra-ciclismo profissional! De referir que as corridas do Chasing Cancellara estão abertas ao público em geral e a primeira está marcada para 9 de Março, em Maiorca. Pode ver mais informações no site oficial.

»»A nova vida de um Cancellara universitário, triatleta e empresário««

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28 de janeiro de 2018

O apelo de Bob Jungels após o atropelamento de dois colegas de equipa

Jungels estava a treinar com Vakoc e De Plus (Fotografia: Twitter Bob Jungels)
Bob Jungels tem mostrado através dos Twitter o quanto o atropelamento de dois dos seus companheiros da Quick-Step Floors, enquanto treinavam, o afectou. O luxemburguês tem publicado mensagens de apoio, mas foi agora mais longe, partilhando um vídeo apelando ao respeito na estrada por parte de todos, seja qual for o veículo que se esteja a conduzir. "Espero que ninguém tenha de passar pelo que eu passei com os meus dois colegas de equipa. Aconselho vivamente a partilhar a estrada, talvez fazer um sinal se alguém faz algo mal, mas não façam nenhuma acção que possa provocar uma situação como a que tivemos", apelou o ciclista.

Os três corredores da formação belga estavam em estágio na África do Sul, quando o checo Petr Vakoc e o belga Laurens de Plus foram atropelados por uma carrinha. Jungels seguia à frente dos dois companheiros e não foi apanhado no acidente. Ambos foram transportados para o hospital, com Vakoc a ser a situação mais grave. Precisou de ser operado à coluna, já se encontrando a recuperar. Dentro de dez dias deverá poder regressar a casa.

"Num momento estamos a rir com o nosso companheiro e no segundo seguinte estamos a correr, a gritar, sem saber o que fazer, a pedir a ajuda. Depois, tê-lo nos meus braços, sem saber se ele vai praticar outra vez ciclismo, andar, ou seja o que for... No final, tudo acabou de forma bastante positiva, apesar do que aconteceu", referiu Jungels no vídeo publicado no YouTube (pode ver mais em baixo).

A África do Sul tem tornado-se num destino preferencial para alguns ciclistas, além de Chris Froome, que também já influenciou o colega da Sky, Geraint Thomas, pelo menos em 2017. Além do trio da Quick-Step Floors, também os gémeos Yates, Adam e Simon, da Mitchelton-Scott, por exemplo, estão no país a preparar a nova temporada. Jungels quis que ficasse bem claro que a decisão de ir para a África do Sul foi a mais acertada, dizendo mesmo que os condutores demonstram grande respeito pelos ciclistas.

No entanto, o luxemburguês, de 25 anos, desabafou: "É triste que se tenha sempre de chegar a uma situação como esta para se acordar." O ciclista considera que "muito está a ser feito para a segurança dos ciclistas na estrada", mas realçou: "Somos os mais vulneráveis na estrada. Não temos um chassi a proteger-nos."  Jungels deixou por isso um apelo: "Todos devem considerar se vale a pena perder um ou dois minutos a ultrapassar-nos, ou a ver-se envolvido numa situação como a que estivemos há dois dias. Não estou a dizer que os ciclistas fazem tudo bem. Muitas vezes ocupamos demasiado da estrada, muitas vezes não respeitamos as regras, o que é justo dizer que também não é correcto."

Este incidente reavivou a memória do choque violento que atirou cinco ciclistas da então Giant-Alpecin (actual Sunweb) para o hospital, em Alicante, em Janeiro de 2016. John Degenkolb, Warren Barguil, Chad Haga, Fredrik Ludvigsson, Ramon Sinkeldam e Max Walscheid foram atropelados por uma condutora britânica que conduzia em contra-mão. Haga e Degenkolb foram os casos mais preocupantes. O alemão quase perdeu um dedo e ficou de fora grande parte da temporada. No ano passado Chris Froome também teve um encontro imediato com o carro quando treinava numa zona perto do Mónaco, na preparação para a Volta a França, mas não sofreu ferimentos de maior.

A mensagem de Jungels não está a passar despercebida, com alguns comentários a salientarem precisamente como o ciclista apelou a todos, incluindo quem anda de bicicleta, para que assim se possa de facto falar em segurança na estrada.

Veja o vídeo na íntegra.



Psicólogo ajudou mãe de Laurens de Plus

Laurens de Plus não está a ter meses fáceis. Em Outubro terminou a temporada na Lombardia com uma aparatosa queda, passando por cima do raile de protecção e caindo numa ribanceira. Apesar dos ferimentos, principalmente numa perna, o belga de 22 anos recuperou e queria começar bem a nova temporada, a terceira na Quick-Step Floors. 

