31 de outubro de 2017

Adrenalina no máximo!

(Fotografia: Garth Milan/Red Bull Content Pool)
Uma competição que tem tanto de espectacular como de perigosa. Talvez tenha de ser assim para que se assista a manobras de tirar a respiração. Aqui não basta ser bom, tem de se ser perfeito... E espectacular! O Parque Nacional de Zion, no Utah (EUA), voltou a ser o palco desta prova que só recebe os melhores e que só lá chegam com um convite.

A Red Bull já habitou o público a competições diferentes e únicas. O Cliff Diving e a Air Race passam por Portugal, mas o Red Bull Rampage é realmente único. Só se realiza uma vez por ano e não é por etapas, como as provas referidas. A primeira edição foi em 2001, mas depois de 2004 houve uma interrupção. A perigosidade que acompanha os percursos e as habilidades que os atletas têm de demonstraram levantaram algumas questões de segurança. No entanto, desde 2008 que o Rampage se consolidou como uma das provas de BTT/Downhill mais importante.



Outubro é o mês de eleição para a competição e este ano o canadiano Kurt Sorge fez história ao tornar-se no primeiro a vencer três vezes o Red Bull Rampage. "Estou sem palavras. Não consigo acreditar. Trabalhei muito nas últimas semanas e é de outro mundo deixar todos em casa e os meus fãs orgulhosos", disse Sorge, atleta de 29 anos. Além de Sorge, Cameron Zink (EUA, 31 anos) e Brandon Semenuk (Canadá, 26) também podiam conquistar a terceira vitória.

Sorge venceu com 92.66 pontos, com Zink a ser segundo (90.33). Semenuk ficou fora do pódio (foi quarto, com 89.66, tendo caído na sua primeira descida), que ficou completo com o americano Ethan Nell (90.00), o rookie de 20 anos.

Os juízes pontuam mediante a dificuldade do percurso escolhido, amplitude aérea, controlo, fluidez, habilidade e estilo. Ou seja, os 18 atletas têm de trabalhar muito para impressionar os juízes.

Chega de palavras, aqui ficam alguns momentos impressionantes do Red Bull Rampage 2017. No vídeo em cima pode-se ver a descida que valeu a vitória a Kurt Sorge.




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30 de outubro de 2017

"Vamos continuar a ter uma equipa forte. Tão boa ou melhor"

Nuno Ribeiro já garantiu a renovação de Raúl Alarcón
(Fotografia: Podium/Volta a Portugal)
Uma equipa que domina em Portugal como tem feito a W52-FC Porto (nem sempre com este nome) nos últimos anos e que também alcança bons resultados a nível internacional acaba por ter de lidar com o preço do sucesso: a cobiça aos seus ciclistas. Amaro Antunes assinou pela CCC Sprandi Polkowice e Joaquim Silva vai para a Caja Rural. Porém, uma das principais figuras já renovou. Raúl Alarcón optou por ficar onde diz sentir-se bem e valorizado, resistindo à tentação de regressar ao World Tour. Uma boa notícia para os adeptos da equipa, mas algo já esperado por Nuno Ribeiro que estava confiante que conseguiria ficar com o vencedor da Volta a Portugal.

"[Os adeptos] podem contar que vamos continuar a ter uma equipa forte, ao nível dos outros anos. Tão boa ou melhor", garantiu o director desportivo ao Volta ao Ciclismo. O objectivo passa precisamente por manter o maior número de ciclistas da actual equipa, mas Nuno Ribeiro deixa uma palavra para aqueles que consigam um contrato com uma formação estrangeira. "Se algum conseguir dar o passo internacional, acho que é mérito deles e da equipa. Fico contente com isso", referiu. O seu trabalho passa por assegurar que a W52-FC Porto possa continuar no caminho que tem estado a percorrer, nomeadamente no da consolidação da estrutura, pois mantém-se o desejo de subir de escalão: "2018 é impossível, mas o objectivo é 2019."


"Na Volta a Portugal, ganhou o melhor e o melhor... é a equipa em termos gerais"

"Estamos a trabalhar para isso. Os patrocinadores estão a envolver-se nesse projecto, não só no que temos agora, mas também no de subir de escalão. Estão a ficar mentalizados para que isso possa acontecer e isso é importante", salientou Nuno Ribeiro, que admitiu que ter uma equipa como Profissional Continental também poderá dar outro poder de negociação com os ciclistas quando chega o momento da renovação. "Se calhar conseguimos dar um calendário e as condições que eles desejam e a partir daí é mais fácil", frisou. Tanto Amaro Antunes como Joaquim Silva assinaram por equipas precisamente do escalão Profissional Continental.

Numa equipa com vários ciclistas com potencial para liderar e conquistar vitórias, Nuno Ribeiro soube tirar o melhor rendimento de todos. Gerir egos e ambições nem sempre é trabalho fácil, mas o director desportivo mostrou que é possível manter todos felizes e motivados. "É importante conseguir gerir [a equipa]. Tentamos dar a oportunidade a cada um durante o ano. Depois, na Volta a Portugal, ganhou o melhor e o melhor... é a equipa em termos gerais. É nesse objectivo que temos de trabalhar [na equipa] e foi o que fez a maior diferença", salientou.


"[O Gustavo Veloso] é um líder que nós respeitamos e vai continuar a sê-lo"

Depois de uma temporada marcada pela vitória no Malhão, na Volta ao Algarve, de Amaro Antunes, que venceu ainda a Clássica da Arrábida e o Troféu Joaquim Agostinho, a conquista da Volta às Astúrias de Raúl Alarcón, que ganhou também o Grande Prémio Jornal de Notícias e o das Beiras e Serra da Estrela, a W52-FC Porto chegou à Volta a Portugal como a super favorita para continuar o domínio que começou em 2013 com a vitória Alejandro Marque, na então chamada OFM-Quinta da Lixa. "Foi uma boa época. A equipa cumpriu os objectivos a que se propôs e, se calhar, mais alguns."

Em 11 dias de competição na Volta a Portugal, os ciclistas da formação do Sobrado ganharam seis etapas, Alarcón vestiu a amarela logo ao segundo dia, Amaro Antunes foi o rei da montanha, a equipa venceu a classificação colectiva, o corredor espanhol e o português fecharam no primeiro e segundo lugar e António Carvalho foi sexto. Um domínio quase completo. Mas será que estaria planeado? Nuno Ribeiro sorri e limita-se a dizer: "Tínhamos o objectivo de ganhar a Volta e treinámos para isso."

