30 de junho de 2017

Esta Volta a França não é para amigos

Chris Froome, o eterno favorito (Fotografia: Facebook Le Tour de France)
Há uma coisa que não se quer arriscar dizer: poderemos estar perante um Tour emocionante... Tendo em conta as edições mais recentes, a emoção escasseou, pelo que já se ficou contente por algum espectáculo. Pouco, mas sempre ficaram momentos para recordar. Apesar de já não ser aquela corrida que parecia ser inatingível  no que diz respeito à espectacularidade, há sempre aquela esperança... Porém, há uma frase que continua a traduzir o que significa esta corrida para o ciclismo: o Tour é o Tour! Será que vamos ter todos contra Chris Froome? Ou será todos por si só... contra Chris Froome? É capaz de ser mais a segunda opção.

O alvo abater continua a ser o britânico. Ele que ambiciona chegar à quarta vitória e ficar a uma de entrar no exclusivo grupo dos que somam cinco. Mas se há ano em que se coloca uma interrogação sobre a forma de Froome, é este. Tem sido um ciclista mais "apagado" comparativamente com épocas anteriores, mas a idade vai passando (tem 32 anos) e é normal que também vá adaptando a sua preparação. Por outro lado a Sky já não assusta tanto. Deu um enorme sinal de fraqueza na última Vuelta e toda esta suspeita em redor do pacote de Bradley Wiggins e a possibilidade de doping abanou com a estabilidade da estrutura, por mais que em semanas recentes a normalidade pareça ter regressado a nível de resultados.

Há ainda o factor de três dos homens mais importantes - Geraint Thomas, Mikel Landa e Vasil Kiryienka - terem feito o Giro (o britânico não terminou), não estando tão frescos. Talvez por isso a Sky tenha optado pelo jogo psicológico dando o favoritismo a Richie Porte, o antigo gregário de Froome, agora feito num verdadeiro e respeitável líder. O australiano não se deixa enganar, mas é o facto que perante os resultados em 2017, é ele que é visto como o principal rival do britânico da Sky. Confiança não lhe falta, mesmo depois de ter perdido o Critérium du Dauphiné no último dia para Jakob Fuglsang (Astana).

Porte sabe que está perante uma oportunidade que poderá muito bem ser única. A BMC construiu uma equipa para ele - Greg van Avermaet terá alguma liberdade, mas também apoiará o colega - e a forma física e mental do australiano está simplesmente fenomenal. Será que consegue evitar ter um mau dia? É que quando Richie Porte tem um mau dia, é mesmo mau. Contudo, no Dauphiné demonstrou que quando quebra, tem capacidade para reagir. A ver vamos...

O Tour também poderá marcar o fim de uma bonita amizade. Depois de Froome ter sido um dos que atacou Porte naquela derradeira etapa do Dauphiné, acabaram-se os sorrisos entre ambos. O passado está mesmo lá atrás. Agora o futuro é de rivalidade. Este Tour não é para amigos se Froome ou Porte quiserem ganhar.

No início do ano dificilmente se imaginaria que Porte seria considerado um favorito número um atrás de Froome. Nairo Quintana tem a sua parte de responsabilidade nessa classificação. O colombiano da Movistar ambicionou a tanto que pode ficar de mãos a abanar. Perder o Giro não estava nos planos. Tom Dumoulin foi uma surpresa que Quintana não esperava. Perder o Tour poderá ser um rude golpe na confiança do ciclista que diz que jogará mais ao ataque. Se for o Quintana da Vuelta, então é candidato, mas se for o Quintana do Tour de 2016, com receio, sempre de olhos postos em Froome e não em testar o adversário, então a Movistar vai ter uma enorme desilusão. Outra enorme desilusão.

E Alberto Contador? Não se quer retirar o espanhol do grupo de candidatos, mas se na bicicleta tem escrito "querer é poder", pelo que tem demonstrado, precisará muito mais do que querer. No entanto, se o Tour é o Tour, Contador é Contador. Os colegas acreditam que aquele ciclista desconcertante, com capacidade para deixar os melhores em dificuldades, ainda existe e tem um novo fôlego pronto a ser gasto nesta Volta a França. Apesar de ter apoio da equipa, a verdade é que a Trek-Segafredo não apostou tudo no espanhol, deixando alguns ciclistas para ajudar John Degenkolb. Perder André Cardoso - deu positivo numa análise de doping e foi suspenso - não foi a melhor das notícias, com o português a mostrar que estava num bom momento. Haimar Zubeldia tem experiência, mas falta saber se conseguirá estar com Contador na alta montanha. Ganhar o terceiro Tour tem contornos de missão impossível... Mas Contador é Contador. Contem com ele para dar tudo e mais alguma coisa para cumprir o maior e provavelmente único objectivo desta fase final da sua carreira.

Outra pergunta: será que é desta que um francês ganha? Os gauleses sonharam com Thibaut Pinot, mas já perceberam que dali será difícil sair uma vitória tão cedo (se é que alguma vez sairá). Já Romain Bardet tem a atitude e a confiança de um vencedor. Talvez um pouco a mais, pois o líder da AG2R afirmou que não tinha intenções de evoluir mais no contra-relógio. Tendo em conta que é fraco nesta especialidade e com dois esforços individuais neste Tour, é bom que se revele muito bem na montanha, pois o contra-relógio pode custar-lhe no mínimo um pódio. Mas Bardet pode fazer os franceses sonhar.

Se vai haver muito espectáculo, o melhor é esperar para ver, mas pelo menos esta Volta a França começa com mais incerteza do que nas últimas edições, até porque há outros jogadores que podem trocar os planos aos chamados favoritos. Fabio Aru (Astana) - que falhou o Giro devido a lesão - bem que tem de demonstrar que pode fazer muito mais do que paupérrimo Tour de 2016 e a seu lado terá um Jakob Fuglsang ainda mais motivado com a renovação de contrato até 2019. Johan Esteban Chaves (Orica-Scott) diz que não vai à procura de um grande resultado na geral, depois de ter estado parte da época lesionado. Contudo, este colombiano gosta de ser uma caixinha de surpresa, ao contrário do colega Simon Yates que tem capacidade para se intrometer no top cinco, sem surpresas.

Dan Martin (Quick-Step Floors), Rigoberto Uran e Andrew Talansky (Cannondale-Drapac), Warren Barguil (Sunweb) e Louis Meintjes (UAE Team Emirates) são outros nomes a ter em conta. Não se consegue dizer que são candidatos, mas lá que podem intrometer-se entre os favoritos, isso podem.

Chega de conversas. Que comece o Tour... e ninguém se importará se houver um pouco mais de espectáculo e de indefinição... é que ficámos mal habituados depois da Vuelta e do Giro100!


Le parcours en 3D / The route in 3D - Tour de... por tourdefrance

Primeira etapa, o objectivo da época de Tony Martin



Düsseldorf é o ponto de partida para a 104ª edição da Volta a França. Sendo na Alemanha e um contra-relógio, não é de surpreender que Tony Martin (Katusha-Alpecin) tenha escrito o dia 1 de Julho como o momento mais importante da sua temporada. Quer ganhar e assim vestir a camisola amarela. Mas os quatro títulos mundiais e sete nacionais não são garantia de nada, ainda mais quando Primoz Roglic - vencedor da Volta ao Algarve - já deixou o aviso que quer estragar a festa ao germânico e dar a amarela à Lotto-Jumbo.

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