Aquando do incidente na Lombardia, o ciclista admitiu que o psicólogo da equipa ajudou a sua mãe a lidar com o sucedido. "Agora a minha mãe tem sempre medo. O ciclismo é um desporto com numerosos riscos e dá muitos problemas. Porém, na equipa temos um bom psicólogo, o Jef Brouwers, que a ajudou muito. Espero que veja as próximas corridas de forma mais serena", disse então ao site RTBF.

Perante este novo acidente com alguma gravidade, agora durante um treino, Brouwers deverá entrar novamente em acção, não só para ajudar a família dos ciclistas, mas também os próprios. Para De Plus, por exemplo, será um verdadeiro teste a sua capacidade mental para recuperar de duas situações muito complicadas, num curto espaço de tempo.

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27 de janeiro de 2018

"Não é só no César ou no Gaspar que vamos focar a atenção, pois temos jovens com muito, muito talento"

(Fotografia: Facebook Bike Clube de Portugal)
Rigor, talento, inovação, honestidade e compromisso. Há bases que Manuel Correia não quer alterar na sua equipa, seja de sub-23, ou agora de sub-25 e no escalão Continental. A Liberty Seguros-Carglass consolidou o seu projecto como um dos melhores na formação de jovens e mesmo dando um passo que irá proporcionar outro nível competitivo aos ciclistas, o director desportivo não abdica da identidade da equipa, apostando em quem conhece e confia para ascender à elite, enquanto reforçou a estrutura com cinco corredores que corriam no escalão de juniores. "Num curto espaço de tempo, no escalão sub-23, acho que até excedemos todas as expectativas que tínhamos criado sobre o projecto, quer em termos desportivos, quer em termos de notoriedade, mesmo a nível internacional.  A partir do momento em que surgiu esta oportunidade para as equipas de sub-25, nós achámos por bem aproveitar, até porque acho que merecemos. Temos feito um bom trabalho", salientou Manuel Correia ao Volta ao Ciclismo.

Juntamente com Luís Pinheiro, o director desportivo optou por dar a oportunidade a dois dos seus ciclistas para serem profissionais, não contratando corredores mais experientes, como aconteceu com o Miranda-Mortágua e com a LA Alumínios, as outras duas formações que também serão Continentais, mas de sub-25. César Martingil e Gaspar Gonçalves terão de assumir maiores responsabilidades. Foram os escolhidos por serem já bem conhecidos da estrutura, ou como disse Manuel Correia: "Temos o perfil biológico e nós preservamos a ética do desporto." E acrescentou: "Quer ao César, ao sprint, e quer ao Gaspar, que já tem demonstrado nos últimos dois anos que é muito consistente e tem estado com os melhores, é deles que vamos cobrar um pouco mais. Não é só neles que vamos focar a atenção, pois temos jovens com muito, muito talento", realçou. O responsável referiu ainda que a nível orçamental, a principal opção passa por dar as "melhores condições de trabalho e inovadoras".


"Há corredores que com a ambição que têm podem conseguir algum resultado numa ou outra corrida"

Manuel Correia assume as condicionantes que terá devido à juventude dos seus ciclistas: "É lógico que ao fazermos uma equipa destas, não podemos ter como principal objectivo o resultado final, se bem que com trabalho e dedicação eles acabarão por aparecer, mas não podemos exigir deste tipo de corredores - inclusivamente tenho cinco de primeiro ano - que consigam ombrear com as equipas muito mais cotadas e com mais maturidade." Não tendo um ciclista mais experiente, estão abertas as portas para que todos tenham liberdade para lutar por bons resultados e Manuel Correia quer assegurar que isso acontece de facto. "Há corredores que com a ambição que têm podem conseguir algum resultado numa ou outra corrida", garantiu.

A Volta ao Alentejo, por exemplo, é uma prova que o responsável acredita ser possível ter César Martingil na luta, mas vai apontando a outras corridas por etapas. Já na Volta a Portugal deseja "estar a um bom nível" e na Volta ao Algarve... "Vai ser muito duro e difícil. Sabemos do nível competitivo que a corrida vai ter. Mas a ambição e vontade de correr com os melhores também fará com que se superem a eles próprios. Vamos participar, tentar estar com dignidade na corrida", afirmou, garantindo que não haverá qualquer dificuldade em gerir o lado emocional de jovens corredores que se vão ver ao lado de alguns dos melhores ciclistas mundiais. "Acho que é a parte mais fácil. Estes jovens já não têm a mentalidade que eu tinha quando corria. Quando passávamos a fronteira já estávamos derrotados. Agora não. Eles gostariam de correr todos os dias Voltas ao Algarve. Tenho 13 corredores e só posso levar sete. Perguntei a todos quem queria correr a Volta ao Algarve. Todos queriam. Não tenha dúvida que qualquer um deles abdicaria de correr a Volta a Portugal para estar na Volta ao Algarve!"