Gustavo Veloso esteve aquém do esperado. Surgiu como líder e mesmo sendo o dono da camisola amarela, Alarcón sempre foi referindo que era Veloso o número um da equipa. No entanto, na etapa da Serra da Estrela (a penúltima), o espanhol ficou para trás e perdeu mais de 40 minutos. No dia seguinte ganhou o contra-relógio final, depois de já ter vencido a tirada que terminou em Viana do Castelo. Em Janeiro fará 38 anos, mas Nuno Ribeiro mantém a confiança no ciclista: "O Gustavo Veloso é o líder da equipa desde há muito tempo. É um líder que nós respeitamos e vai continuar a sê-lo. Ele é muito importante em termos de grupo e, por isso, é o ideal para estar na nossa equipa."

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Vinokourov quer processar Fabio Aru

Alexander Vinokourov não se conforma por ter ficado sem um ciclista de referência para as grandes voltas em 2018. A saída de Fabio Aru parecia estar mais do que anunciada, depois de vários meses de notícias que davam conta do desejo do italiano em procurar uma nova equipa e das exigências salariais deste. No entanto, o director da Astana continua a dizer que de nada sabia e que só teve conhecimento que o seu ciclista não iria renovar pelos meios de comunicação social. O cazaque reitera que agora é tarde para contratar um corredor de destaque e, por isso, sente-se lesado.

"Agora é com os advogados. Ele não nos deu outra escolha. Ele deveria ter dito [que queria sair] logo a seguir à Volta a França, de forma a chegarmos a um acordo amigável", explicou Vinokourov ao site do seu país Vesti.kz. As declarações estão a ter repercussão nos media internacionais, com o responsável da Astana a salientar que poderia "ter utilizado o orçamento para assinar um ciclista como Rigoberto Uran. "Havia tempo depois da Volta a França, mas saber apenas há duas semanas significa que é impossível assinar com alguém. Todos os ciclistas têm contrato. Por isso, os advogados vão decidir", afirmou.

A Astana perdeu em dois anos as suas duas figuras para as grandes voltas. Vincenzo Nibali não quis ser segunda escolha atrás de Aru e foi para a Bahrain-Merida e agora é o outro italiano, que esteve seis anos na equipa. "Vamos exigir alguma compensação dele por danos causadas por termos ficado sem um ciclista de topo. Estamos agradecidos por ter ficado tanto anos na nossa equipa, por isso é desagradável, mas foi ele que escolheu este caminho", disse Vinokourov.

Além de Rigoberto Uran - que renovou com a Cannondale-Drapac -, a Astana terá estado interessada em Nairo Quintana e Mikel Landa. Algumas notícias deram conta de um possível aliciamento para que o colombiano quebrasse contrato com a Movistar, depois de uma temporada em que a relação com o director Eusebio Unzué se terá deteriorado. Já Landa tinha o seu vínculo com a Sky a terminar e era claro que o espanhol queria deixar de ser uma figura secundária. Porém, não quis regressar à Astana, onde tinha estado antes de se mudar para a Sky. Assinou pela Movistar.

Oficialmente estas alegadas propostas não foram confirmadas, pelo que Vinokourov mantém-se fiel ao discurso de que nada sabia da pretensão de Fabio Aru em sair. O contrato preveria que se a Astana igualasse uma outra proposta, o italiano ficaria. Desconhece-se o que aconteceu neste aspecto, mas conhecida e oficializada é a mudança para a UAE Team Emirates, onde será colega de Rui Costa.

Miguel Ángel López (23 anos) e Jakob Fuglsang (32) serão os ciclistas que terão de assumir a responsabilidade no Giro, Tour e Vuelta. Se quanto ao colombiano há uma enorme curiosidade para saber como irá reagir a este papel, que mais cedo ou mais tarde lhe seria entregue, já quanto ao dinamarquês há grandes dúvidas. Fuglsang comprovou esta época que poderá ser uma boa aposta para as corridas de uma semana, mas não convence para ser líder numa de três. Mas poderá ter a oportunidade para mostrar que é uma boa escolha.


29 de outubro de 2017

Os 18 colegas de Amaro Antunes na sua nova equipa

(Fotografia: Stiehl Photography/CCC Sprandi Polkowice)
A CCC Sprandi Polkowice já fechou o seu plantel para 2018. Num primeiro passo para arrancar com a preparação para a próxima temporada houve um encontro informal entre os ciclistas, que teve o objectivo de criar união na equipa, apresentando ainda as novas caras. Amaro Antunes é a grande aposta da CCC, que também garantiu Marko Kump, esloveno de 29 anos que esteve nos últimos dois anos na estrutura da actual UAE Team Emirates (colega de Rui Costa). Passou anteriormente pela Tinkoff. Enquanto o português será o líder em corridas por etapas, Kump terá a responsabilidade de lutar por resultados nas clássicas e também em sprints.

O polaco Kamil Gradek (27 anos) deixa a One Pro Cycling pela principal equipa do seu país e terá a companhia dos compatriotas Pawel Bernas (27, está na Domin Sport), Pawel Cieslik (31, Elkov-Author Cycling Team) e Pawel Franczak (26, Team Hurom). Este trio está em equipas do escalão Continental. O director Piotr Wadecki reforçou a equipa de forma a suprir algumas saídas, mas também conseguiu manter ciclistas importantes, como Jan Tratnik. O esloveno é um excelente contra-relogista e nos últimos dois anos (tem 27) tem estado cada vez melhor em corridas de uma semana. Esta temporada ganhou a Volta à Eslováquia. Tratnik poderá ser um importante homem de trabalho para Amaro Antunes em algumas competições.

A CCC Sprandi Polkowice volta a ser um misto de muita juventude e alguma experiência, com apenas seis ciclistas a não serem polacos: Amaro Antunes, Jan Tratnik, Marko Kump, o alemão Jonas Koch (24) e os checos Michal Schlegel (22) e Frantisek Sisr (24). A restante equipa é composta por: Alan Banaszek (19), Piotr Brozyna (22), Adrian Kurek (29), Kamil Malecki (21), Lukasz Owsian (27), Michal Paluta (22), Leszek Plucinski (27), Patryk Stosz (23) e Mateusz Taciak (33).

Com as novas regras da UCI a determinarem equipas mais pequenas nas corridas - oito ciclistas nas grandes voltas, sete nas restantes (menos um do que se verificava até agora) -, a CCC seguiu o exemplo da maioria das formações dos diferentes escalões e reduziu o seu plantel. De 22, passa a ter 19 ciclistas. Jan Hirt, a revelação checa no Giro, assinou pela Astana, enquanto a promessa austríaca Felix Grossschartner vai para a Bora-Hansgrohe. O búlgaro Nikolay Mihaylov irá representar a formação francesa Delko Marseille Provence KTM.

