9 de julho de 2017

Descidas fizeram diferenças demasiado duras e tristes

Richie Porte parecia ter tantas razões para sorrir neste Tour, mas uma queda
acabou com a sua corrida (Fotografia: ASO/Alex Broadway)

Quando há grandes ciclistas, que estão em boa forma e que demonstram ter capacidade de lutar por uma Volta a França, é quase com sentimento de perda que se os vê sair da competição. Já muito se fala como as descidas estão cada vez mais a marcar as diferenças nas grandes corridas e a etapa rainha do Tour podia ser um exemplo disso. E foi mesmo. Esperavam-se diferenças, esperava-se ainda mais que todos dessem espectáculo até à meta. Infelizmente o destino assim não o quis e o Tour disse adeus a um Richie Porte (BMC) que parecia estar na forma da sua vida, a um Geraint Thomas (Sky) que é assim vítima de queda pela segunda vez em duas grandes voltas consecutivas, a Robert Gesink (Lotto-Jumbo) e Manuele Mori (UAE Team Emirates). A estes nomes juntam-se muitos mais que chegaram fora do tempo limite, com destaque para Arnaud Démare. O francês venceu uma etapa, aspirava à camisola verde, mas desde sábado que não estava bem de saúde. Daniel Martin (Quick-Step Floors) e Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) também caíram, mas conseguiram prosseguir.

Numa tirada que não desiludiu, acabou por ser triste ver Richie Porte sair de forma tão violenta. A BMC referiu que o seu ciclista esteve sempre consciente e foi transportado para o hospital. É o fim do sonho do australiano, que tanto se preparou para dar luta ao amigo Chris Froome e mostrava que poderia mesmo ser o maior rival do ciclista de quem foi um leal gregário. Acabar assim a Volta a França é simplesmente inglório e nada merecido.

O ciclismo tem destas coisas e que o diga Geraint Thomas. O britânico ficou sem hipótese de lutar pelo Giro devido a uma queda e agora "abandona" Chris Froome, quando é ele o seu principal gregário. Thomas venceu o contra-relógio inicial e andou de amarelo, mas a sua saída poderá causar alguns problemas à Sky, tão habituada a um trabalho de equipa quase mecânico. Será o momento de olear a máquina de forma diferente e terá um dia de descanso para o fazer.

As quedas acabaram por marcar uma etapa que confirmou como Alberto Contador já não é o ciclista de outrora. O espanhol tinha prometido atacar se tivesse pernas. Afinal nem as teve para acompanhar os melhores e terminou a 4:19 de Chris Froome. Fala-se que Contador irá continuar por mais um ano na Trek-Segafredo, mas começa a tornar-se óbvio que talvez já não possa ter o Tour como grande objectivo.

Nairo Quintana foi outra das exibições pela negativa, mais 1:15 perdidos. O colombiano da Movistar irá ouvir muito sobre a decisão que cada vez mais parece ter sido errada de fazer a dupla Giro/Tour. Quis ganhar tudo e agora arrisca ficar sem grandes voltas. Não esquecer que já não tem Alejandro Valverde, o que estará desesperar a Movistar. Ainda há tempo para gerir danos, mas Quintana tem de melhorar muito nas próximas duas semanas se quiser pelo menos chegar ao pódio.

Por outro lado, Fabio Aru (Astana) assume-se como candidato. Quis atacar Froome quando o britânico teve um problema mecânico, mas quando mais ninguém o fez, lá percebeu que por vezes o fairplay é a melhor solução. Contudo, cuidado com este italiano. Poderá ser um problema para a Sky. Romain Bardet está feito num favorito, talvez ainda não para a vitória, mas com 51 segundos a separá-lo de Froome depois de um contra-relógio, duas etapas de montanha e uma chegada em alto... O francês da AG2R pode sonhar.

E claro que não podemos esquecer-nos de Rigoberto Uran. O colombiano não conseguiu tornar-se naquele líder temível nas grandes voltas que tanto ambicionava. Mas o ciclista da Cannondale-Drapac tem aquela característica de não baixar os braços e aí está ele de novo na ribalta. Ganhou a etapa rainha e soma o primeiro triunfo no Tour, depois de dois no Giro, em 2013 e 2014. Em Itália ficou por duas vezes em segundo lugar e, para já, está na luta.

(Fotografia: ASO)
Destaque ainda para um final improvável para uma etapa de alta montanha. Foi necessário recorrer ao photo finish para conhecer o vencedor. A França quase viu um terceiro ciclista seu triunfar, mas faltou um bocadinho a Warren Barguil, que ficou em lágrimas ao saber que tinha perdido. Ainda assim, é óptimo ver o ciclista da Sunweb nesta forma física. Certa que é desta que se afirma?

Segunda-feira é dia de descanso. Depois de tanto drama até é bem-vindo. A semana começará com etapas mais calmas (supostamente) e na quinta-feira regressará a alta montanha, com uma tirada com duas primeiras categorias, uma especial, duas de segunda e uma de quarta. E tem mais de 200 quilómetros!


Résumé - Étape 9 - Tour de France 2017 por tourdefrance


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