Saiu Neves, regressou Carvalho

Manuel Correia gostaria de ter mantido José Neves na sua equipa e até diz que o ciclista também não se teria importado nada em continuar na Liberty Seguros-Carglass. No entanto, a proposta da W52-FC Porto era muito superior e o director desportivo realçou como quer ver os seus ciclistas conseguirem bons contratos. "A carreira de ciclista é muito curta e nós entendemos que as diferenças eram abismais. Para nós lhe dar-mos o mínimo iríamos ter algumas dificuldades. Achámos por bem que o Zé agarrasse [a oportunidade]", contou, acrescentado que praticamente todas as equipas de elite queriam o campeão nacional de contra-relógio de sub-23. O director desportivo disse mesmo que espera que Martingil, Gonçalves ou qualquer outro dos seus atletas possa para o ano ou em breve estar a um nível mais alto. Esse tem sido um dos objectivos por que tanto tem batalhado na sua equipa. Formar ciclistas, mas também homens, pois, como reforçou, nem todos conseguem singrar no ciclismo. Contou como Luís Pinheiro esteve na equipa como sub-23, o contabilista também, além de haver médicos, fisioterapeutas e outros antigos corredores nas mais variadas áreas da sociedade.

Mas houve um ciclista que teve uma experiência menos boa no estrangeiro e que agora regressa "a casa". "Tivemos muita pena quando o André Carvalho abandonou. Achámos que foi mal aconselhado. Se o André tivesse saído para uma equipa como a Axeon Hagens Berman, como os gémeos e antes o Ruben Guerreiro... Mas a equipa que o André foi representar [Team Cipollini] era no mínimo de qualidade dúbia e acho que o André deu dois passos atrás. Depois teve um problema familiar e eu tive conhecimento e tentámos dar-lhe apoio", explicou. Por altura dos Nacionais, Manuel Correia falou com o ciclista e perante a vontade deste em regressar a Portugal e à Liberty Seguros-Carglass, o responsável abriu-lhe as portas e acredita que também André Carvalho poderá mostrar-se em algumas corridas.


"São ciclos e temos de estar preparados para isso. Tomara que a Liberty Seguros permaneça mais dez anos no ciclismo"

Apesar do entusiasmo para esta nova aventura, a preparação para a nova época começou com um sobressalto. Luís Pereira foi atropelado, quando treinava com Filipe Cardoso (Rádio Popular-Boavista) e Fábio Oliveira (LA Alumínios). "Podia ter sido muito mau. Apesar de tudo foi feliz. A sorte foi que o carro que o atropelou era alto e ele ficou por debaixo, porque se fosse um ligeiro... O condutor vinha distraído. Eles entraram na rotunda, tiveram que travar, ele era o último e acabou por o apanhar. Teve mesmo muita sorte... A bicicleta ficou toda desfeita. Ele só ficou escoriações e levou pontos no sobrolho. Até parece incrível", desabafou.

O incontornável nome da Liberty Seguros

Se há patrocinador que rapidamente é reconhecido no ciclismo nacional é a Liberty Seguros. A empresa há muito que está ligada à modalidade e chegou mesmo a ter uma equipa profissional. Em 2009, um escândalo de doping que envolveu alguns dos seus ciclistas, fez com que o apoio fosse retirado, mas a seguradora não abandonou por completo a modalidade, ficando ligada à federação e também à estrutura de São João de Ver, liderada por Manuel Correia. Apoiar os mais novos passou a ser a palavra de ordem.

"Sabíamos que fazer uma equipa profissional com a Liberty Seguros seria muito complicado", frisou. Porém, a possibilidade de pedir uma licença Continental, mas ficando como uma equipa sub-25, na qual apenas dois ciclistas podem ser profissionais, o patrocinador manteve o apoio. No entanto, Manuel Correia admitiu alguma incerteza quanto ao futuro, pois, como explicou, o CEO, José António Sousa, vai retirar-se no final do ano. "Não sabemos se quem vem a seguir vai manter a mesma política. Temos a noção que é um passo arriscado [subir a Continental], mas decidimos dá-lo, pensando essencialmente nos nossos jovens ciclistas."

Referiu que não tem qualquer indicação de que a Liberty Seguros vá abandonar o ciclismo, mas a experiência permite-lhe ser cuidadoso: "São ciclos e temos de estar preparados para isso. Tomara que a Liberty Seguros permaneça mais dez anos no ciclismo, connosco ou com outros. Só teríamos todos a ganhar, até pela credibilidade da empresa."

Manuel Correia vai começar desde já a preparar 2019, para procurar o mais cedo a estabilidade necessária, para depois a transmitir aos seus ciclistas. Estes projectos sub-25 assumem uma enorme importância num ciclismo nacional que tem vindo a crescer nos últimos anos. "O grande problema destas equipas será sempre a sua sustentabilidade no futuro e nós temos isso bem presente. Muitas das vezes quem apoia quer resultados, mas não é o caso nem da Liberty Seguros, nem da Carglass", afirmou.