Entre os seis que não renovaram contrato e procuram definir o seu futuro, a maior surpresa foi Maciej Paterski. O polaco de 31 anos era um dos mais experientes da equipa, sendo conhecido como um corredor de ataque, sempre à procura de entrar em fugas. Entre 2010 e 2013 competiu no World Tour, naquela que começou por ser a equipa Liquigas e que acabaria como Cannondale. Paterski explicou que chegou a acordo sobre a renovação com o director geral Dariusz Wadecki, mas que depois os termos foram alterados e foi-lhe dado um ultimato: ou aceitava ou teria de esperar. Escolheu a segunda hipótese. Em declarações ao site Ciclismo Internacional, o polaco salientou que chegou a falar sobre o seu calendário para 2018 e tirou as medidas para o novo equipamento. No entanto, foi surpreendido com a informação que o plantel estava fechado e o seu nome não fazia parte do grupo.

Definida a equipa da CCC Sprandi Polkowice para 2018, agora é aguardar por 1 de Janeiro para ver Amaro Antunes com o novo equipamento e em Fevereiro é de esperar que esteja na Volta ao Algarve, certamente com o objectivo de, pelo menos, tentar repetir a vitória no "seu" Alto do Malhão.

Quanto ao encontro informal, realizou-se na cidade de Karpacz e teve uns momentos bem radicais...


28 de outubro de 2017

Rádio Popular-Boavista procura novo reforço depois de Sola ter sido suspenso por suspeita de doping

(Fotografia: Caja Rural)
Aos 25 anos, Manuel Sola preparava-se para reforçar a Rádio Popular-Boavista em 2018. O espanhol seria um dos dois ciclistas que a equipa portuguesa iria buscar à Caja Rural. No passado dia 17 foi anunciada a contratação de Sola e de Óscar Pelegrí. No entanto, a do primeiro ficou sem efeito quando a formação teve conhecimento do teste anti-doping positivo do corredor e que levou a federação espanhola a suspendê-lo.

Segundo o site Ciclo21, Manuel Sola deu positivo por testosterona e encontra-se suspenso desde 4 de Outubro. A amostra foi recolhida durante a Volta a Navarra, que se realizou entre 26 e 28 de Maio, corrida em que o espanhol terminou no quinto lugar. "O Manuel Sola nem chegou a ser inscrito. Houve acordo e foi anunciado, mas antes de assinarmos ele informou o Boavista do sucedido. Portanto, nem chegou a ser corredor do Boavista. Vamos agora procurar outro ciclista", afirmou José Santos, director desportivo da equipa portuguesa, ao jornal O Jogo.

Já Juanma Hernández, responsável da Caja Rural tem razões para estar muito insatisfeito com o sucedido. Há um ano teve de lidar com outro caso de doping, quando Alberto Gallego foi suspenso por quatro anos devido à detecção de estanozol, um esteróide anabolizante. O ciclista, que tinha antes estado ano e meio no Boavista, foi despedido da formação espanhola. Hernández considera que este novo caso de suspeita de doping - Manuel Sola já pediu a contra-análise - é prejudicial para a imagem da Caja Rural, garantindo que irá ser reforçado o controlo aos seus ciclistas.

"Creio que somos a única equipa de elite e sub-23 em Espanha que realiza controlos internos ao sangue dos nossos corredores. Gastamos muito dinheiro com eles. A testosterona só é detectada na urina e não no sangue, assim que tomámos nota para o próximo ano", salientou, citado pelo site Ciclo21.

Manuel Sola tem tentado estabelecer-se no ciclismo e até alcançou este ano alguns resultados interessantes, que terão despertado o interesse da Rádio-Popular-Boavista. Em 2014 passou pela estrutura sérvia da Keith Mobel-Partizan, em 2016 esteve na Burgos-BH e nesta temporada a Caja Rural deu-lhe a oportunidade para se mostrar em algumas corridas com a equipa de elite, depois de ter feito parte do ano na formação amadora. Esteve inclusivamente em algumas provas em Portugal: foi sexto na Clássica da Arrábida, 16º na Clássica Aldeias do Xisto, 11º no  Grande Prémio de Torres Vedras-Troféu Joaquim Agostinho, com um sexto lugar na chegada ao Alto de Montejunto.

Veterano russo assina pela Rádio Popular-Boavista

José Santos procura agora um substituto para o espanhol, uma situação inesperada já que apenas faltava fechar mais um ciclista quando foram anunciados os nomes de Sola e Pelegrí. Yuri Trofimov deveria ter sido o último reforço. O veterano ciclista, com experiência de World Tour, irá estar em 2018 ao lado do compatriota Egor Silin, que renovou por mais um ano.

Trofimov tem 33 anos e esteve cinco na Katusha - onde também competiu Silin - antes de em 2016 mudar-se para a Tinkoff. Foi gregário de Alberto Contador e colega de Sérgio Paulinho, mas com o fim da equipa, o experiente ciclista não conseguiu continuar ao mais alto nível. Assinou pela Caja Rural em 2017, mas nunca competiu pela formação espanhola e acabou por desvincular-se em Julho.

Falta então um ciclista para fechar o plantel que em 2018 continuará a contar além de Silin com Domingos Gonçalves, João Benta, David Rodrigues, Luís Gomes e Filipe Cardoso.


27 de outubro de 2017

AG2R com retorno publicitário que foi muito além dos 15 milhões investidos na equipa

(Fotografia: Facebook AG2R La Mondiale)
Patrocínios e ciclismo. É raro passar um ano que não se fale de como esta relação é instável e como tão rapidamente uma equipa pode acabar. Em 2016 foi a Lampre-Merida que esteve em risco, mas agora chama-se UAE Team Emirates e está a tornar-se nas mais ricas do pelotão. Em 2017 foi a Cannondale-Drapac, que passará a ser a EF Education First-Drapac powered by Cannondale na próxima época e também a Quick-Step Floors, que ainda se aguarda para saber se terá novo nome, já que com as renovações em curso, está garantida a continuidade. Estes são apenas os casos mais recentes e que até tiveram um final feliz. Mas afinal quanto é o retorno publicitário de uma empresa que patrocina uma equipa de ciclismo profissional?

Nem sempre são números divulgados, mas a AG2R La Mondiale fá-lo, sendo um exemplo de sucesso. Longo sucesso, tendo em conta que a empresa de seguros entrou em 1997 na estrutura como segundo patrocinador, então Casino-AG2R Prévoyance, e em 2000 passou a ser o principal, apenas como AG2R Prévoyance. Desde 2008 que tem o nome actual. Quanto ao retorno publicitário, a AG2R anunciou que foi de 100 milhões de euros em 2017. Para quem investiu 15 milhões... Desse total, cerca de 55 milhões dizem respeito à Volta a França, sem grande surpresa, ainda mais tendo em conta a boa prestação de Romain Bardet, que venceu uma etapa e subiu ao terceiro lugar do pódio em Paris.

Os dados recolhidos pela empresa de marketing Kantar TNS revelam que a maioria das pessoas sabem que a AG2R patrocina uma equipa de ciclismo, sendo também a formação francesa mais popular no país pelo terceiro ano consecutivo (não é uma boa notícia para a FDJ!).

