O único tema que consegue rivalizar com a Volta a França é o mercado de transferências. O Tour tem o mediatismo que faz com que se fale quase exclusivamente do que se passa na corrida durante três semanas, contudo, com a aproximação do dia em que os ciclistas e equipas podem começar a fechar publicamente contratações, os grandes nomes acabam por ser tema de muitas conversas. O ano passado foi exemplo disso, com o fim anunciado da Tinkov e da IAM (principalmente da formação russa) a preencheram muito espaço em jornais e sites. Em 2017 são muitos os nomes importantes em final de contrato (pode ver aqui), mas sem fim confirmado, a falta de decisão sobre o futuro da Quick-Step Floors está a ameaçar que possam existir grandes transferências. Porém, nas últimas semanas juntou-se também a Cannondale-Drapac. As equipas estão em lados opostos no que diz respeito a vitórias e em ciclistas de referência, mas a formação americana tem alguns corredores que interessam e muito. As especulações já começaram e apesar de só a partir de 1 de Agosto se poder revelar os novos contratos, os ciclistas gostam de ter o seu futuro resolvido antes do Tour.
O fim da Quick-Step Floors parece ser difícil de acontecer, mas a verdade é que Patrick Lefevere continua sem confirmar se a equipa vai ou não continuar. O carismático director havia colocado a data limite para encontrar mais um patrocinador principal para antes do arranque da Volta a França. Para já, não há nada que seja conhecido publicamente e o Tour começa dia 1 de Julho. Porém, o magnata dono da empresa Quick-Step já garantiu que poderá manter o patrocínio sozinho, mas Lefevere quer mais. Perante esta indefinição, os ciclistas da equipa, todos em final de contrato, já começaram a analisar outras propostas. Marcel Kittel é um deles. O sprinter alemão admitiu que já lhe foram oferecidos contratos, sendo um deles da Katusha-Alpecin, equipa liderada pelo português José Azevedo. Kittel salientou que gostaria de ficar na formação belga, mas tem claramente a porta bem aberta para mudar de ares, principalmente percebendo que mesmo que a equipa continue, poderá ter de enfrentar uma concorrência de Fernando Gaviria.
Esta semana houve uma reunião entre os ciclistas e Lefevere alegadamente para ser explicado o ponto da situação. Alguns sites especializados deram que Gaviria já terá proposta para renovar, mas oficialmente nem esta informação, nem o que se passou na referida reunião foi revelado. Para já a indefinição continua, o que significa que há equipas a olhar para Kittel, para o renascido Philippe Gilbert, Bob Jungels e um muito (mesmo muito) procurado Julian Alaphilippe.
Há um ano a Tinkov tinha alguns ciclistas de qualidade que geraram interesse de outras equipas, mas as atenções eram centradas em Alberto Contador, Peter Sagan e Rafal Majka. Já a Quick-Step Floors tem um plantel onde quase todos os ciclistas são candidatos a garantir vitórias e por isso mesmo é que conta com uns impressionantes 31 triunfos divididos por 12 corredores. Se todos ficarem livres... vai ser um autêntico sprint para garantir ciclistas de tão elevada qualidade, ainda que há que ter em conta os elevados salários de alguns, a começar por Marcel Kittel.
Do lado oposto do sucesso está a Cannondale-Drapac. A equipa americana soma apenas três vitórias e a grande conquista foi ter quebrado um jejum de dois anos sem triunfos no World Tour. Ainda assim, mesmo a etapa conquistada no Giro por Pierre Rolland (antes Andrew Talansky venceu na Volta a Califórnia) não esconde as enormes carências da formação que de ano para ano tem reduzido o investimento. Quando em 2015 a então Garmin juntou-se à Cannondale (ex-Liquigas) desde logo a fusão falhou num ponto importante: não conseguiu garantir a permanência da então estrela em ascensão (meteórica): Peter Sagan assinou pela Tinkov.
A estrutura da equipa acabou por ser em grande parte a da Garmin, ainda que este patrocinador acabasse por sair, deixando a Cannondale sozinha desde 2016. As vitórias escasseiam e não é fácil aos responsáveis manter as suas principais figuras. Não conseguiu segurar Daniel Martin, por exemplo, e apesar de ter contratado Rigoberto Uran e mais tarde Pierre Rolland, acabaram por ser duas apostas falhadas para lutar pela geral nas grandes voltas. A entrada da Drapac durante 2016 não significou uma injecção financeira que fizesse diferença e, por isso mesmo, a Slipstream Sports - empresa dona da equipa - afirmou que está à procura de um patrocinador que possa reforçar com dinheiro que permita tornar a equipa mais competitiva.
Esta foi a reacção da empresa às notícias que davam conta que a Cannondale estava a ponderar diminuir alguns dos seus patrocínios, a começar pela equipa do World Tour. Tal poderá significar que a continuidade da formação está em risco. Imediatamente as atenções viraram-se para Davide Formolo, o talento italiano que é visto como uma das grandes esperanças para as grandes voltas. Tem 24 anos e está a evoluir de uma forma muito interessante. Em final de contrato, é forte a possibilidade que perante a incapacidade financeira da Cannondale em oferecer ordenados altos e condições melhores a um potencial líder, Formolo seja o próximo a abandonar a estrutura, mesmo que esta continue. Toms Skujins, Hugh Carthy, Nathan Brown, Michael Woods, Lawson Craddock e Joe Dombrowski são ciclistas que estão a gerar interesse de outras equipas. Andrew Talansky também, mas Rigoberto Uran e Rolland já perderam algum crédito. E depois há Sep Vanmarcke, o eterno ciclista que pode ser um dos maiores nomes das clássicas do pavé, mas os anos passam e não confirma esse estatuto. Ainda assim, certamente que não terá problemas em encontrar uma boa equipa se assim desejar e precisar, já que tem contrato até 2018.
A instabilidade dos patrocinadores é algo historicamente ligado ao ciclismo. Numa altura em que as regras até prevêem uma eventual implementação de um sistema de subida e descida de escalão, o risco de acabarem mais equipas pode mudar muita coisa. Em 2016, a saída da Tinkov e IAM acabou por ser compensada pela chegada da Bahrain-Merida e subida da Bora-Hansgrohe. Para já é mais uma ameaça duas equipas não saberem o seu futuro. A modalidade espera pela decisão de Patrick Lefevere e pela chegada de um patrocinador que apoie a Cannondale. Claro, que é já com ansiedade que se aguarda a chegada de 1 de Agosto para perceber se esta indefinição traduziu-se em mudanças. Mas primeiro, vamos ao Tour.
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