"Nós queremos o melhor para os nossos ciclistas. Eles têm uma carreira pela frente. Mesmo que queiram ficar, se houver uma boa situação para eles, vamos ajudá-los"

E que vantagens irá trazer a curto/médio prazo estas novas estruturas Continentais, mas que apostam na juventude? "Mais jovens corredores vão ter oportunidades", respondeu de imediato. O director desportivo recordou como na última Volta a Portugal, quase não houve ciclistas lusos para disputar a classificação da juventude, situação que considera ser "muito má". Na próxima edição será bem diferente, o que é desde logo uma vantagem na existência das três estruturas sub-25. "Haverá mais renovação do ciclismo em Portugal", acrescentou, exemplificando como algumas das principais referências estão a aproximar-se dos 30 anos e assim haverá uma nova geração já com rodagem ao mais alto nível nacional, pronta para assumir a responsabilidade.

Com as equipas profissionais a procurarem muitas vezes terem ciclistas que possam produzir resultados mais no imediato, a filosofia poderá alterar-se agora que os sub-23 passam a ter acesso a outras experiências. "Acredito que as equipas portuguesas os contratem, mas mesmo a nível internacional será importante [essa exposição]. Não vamos afastar a hipótese de correr lá fora, ainda que não seja fácil a nível orçamental. Mas já temos acesso a corridas mais importantes. Se tivermos de abdicar correr cá para fazer uma prova lá fora, fá-lo-emos", assegurou o responsável, que pretende assim criar a possibilidade de os seus ciclistas se mostram no estrangeiro. "Nós queremos o melhor para os nossos ciclistas. Eles têm uma carreira pela frente. Mesmo que queiram ficar, se houver uma boa situação para eles, vamos ajudá-los", reiterou.

Será, portanto, uma Liberty Seguros-Carglass igual a ela mesma, mas a querer aumentar o nível de qualidade dos seus ciclistas, proporcionando-lhes as melhores experiências, nas melhores corridas a que passam a ter acesso. Há corredores nesta equipa que já são bem conhecidos e não são nada de virar a cara a um desafio.

Equipa Liberty Seguros-Carglass: César Martingil, Gaspar Gonçalves, André Crispim, Luís Pereira, Rafael Lourenço, Venceslau Fernandes, Filipe Rocha, André Carvalho (Team Cipollini) Pedro Miguel Lopes (Seissa ACR Roriz), Pedro Lopes (Alcobaça Clube Ciclismo), João Carneiro (Rádio Popular-Boavista, equipa de juniores), João Dinis (Rádio Popular-Boavista, equipa de juniores), Fábio Costa (Centro Ciclista de Barcelos).

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26 de janeiro de 2018

Início de ano atribulado para a Quick-Step Floors: depois da queda de Gaviria, dois ciclistas foram atropelados

De Plus e Vakoc estavam a treinar com Jungels quando foram atropelados
(Fotografia: Twitter Bob Jungels)
Num dia parecia que a temporada da Quick-Step Floors estava a arrancar para mais a senda de vitórias habitual (acima de 50 por ano), mas inesperadamente as preocupações são agora com a condição física de três ciclistas. Fernando Gaviria sofreu uma queda aparatosa na Volta a San Juan e já regressou a casa. Mas se o colombiano não inspira cuidados de maior e apesar de ter ficar maltratado, irá voltar à competição rapidamente, a pior notícia chegou esta sexta-feira: Laurens De Plus e Petr Vakoc foram atropelados durante um treino, na África do Sul, com o checo a precisar de ser operado devido a lesões nas vértebras. Bob Jungels estava com os companheiros, mas escapou ao embate causado por uma carrinha.

"Estávamos a treinar quando, de repente, ouvi um barulho muito alto e no segundo seguinte vi o Laurens e o Petr no chão. Não vi a carrinha que vinha atrás, mas tê-los-á atingido ou com o espelho ou mesmo com o lado esquerdo da parte frente [do veículo]. Corri na direcção deles e pude ver que estavam feridos, por isso, não me atrevi a mexer neles", contou Bob Jungels, que seguia à frente de De Plus e Vakoc. "Uma senhora que estava na berma da estrada aproximou-se e ajudou-nos, chamando uma ambulância, enquanto o nosso treinador Koen [Pelgrim] e eu falávamos com eles. Foi muito difícil vê-los naquele estado e espero que eles recuperem rapidamente deste momento complicado", acrescentou Bob Jungels, citado no comunicado da equipa.