A AG2R La Mondiale já garantiu o patrocínio até 2020 e está igualmente assegurado que o ciclista que os franceses mais esperam que possa acabar com o jejum de de 32 anos de vitórias gaulesas na geral, também ficará até essa temporada: Romain Bardet, pois claro. Esta segurança financeira da estrutura não surge apenas pelo bom retorno publicitário deste ano. Estes valores altos - recolhidos entre Janeiro e Setembro - têm sido frequentes.. Em 2015 o retorno foi de 130 milhões. Um valor que o director-geral da AG2R, André Renaudin, pensava ser possível atingir também em 2017. Depois da Volta a França, o responsável disse à BFM Business que o mínimo esperado era 100 milhões. Assim foi.

Nessa mesma entrevista, Renaudin salientou como nos últimos dez anos, o investimento na equipa de ciclismo foi subindo de 10 milhões até aos actuais 15. É certo que a Sky, por exemplo, tem mais do dobro, mas há motivos para satisfação quanto aos resultados, como quanto ao retorno publicitário. Certamente que ajuda ter ou já ter tido alguns dos ciclistas franceses mais acarinhados pelo público, como Jean-Christophe Peraud (segundo no Tour em 2014), John Gadret (terceiro no Giro em 2011) e Christophe Riblon (vencedor de duas etapas no Tour e que termina a carreira este ano, depois do seu contrato não ter sido renovado).

E para 2018 as expectativas são grandes. Bardet será a referência, Pierre Latour a estrela em ascensão e Tony Gallopin a grande contratação (deixa a Lotto Soudal no final do ano). Isto entre os franceses, porque para as clássicas é um belga que está a trazer o maior rendimento para a AG2R: Oliver Naesen.



26 de outubro de 2017

"Ainda há muito o preconceito que só os rapazes é que têm futuro no ciclismo"

(Fotografia: João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo)
É apelidada como um dos maiores talentos da nova geração do ciclismo feminino. Soraia Silva sorri, mas diz que não se identifica com o rótulo, realçando que "apenas" trabalha todos os dias para atingir os seus objectivos. Aos 18 anos (quase 19) é aposta regular nas selecções de estrada e pista, agora no escalão de sub-23. Estuda enfermagem, quer um dia estar numa grande clássica belga e seguir os passos de Daniela Reis, a primeira portuguesa a chegar ao World Tour. Sabe bem o que é sacrificar-se para fazer o que gosta, mas está disposta a continuar e realizar os seus sonhos. Confessou ainda que a pista foi um amor à primeira vista.

Soraia Silva ainda tem dificuldades em descrever-se como ciclista. Gosta de todo o tipo de terreno, diz ser "multifunções". Provas por etapas ou de um dia, o que quer é correr. Porém, quando foi chamada para competir em pista, nos Europeus e Mundiais, a experiência fez com que nascesse uma paixão. "Logo na primeira prova foi uma satisfação enorme. É uma adrenalina diferente. É um mundo diferente", realçou. "Costumo dar o exemplo que só vivemos verdadeiramente o ciclismo de estrada se formos correr. Nunca estive numa grande clássica, com aquele público fantástico, mas não se vive da mesma forma que na pista. Ali, esteja-se ou não a correr, há sempre aquele ambiente... Nós choramos a ver os outros a correr... A ver o Ivo ou o Rui [Oliveira] a ganhar... Foi uma grande experiência. O ambiente e a equipa, foi tudo extraordinário", acrescentou.

"O meu dia é ir à universidade, treinar, estudar e dormir. Não é fácil! Mas é uma questão de organizar o meu tempo e saber geri-lo"

Apaixonou-se pela pista, mas não perdeu o amor pela estrada, onde já foi conquistando vitórias com a camisola da Bairrada. É de Cantanhede, mas foi para Coimbra devido aos estudos. "O meu dia é ir à universidade, treinar, estudar e dormir." Faz a descrição não com o peso de um sacrifício, mas com a convicção de que é possível conciliar todos os aspectos da sua vida. "Não é fácil! Mas é uma questão de organizar o meu tempo e saber geri-lo", frisou. Não fala em prioridades, preferindo garantir que consegue conjugar os estudos com a vida de atleta.

Soraia Silva treina para seguir os passos de Daniela Reis e recordou um exemplo de como se sacrifica: "No ano passado houve muitas provas em Espanha. Nós vínhamos no domingo à noite ou segunda-feira de manhã e à tarde tinha uma frequência. Quase não estudei. Mas faz-se tudo!"

Espera ter a oportunidade de sair de Portugal. Uma boa oportunidade. Fazer carreira no país "é quase impossível". "O nosso ciclismo feminino evoluiu nos últimos anos, mas ainda não se pode fazer carreira aqui", afirmou. E não é fácil ser ciclista e mulher em Portugal: "Ainda há muito o preconceito que só os rapazes é que têm futuro no ciclismo. É para muita gente estranho ver uma rapariga equipar-se todos os dias e dar uma volta de bicicleta, mas são mentalidades que mudam com o tempo. Espero que isso aconteça. Nós trabalhamos como os rapazes."

Soraia Silva poderá ser uma das jovens que vai abrindo caminho para que o ciclismo feminino vá ganhando maior expressão. Porém, apesar de ficar "agradada" por a considerarem um dos grandes talentos, Soraia quer concentrar-se no que tem de fazer para que possa chegar às grandes competições internacionais. "Tenho um sonho de fazer uma daquelas clássicas belgas." E o Giro (principal prova por etapas das senhoras)? "Eu aceito tudo!"



25 de outubro de 2017

Alarcón renovou. Proposta financeira da W52-FC Porto foi melhor do que a da Movistar

(Fotografia: Podium/Volta a Portugal)
Quando se diz que o dinheiro não é tudo, o caso de Raúl Alarcón é o exemplo disso mesmo. O espanhol estava há várias semanas a estudar propostas para 2018, mas sempre foi dizendo que ficar na W52-FC Porto era uma hipótese bem provável. A tentar seduzi-lo estava a Movistar e haveria o interesse de outra equipa do World Tour e não só. Porém, o vencedor da Volta a Portugal salientou que havia muitos pormenores a ter em causa e um deles era o facto de se sentir valorizado na formação portuguesa, onde encontrou estabilidade e confiança que o levaram este ano a conquistar grandes vitórias. O apelo da Movistar certamente que seria tentador, ainda mais para quem ambiciona estar na Volta a Espanha, mas não convenceu o ciclista. Raúl Alarcón vai mesmo ficar na equipa do Sobrado e Nuno Ribeiro pode respirar de alívio.