A Quick-Step Floors explicou que o belga Laurens de Plus (22 anos) sofreu contusões num pulmão e rim e irá ficar uns dias no hospital para se observado. Porém, destacou que é Vakoc (25) quem mais preocupa e a intervenção cirúrgica estava prevista ainda para hoje. De recordar que em Outubro De Plus foi um dos ciclistas que caiu numa ribanceira durante o último monumento do ano, a Lombardia, que o deixou com uma lesão no joelho, além de ficar mal tratado noutras partes do corpo. O belga estava a preparar o regresso à competição.

Bob Jungels deixou esta mensagem no Twitter (texto continua em baixo).


Quanto a Fernando Gaviria, a queda durante a Volta a San Juan levou-o a passar uma noite do hospital, mas o ciclista já recebeu autorização para regressar à Colômbia. O sprinter, que havia vencido a primeira etapa, ficou ferido nas costas, braços e nas mãos, mas o estado do joelho e o facto do capacete ter partido na queda, fez com que o médico optasse por ordenar a ida de Gaviria ao hospital. Porém, foi confirmado que, apesar do aparato, os problemas físicos não são graves. "Sinto-me bem depois da queda de ontem", garantiu o ciclista, que contou que o pelotão ia a grande velocidade, até porque era uma zona de muito vento, e que houve um movimento nos corredores à sua frente, acabando por tocar com a roda num dos seus companheiros. "Ninguém podia fazer nada para evitar [o que aconteceu]."

Gaviria mantém o plano de competir na Colombia Oro y Paz, que se realiza entre 6 e 11 de Fevereiro, num início de temporada em que pretende preparar uma forte presença nas clássicas, tendo no seu calendário os monumentos Milano-Sanremo, Volta a Flandres e Paris-Roubaix. Quanto a grandes voltas, depois de dominar na sua estreia em 2017 na Volta a Itália (quatro etapas e a classificação dos pontos), Gaviria vai atacar o Tour.

É um arranque de temporada acidentado para a Quick-Step Floors, que ainda assim, já soma três vitórias em Janeiro: Elia Viviani (terceira etapa do Tour Down Under), Fernando Gaviria e Maximiliano Richeze (primeira e quarta etapa da Volta a San Juan, respectivamente).

De recordar que a Quick-Step Floors é uma das 13 equipas do World Tour que marcará presença na Volta ao Algarve. Bob Jungels e Philippe Gilbert são duas hipóteses para estar num pelotão que já está a ficar bastante interessante (ver link em baixo).

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Mais uma descida alucinante de Stöckl, agora numa lendária pista de esqui

(Fotografia: Philip Platzer/Red Bull Content Pool)
Proponham um desafio que é mais do que provável que Markus Stöckl aceite. Desde que inclua andar de bicicleta a alta velocidade! Para quem já ultrapassou os 160 quilómetros por hora, andar a 103 até pode parecer pouco, mas se acrescentarmos que o fez na neve, numa das icónicas pistas de esqui... A Streif é uma pista lendária de downhill na Áustria e que todos os anos recebe uma das principais competições da modalidade. Sendo austríaco, Stöckl não resistiu. Não quis esquis, mas sim a sua bicicleta, com duas pequenas alterações, e lá foi Stöckl tentar superar-se mais uma vez.

São 3,3 quilómetros, com uma inclinação que chega aos 85%. Por isso mesmo, percebe-se que Stöckl tenha equipado a sua máquina com uns pneus munidos de espigões de 15 milímetros, acrescentando ainda um guarda-lamas em fibra de carbono, que serviu de protecção... para os pneus com espigões.

"Quando consegues andar na tua bicicleta numa descida como aquela, é uma honra especial para mim e eu queria mostrar o respeito necessário, não estragando o trabalho realizado pelo clube de esqui, deitando abaixo algumas secções. As famosas secções chave também foram muito difíceis para mim e tive mesmo de lutar para passar nos pórticos", explicou o austríaco, de 43 anos.

Este vídeo é o resumo da descida, mas em baixo há um em que a adrenalina é ainda maior.




Stöckl explicou que as alterações que fez na bicicleta eram as necessárias por razões de segurança, mas que não queria mexer mais do que era preciso. "Não quero andar numa bicicleta de downhill com peças especiais. Tem de ser uma bicicleta e não uma moto sem motor", afirmou, citado pelo site da Red Bull.

Houve alguns sustos na descida, uma das protecções ainda sentiu os espigões dos pneus, mas Stöckl aguentou e cumpriu os alucinantes três quilómetros em 3:06 minutos, atingindo uma velocidade máxima de 103 quilómetros por hora.

E agora o vídeo em que descemos com Stöckl. Está pronto/a?




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Uma simples tecnologia e que pode fazer tanta diferença

A segurança deve estar sempre na ordem do dia, mas os acidentes acontecem e há simples tecnologias que podem fazer a diferença. Os códigos QR (Quick Response, resposta rápida) já têm várias aplicações, mas esta pode ter uma enorme utilidade em caso de emergência. Chama-se Silincode SOS e com este QR é possível ter acesso a toda a informação que se considere pertinente partilhar, como por exemplo o historial médico, alergias, medicação, além de contactos e também dados pessoais como altura e peso, que podem não parecer muito relevantes, mas há que pensar que se for necessário administrar algum tipo de medicamento, pode fazer a diferença a dose.

Independentemente do formato - que se explicará mais à frente -, este código QR é facilmente reconhecido para o que serve, pois está sempre acompanhado pela sigla SOS. A Silincode Portugal tem feito campanhas de sensibilização junto das equipas de emergência para que estas estejam familiarizadas com o sistema e assim, com um simples telemóvel, poder ter acesso à informação de alguém que esteja a necessitar de ajuda e esteja, por exemplo, inconsciente. Basta ter um smartphone e descarregar uma aplicação de leitura de códigos QR para se aceder à página pessoal da pessoa em causa.

Numa perspectiva de quem pratica desporto, esta é uma forma de garantir que se tem toda a informação necessária, quer se esteja em treino, corrida, ou então, até num simples momento de lazer. No entanto, o Silincode SOS pode ser importante no dia-a-dia, mesmo para as crianças. Existe mesmo uma versão para os animais.

Os formatos disponíveis são: a pulseira SOS (silicone anti-alérgico, disponível em cinco tamanhos e custa 19,95 euros), a pulseira sport (em nylon, regulável com velcro e que é um pouco mais cara, 25 euros) e o sticker (autocolante indicado para o capacete, ideal para ciclistas e motards - custa 15 euros). É também possível ter um porta-chaves, uma chapa para a identificação de animais e uma pulseira temporal, recomendada para grandes eventos, pois é válida apenas por 24 horas.

Às vezes as tecnologias mais simples podem ser as que mais diferença fazem e este simples código QR é um desses exemplos. Para o activar, basta utilizar a aplicação de leitura destes códigos no telemóvel para aceder à página para se registar com o seu e-mail. Depois de receber uma mensagem para activar a sua conta, basta apenas seguir os passos para colocar a informação que considerar pertinente.

Simples, mas que chamou a atenção por isso mesmo. Para mais informações, basta aceder à página de Facebook da Silincode Portugal.

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25 de janeiro de 2018

208 dias depois, eis Valverde!

(Fotografia: Movistar Team)
Há momentos em que não é preciso ganhar para se festejar. 208 dias depois, Alejandro Valverde voltou a colocar um dorsal. O espanhol viveu dias de dor, de incerteza, de receio por uma carreira que tão rapidamente parecia ainda estar longe de terminar, como uma queda ameaçava agora o pior. O incidente na Volta a França, a 1 de Julho, lançou todo o tipo de dúvidas, menos uma: que Valverde não ia desistir sem dar luta. Não demorou muito para o espanhol afastar a hipótese da carreira ter terminar. Demorou um pouco mais para voltar a pedalar, mas fê-lo mais cedo do que esperado. Até se falou que poderia ainda regressar em 2017. Foi prudente, recuperou a 100% das lesões e apurou a forma, mas para 2018. 208 dias depois, eis Valverde. O "Bala" está de volta.

Mesmo com toda a experiência que tem, mesmo tendo 37 anos, Valverde não escondeu que se sentia "um pouco nervoso" antes do arranque do Trofeo Campos–Ses Salines, a primeira corrida do Challenge de Maiorca. Talvez tenha jogado pelo seguro, muito provavelmente fez desta prova um teste à sua condição, antes de começar a pensar em lutar pelas vitórias. Entrou no segundo grupo, a oito segundos dos que disputaram o sprint, ganho por John Degenkolb (Trek-Segafredo).

Para o espanhol, o 40º lugar tem um sabor especial, principalmente quando se recua ao contra-relógio de Dusseldorf, naquela primeira etapa da Volta a França, e se recorda como ficou a perna do ciclista. Valverde chegou ao Tour numa forma fenomenal. Somava 11 vitórias, incluindo duas nas corridas que mais gosta, a Flèche Wallonne e a Liège-Bastogne-Liège. Naquele 1 de Julho, a chuva marcava o arranque do Tour. Valverde caiu numa curva e embateu com violência nas barreiras. "Nesse mesmo dia, no hospital, pensei que tinha acabado ali a minha carreira desportiva porque, ao olhar, não sabia o que era o joelho. Estava completamente partido", confessou em declarações ao Ciclo21, feitas antes do regresso à competição.

Contou que apesar das dúvidas o atormentarem durante algum tempo, percebeu que com fisioterapia e muito, muito trabalho, seria possível regressar ao ciclismo. Agora falta responder à dúvida se irá recuperar a melhor forma e ser novamente o temível Valverde que não se deixa vencer pela idade. Pelo contrário, a julgar por 2017, ainda tinha muitas e boas vitórias à sua espera.