Depois da saída de Amaro Antunes, o director desportivo não queria perder mais um dos seus líderes. "Aqui sinto-me valorizado e demonstram-me ano após ano. Aqui desfruto do ciclismo. Aqui me respeitam e me sinto querido. Agradeço a confiança da equipa e trabalharei o máximo para conseguir novas vitórias em 2018", afirmou Alarcón, no site da da W52-FC Porto. "Valorizado" é uma palavra chave nesta escolha do espanhol que, recorde-se, ainda muito novo chegou ao mais alto nível do ciclismo, mas devido a casos de doping na formação onde estava, não só baixou de escalão, como chegou a ser amador e a pensar em abandonar.

Foi em Portugal que relançou a carreira e foi por cá que, aos 31 anos, viveu a sua melhor temporada, com vitórias na Volta às Astúrias, no Grande Prémio Jornal de Notícias, GP Beiras e Serra da Estrela e, claro, na Volta a Portugal. Está há três temporadas na actual equipa, depois de passagens pelo Louletano e Efapel.

O dinheiro pode não ser tudo, mas tem o seu peso, ainda mais quando se fala em carreiras curtas, como a de um atleta. Quando em causa está a Movistar é difícil não pensar que o ordenado só pode ser melhor. No entanto, segundo o site Ciclo21, não foi isso que aconteceu. O director da formação espanhola, Eusebio Unzué terá oferecido 31 mil euros num contrato válido por um ano, com possibilidade de ser renovado. No site lê-se que a W52-FC Porto lhe terá dado mais do dobro. E como é salientado no Ciclo21, Alarcón receber um ordenado mais alto numa equipa da terceira divisão do que se fosse para a espanhola do World Tour.

Alarcón escolheu assim continuar como líder, em detrimento de se tornar um gregário de Nairo Quintana, Mikel Landa e/ou Alejandro Valverde. Ganha a W52-FC Porto e ganha o pelotão nacional que vê ficar um dos melhores ciclistas. Outro factor a ter em conta é que a equipa está a preparar a subida de escalão, para o Profissional Continental, que poderá acontecer em 2019.

De referir ainda que Raúl Alarcón foi o escolhido para receber o Dragão de Ouro, sucedendo assim a Rui Vinhas, que em 2016 ganhou a Volta a Portugal.


24 de outubro de 2017

UCI receia que rádios possam ajudar apostas ilegais. Novo presidente quer proibi-los em algumas corridas

(Fotografia: Federação Francesa de Ciclismo/Wikimedia Commons)
No que diz respeito a palavras, o novo presidente da UCI, David Lappartient não se está a poupar. Quer mudar regras e até quer que o chamado doping mecânico seja mesmo considerado um crime. Desde que foi eleito durante nos últimos Mundiais, em Setembro, Lappartient tem estado activo em revelar as suas intenções e agora relança um velho debate: o uso de rádios. De quando em vez lá regressa a discussão sobre a utilização desta tecnologia, mas desta agora vai muito mais além de uma disputa entre aqueles que defendem um ciclismo mais puro, digamos assim, e os que apoiam a evolução tecnológica que acompanha qualquer modalidade. O dirigente avisa que há o perigo da utilização dos rádios puderem facilitar apostas ilegais na internet.

"Pode-se comunicar directamente com o ciclista durante a corrida. Oficialmente a ligação parte do carro da equipa para o corredor, mas tecnologicamente não há nada que previna que eu ou você ouça quem veste a camisola amarela no Tour, certo?" A expressão levou a que fosse de imediato questionado se David Lappartient estava a sugerir que um ciclista como Chris Froome, por exemplo, poderia ir mais rápido ou devagar porque alguém teria feito uma aposta. Para o responsável não há dúvidas que a resposta é sim.

"As apostas desportivas são como um iceberg. 90% são ilegais e acontecem por baixo da linha de água. É assim no futebol, ténis ou andebol", referiu Lappartient em entrevista ao jornal belga Het Laatste Nieuws. Considerando que pode-se tornar um problema grave, o dirigente quer agir: "Não quero chegar ao dia em que o ciclismo, quando tiver saído do buraco do doping e de ter com sucesso combatido a fraude mecânica, estar dominado pela corrupção e escândalos de apostas. A UCI não tem um único artigo nos seus regulamentos."

Lappartient frisou que não quer que pensem que o organismo é débil no combate à fraude tecnológica, pelo que a utilização dos rádios entra desde já na sua agenda e nos próximos Mundiais, em Innsbruck, na Áustria, poderão ser proibidos. "Os ciclistas não precisam de tanta informação", defendeu, acrescentando que também irá aplicar a mesma medida noutras competições. Não há dúvidas, o debate está mesmo relançado e é de esperar reacções.

Mal foi eleito, o novo presidente disse logo em plenos Mundiais que queria acabar com o contra-relógio por equipas nesta competição, mas essa é apenas pequena decisão comparada com outras. Lappartient quer acabar com o uso de corticóides e do medicamento Tramadol (ajuda a aliviar as dores). O dirigente considera que é necessário "agir urgentemente contra o mau uso de cortisona", dizendo que a WADA (agência mundial anti-doping) não lhe consegue informar se os ciclistas que a usam estão a ter uma performance mais baixa. "Se estivessem, não a usariam", afirmou. Lappartient alerta que em causa está a saúde do ciclista, mas a UCI apenas poderá tentar convencer a WADA a integrar as substâncias em causa na lista de produtos proibidos, não podendo ela própria os banir.

Em mais uma luta, Lappartient quer ter a certeza que ninguém está a decorrer ao doping mecânico no pelotão. Com notícias recentes a darem conta que as actuais formas de detecção podem não ser eficazes, Lappartient não só quer garantir que quem tente enganar seja apanhado, como quer que seja julgado como um criminoso. "Está a fazer batota contra aqueles que jogam de forma limpa. O dinheiro que ganha assim é à custa dos ganhos dos outros. Isso é um roubo", defendeu.

O mandato ainda agora começou, depois de ter derrotado nas eleições o então presidente Brian Cookson, pelo que há que esperar para ver quando Lappartient passa das palavras aos actos.

»»Astana tem dinheiro mas não chega para segurar os seus líderes««

»»Unzué contra o pavé na Volta a França. E muito se vai falar da Movistar até ao Tour...««

23 de outubro de 2017

"Com uma equipa mais forte, o Vicente estaria de amarelo antes da etapa da Serra da Estrela"

Jorge Piedade está orgulhoso do que Vicente García de Mateos tem alcançado, como
a vitória na Clássica Aldeias do Xisto (na foto) e, claro, a exibição na Volta a Portugal
O orçamento pode não ser dos maiores, mas o Louletano-Hospital de Loulé realizou uma época extremamente positiva, com vitórias e claro com destaque para a exibição na Volta a Portugal. Jorge Piedade é um director desportivo satisfeito, mas agora só pensa em conseguir mais e melhor em 2018. E diz mesmo: "Podem estar atentos ao Louletano." A começar pela Volta ao Algarve. A correr em casa, o responsável quer estar bem logo no arranque de temporada, ainda mais sendo uma prova de referência internacional.