"Estou um pouco nervoso. Não tanto pelo meu regresso - e sim, reconheço que tenho ganas e que há alguma incerteza -, mas sim porque estive bem nos treinos, tive boas sensações, contudo, a competição é outra coisa. São arranques, mudanças de ritmo, velocidades... Tenho ganas de começar e ver como responde o meu joelho e, por isso, estou nervoso", explicou Valverde. O espanhol confessou que tem muitas ilusões para a nova temporada depois de viver o que não hesita em considerar o pior momento da sua carreira.

Alejandro Valverde terminou os seus primeiros 177,7 quilómetros competitivos neste tão desejado regresso. A primeira fase da temporada vai ser passada quase exclusivamente em Espanha. Depois do Challenge de Maiorca segue para a Volta à Comunidade Valenciana e para a corrida em casa, na Volta à Múrcia. Entre a Ruta del Sol e a Volta à Catalunha viajará a Abu Dhabi. Apesar de Valverde querer manter-se longe da disputa pelo estatuto de número um nas grandes voltas entre Mikel Landa e Nairo Quintana - até disse que gostaria de estar no Giro e na Vuelta, deixando o Tour para os companheiros -, a Movistar está mesmo com ideias de jogar o trio na Volta a França.

Porém, antes das provas de três semanas, se o joelho reagir como deseja, Valverde certamente que quererá continuar o seu domínio na semana das Ardenas e procurar dois feitos: ganhar as três corridas num ano, acrescentando assim a Amstel Gold Race que lhe falta, e igualar Eddy Merckx com cinco triunfos no monumento Liège-Bastogne-Liège. Uma vitória em qualquer uma das três corridas e também empatará em triunfos nas Ardenas com o belga, mesmo faltando-lhe uma. Merckx ganhou duas Amstel Gold Race, três Flèche Wallonne e cinco Liège-Bastogne-Liège.

Até Abril haverá muito para ver e analisar e Valverde está concentrado no presente. E não esconde que tem razões para sorrir, como fica claro pelo que escreveu no Twitter quando mostrou o dorsal número 1 que iria utilizar esta quinta-feira: "Estamos de volta."

Quanto à primeira corrida do Challenge de Maiorca, John Degenkolb, da Trek-Segafredo, regressou aos triunfos quase um ano depois do último, na terceira etapa da Volta ao Dubai, a 2 de Fevereiro. O alemão tenta assim recuperar a sua melhor versão, depois de uma época de estreia na equipa americana muito aquém do esperado. Degenkolb demonstrou também que está completamente recuperado de uma pneumonia. De recordar que o vencedor de dois monumentos em 2015 vai estar novamente na Volta ao Algarve.

Só um português participou no Trofeo Campos–Ses Salines. Rafael Reis começou a temporada na Caja Rural com um 112º lugar, a 3:16 minutos do vencedor. Pode ver aqui os resultados completos. Esta sexta-feira realiza-se o Trofeo Serra de Tramuntana, 140,1 quilómetros entre Serra de Tramuntana e Deia.

»»Quintana, Landa e Valverde no Tour... "Não seria bonito irmos os três?"««

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24 de janeiro de 2018

Egan Bernal, o talento que nem com o capacete nos olhos deixou de ganhar

Bernal começou o ano e a carreira na Sky a ganhar a classificação da juventude
no Tour Down Under (Fotografia: Facebook Team Sky)
Numa manhã, provavelmente como tantas outras, Egan Bernal saiu de casa de bicicleta com o pai, um apaixonado pelo ciclismo. Tinham pedalado cerca de oito quilómetros desde casa, em Zipaquirá - a qualquer coisa como 30 quilómetros de Bogotá -, quando se cruzaram como uma corrida que se preparava para começar. Bernal não resistiu e insistiu com o pai para o deixar participar. Não estava inscrito, nem tinha capacete. O pai tentou dissuadi-lo. Bernal dirigiu-se a um amigo da família que os acompanhava e pediu-lhe dinheiro para se inscrever. O amigo que não resistiu perante tal insistência. Bernal desapareceu por instantes e quando reapareceu, lá estava ele com um capacete, tão grande que não ficava fixo na cabeça e lhe tapava os olhos. Sem hesitar, partiu para a corrida.

Egan Bernal tinha apenas oito anos, mas já demonstrava que tinha herdado a paixão do ciclismo, então mais dedicado ao BTT. A história daquele dia ainda não terminou. Bernal pedalava com os restantes jovens e, de repente, eis que se o vê deixar a concorrência para trás, mesmo que não visse muito bem o percurso, por causa do capacete! Cortou a meta sem se aperceber que tinha vencido. Mas ali estava Bernal, com o capacete torto na cabeça, ainda sem saber como aquele dia lhe iria começar a definir o seu futuro. Conta o El Espectador que Bernal recebeu uma bolsa para que pudesse estudar e treinar, além de ter como oferta o seu primeiro equipamento de ciclista.