Porém, é hora de o fazer balanço de 2017 e preparar a equipa para a próxima temporada. Vicente Garcia de Mateos vai continuar, assim como Luís Mendonça, David de la Fuente, Oscar Hernandez, Rui Rodrigues e André Evangelista. Luís Fernandes será reforço, depois de dois anos no Sporting-Tavira e de três na estrutura agora com o nome de W52-FC Porto, que ficará sem Juan Ignacio Perez, que também ruma à formação algarvia. Márcio Barbosa regressa à elite nacional, depois dois anos no A.C.D.C. Trofa. 

"Penso que poderei fazer uma equipa bastante boa e equilibrada para estar com o Vicente", disse Jorge Piedade ao Volta ao Ciclismo. O espanhol afirmou-se definitivamente em 2017 como uma das figuras do pelotão nacional. Venceu a Clássica Aldeias do Xisto, depois o Grande Prémio Abimota e, claro, a vitória na etapa de Oliveira de Azeméis e o terceiro lugar na Volta a Portugal foram os pontos altos da temporada.


"Eu sabia que o Vicente ia discutir a Volta a Portugal. Eu disse a muita gente, mas ignoraram-no um pouco e de alguma forma ficaram surpreendidos"

Jorge Piedade acredita que apesar do excelente resultado, poderia ter sido melhor. A perda de Luís Mendonça, antes da Volta, e de Oscar Hernandez logo no arranque da corrida condicionaram um pouco a estratégia. O director desportivo não tem dúvida: "Com uma equipa mais forte, o Vicente estaria de amarelo antes da etapa da Serra da Estrela." Foi nesse dia, o penúltimo da Volta, que o sonho se desmoronou. Jorge Piedade não coloca em causa a qualidade da W52-FC Porto, muito pelo contrário, deixa elogios, mas defende a exibição da sua equipa durante toda a Volta a Portugal.

"Ficámos orgulhosos. Sabíamos das nossas limitações, mas trabalhámos para segurar os corredores, nomeadamente da W52-FC Porto. Tentámos controlar a Volta com a equipa que tínhamos", explicou. Na Serra da Estrela não houve nada a fazer perante o poderio de Amaro Antunes e Raúl Alarcón - que ficariam nos dois primeiros lugares do pódio final - que unidos destroçaram a concorrência. O espanhol do Louletano-Hospital de Loulé acabou por ter pouca ajuda na perseguição. O terceiro lugar de Vicente García de Mateos pode ter surpreendido alguns, mas não Jorge Piedade: "Eu sabia que o Vicente ia discutir a Volta a Portugal. Eu disse a muita gente, mas ignoraram-no um pouco e de alguma forma ficaram surpreendidos. Não contavam que o Vicente andasse tanto."


"Quero mais. Sou ambicioso e gosto de andar no ciclismo para ganhar. É uma maneira de estar"

Em 2016 foi oitavo e as exibições durante esta temporada até apontavam como um ciclista a aparecer forte na Volta. Porém, ainda assim, surgiu muito como outsider. Agora a atenção dos rivais será outra. "O Vicente tem qualidades que muitos não têm, como por exemplo na chegada ao sprint, anda bem no contra-relógio e na montanha está com eles", disse o responsável. E realçou: "Para a Volta a Portugal é perfeito. O Vicente é um grande ciclista."

A evolução deste espanhol de 29 anos tem sido notória, estando cada vez melhor na montanha. Ganhar a Volta a Portugal é a ambição, brilhar no Algarve também e claro que durante 2018 o Louletano-Hospital de Loulé quer estar novamente bem e não se concentrar apenas nas principais competições do calendário. "Quero mais. Sou ambicioso e gosto de andar no ciclismo para ganhar. É uma maneira de estar", afirmou Jorge Piedade.

No próximo ano há já outra mudança confirmada. Há dias foi anunciado que o nome da equipa irá mudar. A partir de 1 de Janeiro será a Aviludo-Louletano. Como curiosidade, o novo patrocinador a equipa de Loulé é uma empresa especializada na indústria, comércio e distribuição de produtos alimentares.


22 de outubro de 2017

Astana tem dinheiro mas não chega para segurar os seus líderes

Dinheiro não é problema, mas não é suficiente e a Astana é exemplo disso. A equipa do Cazaquistão não consegue segurar os seus líderes das grandes voltas. Em dois anos perde as duas referências, que conquistaram as três competições e no final de 2015 saiu aquele que tinha todo o potencial para vir a assumir essa função, Mikel Landa. Vincenzo Nibali bateu com a porta, depois de ter dado à Astana dois Giros e um Tour, agora é Fabio Aru que se prepara para dizer adeus, depois de uma Vuelta ganha em 2015. Assinou pela UAE Team Emirates de Rui Costa. Ambos os italianos não parecem sair com a melhor das relações com o director Alexander Vinokourov. Mas este não é problema que se resume ao antigo ciclista. Alberto Contador, por exemplo, saiu no final de 2010 e deixou a equipa orfã de uma referência, depois de no ano antes dois dos principais nomes terem estado no plantel: o espanhol e Lance Armstrong.

Essa foi uma época que ainda hoje é recordada, principalmente pela clara divisão que havia na equipa. Mas são outras histórias. Agora a Astana volta a ficar não sem ninguém, mas com alguém com pouca experiência e ainda muito jovem. Miguel Ángel López tem a oportunidade de ouro de ser a única escolha para as grandes voltas. Jakob Fuglsang ganhou o Critérium du Dauphiné - de forma brilhante, diga-se - mas não convence para as três semanas. López tem apenas 23 anos e a sua afirmação tem sido um pouco aos soluços devido a quedas. Porém, depois de muitos meses sem competir por uma fractura na perna, o colombiano chegou à Vuelta, venceu duas etapas e fez oitavo na geral. Estará pronto para assumir a candidatura a um pódio, pelo menos?

Vinokourov não terá hipótese senão tentar apostar em López, se o mercado não trouxer nenhuma surpresa de última hora. Certo é que não terá um ciclista de renome disponível. E não foi por falta de tentativa. Perante a mais que certa saída de Aru, o responsável cazaque tentou tudo: levou um não de Rigoberto Uran, que preferiu ficar na estrutura da Cannondale-Drapac após ficar garantido um novo patrocinador para 2018; tentou explorar a relação mais distante entre Eusebio Unzué e Nairo Quintana na Movistar, mas o colombiano quer cumprir contrato com a formação espanhola; ainda tentou o regresso de Mikel Landa, mas depois de ter deixado a Astana há dois anos, nem quis pensar em regressar.

Landa era então um ciclista com futuro e quem bem esteve no Giro de 2015, como gregário de Aru. Agora é uma confirmação que a Astana perdeu um excelente ciclista a quem lhe falta agora uma vitória numa grande volta. Nibali pertence à elite de quem venceu as três e Aru é inevitavelmente uma das principais esperanças italianas de continuar a ganhar depois da Vuelta há dois anos.