"Desde pequeno que se via o esforço, a dedicação para conseguir alcançar as metas que ia estabelecendo", recordou ao mãe, Flor Gómez. Bernal saía da escola às 13:30, ia a casa almoçar e ficava ansiosamente à espera do início do treino, que normalmente decorria entre as 15:00 e as 17:00. Quis ser campeão de inter-escolas e conseguiu. Apontou depois ao título do departamento de Cundinamarca, a que pertence Zipaquirá, e objectivo cumprido

Pablo Mazuera tornou-se no seu mentor e ajudou Bernal a conquistar medalhas de bronze e prata nos Mundiais, sempre no BTT. Contudo, o passo para a estrada começava a tornar-se inevitável. Quando a Team Colombia era a grande referência para mostrar os colombianos ao mais alto nível mundial, Bernal foi assistir a uma corrida na Europa da equipa. Mazuera apresentou-o a um responsável da Sky, que o alertou que precisava primeiro de participar em provas de estrada juniores, para fazer a adaptação à nova vertente. Mas naquele momento, Bernal entrou na mira da toda poderosa estrutura britânica.

Tudo terá acontecido tão rápido que até Bernal tem dificuldades em recordar-se qual foi a sua primeira prova. Nomeia a Volta ao Mediterrâneo, segundo o El Espectador, mas o que não se esquece foi como quase chorou durante a corrida. Estava muito frio, chovia e pela frente o jovem colombiano tinha 205 quilómetros para fazer. "Para quê que deixei o BTT. Lá era alguém, aqui não sou nada. Não quero continuar com isto", confessou ter pensado, enquanto lutava por não deixar escapar as lágrimas.

Mazuera foi sempre um apoio para Bernal e entretanto surgiu Gianni Savio, um dos directores desportivos mais experientes do pelotão internacional e que o levou para a Europa, nomeadamente para a sua Androni. A equipa tem servido de trampolim para muitos italianos, mas Savio tem sempre estado atento aos ciclistas colombianos. "Quando o vi ganhar o Giro delle Fiandre soube que tinha de o contratar. Tive muitos ciclistas com talento, uns singraram, outros nem tanto, mas este rapaz é especial, é realmente diferente", afirmou Savio, que acrescentou: "Egan já não é o futuro do ciclismo colombiano, é o presente."

Na Androni, as classificações da juventude era algo natural que estivesse na luta e até que ganhasse, mas depois da promissora adaptação à Europa feita em 2016, Bernal confirmou tudo o que se esperava de um jovem como ele em 2017 e até foi um pouco mais além. Nono na Volta aos Alpes, 13 na Lombardia, só para exemplificar dois excelentes resultados ao nível da elite. Porém, garantir o Tour de l'Avenir - Volta a França do Futuro, na qual venceram colombianos como Miguel Ángel López, Johan Estaben Chavez e Nairo Quintana - foi aquela vitória que o consagrou como um dos grandes talentos que era impossível não dar o salto. A Sky estava a atenta e Savio não teve dúvidas em dizer: "Está [destinado] a coisas grandes."

Na Colômbia vêem Bernal como o sucessor de Chris Froome na Sky e de Nairo Quintana no seu país. Bernal começou logo em grande, com a classificação da juventude numa prova World Tour, o Tour Down Under, e também o sexto lugar na geral. A equipa britânica sabe que tem um ciclista com um potencial ainda por desvendar por completo Será trabalhado minuciosamente e lançado às grandes provas quando se considerar que está preparado, tendo a seu lado dois compatriotas, Sergio e Sebastián Henao. Na perspectiva de quem gosta de ciclismo e o assiste de fora, Bernal é, aos 21 anos, um daqueles ciclistas que já só se quer é vê-lo na estrada!

É descrito como humilde, muito inteligente na forma como analisa as corridas e a gerir o seu esforço. O nome Egan foi o médico que sugeriu quando disse à mãe que estava grávida. Era o clínico que há muito acompanhava a família e por respeito a essa ligação Flor aceitou a sugestão, apesar de não ter gostado muito inicialmente. "Vai-se chamar Egan. Em grego penso que significa campeão", justificou o médico. Se assim for, Egan Bernal poderá cumprir quase uma espécie de profecia se se tornar no ciclista que tanto indica poder ser: um grande campeão. E também um campeão de espectáculo.. A nova geração do ciclismo está aí e a Colômbia bem tem razões para sorrir: Egan Bernal, Miguel Àngel López, Fernando Gaviria...

»»Estreia adiada do "novo Boonen" devido a alteração no regulamento anti-doping««

»»Utopia, o novo ganho marginal da Sky?««