A personalidade forte de Vinokourov é bem conhecida. Estes três ciclistas também a têm. Nem sempre é fácil conjugar a vontade de todos. Nibali, por exemplo, saiu mesmo de costas voltadas para o cazaque. Quando percebeu que não haveria hipótese de manter o seu estatuto perante o despontar de Aru, Nibali bateu com a porta e foi para a nova Bahrain-Merida. A Astana não se importou. Afinal tinha a sua nova grande estrela. Porém, este ano deparou-se com a intenção do italiano seguir o seu caminho. É certo que Aru estava a pedir um ordenado bem alto (fala-se em mais de dois milhões por ano), mas esse não terá sido o problema. As declarações de Vinokourov deixam transparecer que havia algo mais.

"Nunca comentou o seu desejo de sair. Questionámos regularmente sobre o seu futuro e nunca recebemos resposta", disse ao L'Equipe. O responsável disse mesmo que soube da assinatura com a UAE Team Emirates pela imprensa, criticando a atitude porque agora a Astana fica "numa situação complicada para contratar", por ser "demasiado tarde". Que Vinokourov não soubesse das intenções de Aru, ninguém acredita, mas denota que a comunicação entre os dois já não era a melhor...

Numa perspectiva de quem gosta de ciclismo, poder ver López a ter mais oportunidades é óptimo, tendo em conta que é um ciclista que dá espectáculo e vitórias. É chamado de Superman López e na Colômbia já vai roubando as atenções a Quintana e Uran. Quanto a contratações, o espanhol Omar Fraile é um bom corredor para lutar por etapas e gosta muito de tentar as camisolas da montanha. Jan Hirt será a curiosidade. Este checo de 26 anos esteve muito bem no Giro, ao serviço da CCC Sprandi Polkowice - futura equipa de Amaro Antunes -, mas falta saber como será a sua adaptação ao World Tour. Talento tem, mas às vezes não chega.

Este ano a Astana perdeu Michele Scarponi pela pior das razões. Era um ciclista muito importante, mesmo estando relegado a um papel secundário. Com a saída de Aru, não só poderia reassumir uma liderança, como aliás estava previsto acontecer no Giro100 antes do atropelamento mortal, como seria essencial para ajuda à "educação" de López.

Não se adivinha uma época de 2018 fácil para a Astana, que já passou por momentos idênticos - quando Contador saiu - e acaba sempre por reaparecer em grande. Até porque, lá está, dinheiro não é problema. Já a comunicação...

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21 de outubro de 2017

A vez de Ivo Oliveira. Mais uma medalha para Portugal

(Fotografia: Roberto Bettini/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Ao perder uma final fica inevitavelmente uma sensação de derrota, mesmo que ela venha acompanhada por uma medalha de prata. Talvez seja por isso que tenha custado a Ivo Oliveira sorrir quando subiu ao pódio. Mas tem todas as razões para estar feliz. Esta foi uma medalha de prata ganha e não como compensação por não ter conseguido o ouro. Este foi um excelente resultado para um jovem de 21 anos, que ainda há três meses estava a competir nos Europeus de sub-23 e que agora está a conquistar medalhas na elite e com exibições ao nível dos melhores do mundo. Na sexta-feira Rui Oliveira conquistou a primeira medalha de sempre para Portugal numa competição de pista em elite com o bronze na prova de eliminação, agora o irmão gémeo ganhou a prata na perseguição.

O objectivo mínimo para Ivo Oliveira era disputar pelo menos o terceiro lugar nos Europeus de Berlim. O ciclista foi mesmo à final com o tempo de 4.14.570, um recorde nacional para esta prova de quatro quilómetros e o mais rápido das qualificações. Com a prata garantida, era normal sonhar mais alto. Ivo tentou, mas Filippo Ganna - italiano também de 21 anos, que representa a UAE Team Emirates - geriu melhor o esforço numa final de jovens talentos. Apesar do corredor de Gaia ter saído na frente, Ganna, campeão do mundo em 2016, manteve-se fiel à sua táctica de corrida, recuperando o tempo perdido e deixando Ivo Oliveira a cerca de três segundos.


Ivo Oliveira, Filippo Ganna e o alemão Domenic Weinstein
(Fotografia: Roberto Bettini/Federação Portuguesa de Ciclismo)
"Foi um dia excelente para Portugal. O Ivo fez a melhor corrida de sempre na qualificação, um desempenho fantástico, cumprindo o que ambicionávamos e que tínhamos como objectivo para a competição: a passagem à final. O resultado conseguido é um marco histórico para o ciclismo português, que nos deve orgulhar a todos", salientou o seleccionador nacional Gabriel Mendes, em declarações à Federação Portuguesa de Ciclismo.

A selecção portuguesa superou as expectativas com as duas medalhas. O seleccionador Gabriel Mendes está a tentar garantir um inédito apuramento olímpico nesta vertente e é uma possibilidade que parece cada vez mais provável de se tornar realidade. E há que ter em conta que faltam mais de dois anos para Tóquio2020, dois anos para evolução dos ciclistas com grande margem de progressão, com os gémeos Oliveira à cabeça, mas com mais a apresentarem potencial, casos de César Martingil e João Matias, os restantes eleitos para estarem nestes Europeus de Berlim.

Martingil esteve hoje na corrida por pontos, naquela que foi a sua estreia a este nível, mas não conseguiu terminar. Gabriel Mendes fala de falta de experiência: "O César tem valor e potencial, mas precisa de mais experiência para estar mais preparado para competições com este grau de exigência."

Portugal fecha esta brilhante participação nos Europeus com a participação no madison este domingo. Ivo Oliveira e João Matias serão os representantes.

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20 de outubro de 2017

Martingil previu e Rui Oliveira cumpriu

(Fotografia: Roberto Bettini/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Aí está ela. A primeira medalha de Portugal em pista a nível de elite. Sem surpresa veio de um dos ciclistas que também já as havia conquistado como júnior e sub-23. Os gémeos Oliveira são desde já a referência e o grande exemplo de sucesso do trabalho feito nesta vertente de ciclismo no país e Rui entra para a história como o primeiro a conquistar uma medalha ao mais alto nível. Um bronze que sabe a ouro. Há que dizer directamente: parabéns Rui! E que seja apenas a primeira para o ciclista e para a selecção portuguesa, tanto nestes campeonatos, como para as próximas competições, com os Jogos Olímpicos no pensamento, inevitavelmente.

Este é mais um passo numa vertente tão esquecida em Portugal e que cada vez mais se torna numa modalidade de destaque. Rui Oliveira chegou a Berlim como campeão europeu de eliminação na categoria de sub-23, título conquistado em Anadia. Agora junta o bronze em elite. “Esta medalha tem um sabor igual ou ainda melhor do que a de ouro, em Julho. Passei um mau período, física e psicologicamente, mas as palavras de ânimo dos meus pais, familiares e amigos permitiram-me ir ganhando confiança e vontade de trabalhar. O resultado foi esta medalha de bronze. Isto é incrível", disse o ciclista de 21 anos, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

Rui Oliveira refere-se a mais uma recuperação que teve de fazer, depois de uma queda na Volta a França do Futuro, corrida na qual estava a mostrar-se. Desta feita foi o braço, em 2016 tinha sido a perna... Rui tem sido acompanhado por algum azar, mas tende a reaparecer sempre forte, como quem retira sempre uma motivação extra dos percalços para evoluir mentalmente. Já é claramente uma característica sua: a capacidade de superação. Mesmo não estando no seu melhor, fez uma excelente exibição em Berlim. Sendo ainda tão jovem, esta força mental pode revelar-se determinante no futuro próximo.

Axel Merckx deverá estar bem contente com o seu ciclista, que levou este ano para a Axeon Hagens Berman com o objectivo de conseguir com que Rui - e o irmão Ivo - passe todo o seu talento da pista para a estrada. O ciclista já foi demonstrando que aos poucos vai começando a afirmar igualmente o seu ciclismo na estrada, mas claramente a pista é, para já, onde se vai destacando. Merckx bem disse que iria gerir a temporada com os gémeos de forma a que os dois continuassem na pista. O responsável sabe bem o partido a tirar destas qualidades e destes resultados dos dois portugueses.

Até onde podem Rui e Ivo chegar e uma das questões que muito se coloca. São muito jovens, têm muito a evoluir, mas é difícil não pensar que se está perante dois enormes talentos. Porém, há que deixá-los seguir o seu caminho e que bem estão entregues a Merckx para rumarem na direcção certa.

Ivo entra em acção este sábado. Vai tentar uma inédita final na prova de perseguição. A expectativa é grande e certamente que o resultado de Rui entusiasmou, e de que maneira, a selecção nacional. O apuramento começa às 14:00 e os quatro corredores mais rápidos passam para a fase seguinte, que começará pouco depois das 19:00. 

Também iremos ver César Martingil, que estará na corrida por pontos (17:00). O ciclista da LIberty Seguros-Carglass e que se prepara para assinar o seu primeiro contrato profissional, bem tinha avisado que haveria uma medalha nos Europeus. E porque não duas, ou mesmo três?! Vamos lá sonhar um pouco, mas principalmente lutar muito!

João Matias competiu esta sexta-feira no omnium. E muito lutou. Conseguiu ficar entre os 20 finalistas, mas na última prova das quatro, a corrida por pontos, o corredor da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack não conseguiu segurar o nono lugar, caindo para 13º. Ainda assim ficaram indicações positivas, tal como tinha acontecido nos Mundiais de Hong Kong, em Abril. A experiência que está a ganhar, tanto na pista como na estrada, está a levá-lo a tornar-se cada vez mais inteligente tacticamente. Ao tornar-se numa aposta mais regular do seleccionador Gabriel Mendes, João Matias também já é garantia de alguém com capacidade para disputar bons resultados, ficando a sensação que não tardarão a aparecer.

Perante o resultado de Rui Oliveira até se deixa para segundo plano o campeão europeu! O belga Gerben Thijssen bateu o russo Maksim Piskunov, que ficou com a medalha de prata. Já no omnium, o espanhol Albert Torres esteve brilhante na última corrida, revalidando o título por apenas dois pontos. A prata foi para o surpreendente júnior dinamarquês Julius Johansen e o bronze para o francês Benjamin Thomas.

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»»João Matias optou pelo risco e não compensou... Mas foi tão bonito de se ver!««

Mais um ciclista da Bardiani-CSF com análise positiva de doping. A culpa foi do medicamento da mãe

(Fotografia: Bardiani-CSF)
A situação pode ser grave para a Bardiani-CSF, mas não deixa de ter contornos insólitos. Michael Bresciani teve uma grande oportunidade para lançar a sua carreira aos 22 anos ao ser convidado pela equipa italiana em Junho. A formação estava no rescaldo de um Giro muito complicado, principalmente emocionalmente, depois de no dia antes do arranque da competição ter perdido Stefano Pirazzi e Nicola Ruffoni devido ao doping. Bresciani ajudava assim a colmatar a ausência de dois importantes ciclistas, ainda que não fosse esperado tanto dele, para já, como era dos dois homens entretanto despedidos, após a contra-análise ter confirmado o primeiro teste. O problema é que logo na sua primeira corrida, Bresciani foi chamado ao anti-doping... e deu positivo.

Este é apenas o insólito número um. Há que explicar que a corrida em causa foi o campeonato nacional, competição na qual os ciclistas da Bardiani-CSF podiam competir, apesar da equipa estar a cumprir uma suspensão devido ao doping de Pirazzi e Ruffoni. O italiano acusou um diurético furosemida (utilizado em casos de acumulação de líquido do corpo), mas apresentou imediatamente uma razão para o resultado: a culpa foi de um medicamento que a mãe toma. Insólito número dois, portanto. Este produto é visto, em casos de doping, como forma de eventualmente ocultar a utilização de outras substâncias.

O jovem sprinter explicou o que pensa ter acontecido à Gazzetta dello Sport: "Sei que não fiz nada de errado. O problema é que a minha mãe toma o Lasix [um diurético] às horas das refeições. Enquanto ela dividia terá ido parar ao meu prato." Numa tentativa de sensibilizar a UCI, Bresciani enviou documentação e até um vídeo, no qual a mãe mostra como divide a medicação na tábua de cortar, o que poderá ter contribuído para a contaminação da comida do filho.

A Bardiani-CSF evitou fazer comentários, mas um dos responsáveis, Roberto Reverberi, adiantou que a quantidade detectada foi muito pequena. O insólito do caso não deverá estar a ser ignorado pela UCI, que, ao contrário do que normalmente acontece, não suspendeu provisoriamente o ciclista. No entanto, Bresciani não voltou a competir e acredita que não poderá ser castigado por nada mais do que um acto negligente.

É ainda assim uma situação difícil para quem tinha conseguido chegar a uma equipa Profissional Continental. Já para a formação italiana é mais um momento de tensão. Este ano já cumpriu um mês de suspensão devido aos casos de Pirazzi (que irá cumprir quatro anos de suspensão) e Ruffoni e agora arrisca a nova pena, que poderá ir dos 15 dias aos 12 meses. Perante a instabilidade quanto a patrocinadores no ciclismo em Itália - país que ficou sem equipas no World Tour com a saída da Lampre (agora UAE Team Emirates) -, chegou-se a temer o pior depois dos dois mediáticos casos. Porém, as empresas envolvidas no projecto garantiram a continuidade no apoio. Agora é mais publicidade negativa, ainda que o caso se esteja a apresentar como insólito. 

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