13 de maio de 2017

"Quintana vai deixar todos para trás e ganhar o Giro a fumar o seu cachimbo"

(Fotografia: Facebook Movistar Team)
Foi um excelente dia de ciclismo na Volta a Itália. Na oitava etapa foi espectáculo praticamente em todos os 189 quilómetros, quebrando a monotonia dos primeiros dias, que valeram sempre apenas pelos finais. Este abanão no pelotão chegou um dia antes do que se espera ser a tirada que comece a ajudar a definir um pouco quem está na luta pela vitória do Giro100 e também no dia em que Mario Cipollini voltou ao ataque, bem ao seu estilo. Não poupa ninguém, não poupa nas palavras e é impossível passar despercebido. É assim e sempre foi o homem que ficou conhecido como Super Mario.

Já se sabe que Mario Cipollini encontrou outro talento depois de terminar a carreira no ciclismo. Em crónicas ou entrevistas, não é conhecido por ser simpático e nas palavras publicadas hoje no L'Equipe, só se salvaram Fernando Gaviria e Nairo Quintana. O recordista de vitórias de etapas no Giro (42) considerou que a corrida está a ser monótona e disparou em todas as direcções, mas com um foco particular em Vincenzo Nibali.

Cipollini atirou farpas aos considerados favoritos e a ver vamos se tem razão, quando este domingo haverá um enorme teste à capacidade de todos no Blockhaus. "Nibali atacou usando a protecção da mota. Para se testar? Para os fãs? Não percebi", afirmou, referindo-se à etapa do Etna, que acabou por ser uma desilusão. E quanto à razão apontada por muitos para a falta de ataques na ascensão ao vulcão, eis a resposta ao "Cipollini style": "No Etna houve o vento. E...? Essa foi a razão? Pensa que o Pantani ou Hinault teriam ficado na roda porque estava vento? Receio que teremos de esperar até ao Stelvio para que tudo comece a acontecer porque nem nos contra-relógios veremos grandes diferenças entre Quintana, Nibali, Pinot e Thomas."

Cipollini vai mesmo mais longe, considerando que tudo se está a conjugar para uma vitória do colombiano da Movistar: "Ao esperar, o Quintana está calmamente a rolar rumo ao seu porto seguro [a terceira semana] e quando ele atacar, ele não irá preocupar-se com o tempo, se está calor ou frio, ou se está vento. Vai deixar todos para trás e ganhar o Giro a fumar o seu cachimbo."

O italiano, agora com 50 anos, parece que está a gostar dos colombianos, pois elogiou Fernando Gaviria, sprinter que já conta com duas vitórias de etapas na sua estreia em grandes voltas e veste a maglia ciclamino, que Cipollini tão bem conhece. "O Gaviria tem classe, é elegante, com um bom físico e uma mudança de ritmo prodigiosa. Ele é uma fotocópia do [Peter] Sagan, mas melhor", realçou.

Se Gaviria é melhor que Sagan, o tempo o dirá. Se Quintana vai fumar um cachimbo... provavelmente irá preferir o champanhe se ganhar, mas a partir de amanhã dever-se-á começar a ter uma ideia de como estão realmente os considerados candidatos.


A subida ao Blockhaus terá 13 quilómetros com uma pendente média a rondar os 9%, mas chega a atingir os 14%. Não é a ascensão mais difícil que o pelotão terá pela frente nesta Volta a Itália, mas não será para brincadeiras, ainda mais tendo em conta que na segunda-feira será dia de descanso e depois haverá um contra-relógio. Dois testes de peso, para o arranque do Giro por que tanto se esperava, o Giro dos candidatos. Como curiosidade, foi no Blockhaus que Merckx começou a tornar-se um mito nas grandes voltas. Já se tinha afirmado nas clássicas, mas foi naquela subida que conquistou a sua primeira etapa de uma carreira única.


Senhoras e senhores, o espectáculo começou! Finalmente!

Conti trabalhou muito, mas caiu perto da meta
(Fotografia: Giro d'Italia)
Com grande parte do pensamento a já estar na etapa de domingo e a subida ao Blockhaus, este sábado os ciclistas resolveram dar uma bela surpresa para quem tem acompanhado a Volta a Itália. O percurso era propício para ataques, mas ainda assim, não se esperava tanto, talvez devido à influência de uma semana mais calma, digamos assim. Com o assunto de falta de vitórias dos italianos a marcar o dia, parecia que poderia ser ao oitavo dia que o enguiço era quebrado. Porém, apenas aumentou, com Valerio Conti a cair já perto da meta, prejudicando o outro transalpino na fuga, Giovanni Visconti. A vitória sorriu a um espanhol, com a Movistar a abrir a contagem com Gorka Izagirre, antes de Nairo Quintana ser chamado à acção. Mas até aos festejos finais, houve muitos pontos de interesse. O espectáculo começou e no Blockhaus espera-se que a luta pela geral também conheça os seus primeiros confrontos entre os favoritos.

Numa etapa mais curta após duas maratonas acima dos 200 quilómetros, os ciclistas resolveram animar e de que maneira um cenário lindíssimo entre Molfetta e Peschici. Os ataques sucederam-se, um numeroso grupo tentou sair, mas ainda antes da subida à segunda categoria tornou-se claro que não seria aquela fuga a ter sucesso. O mesmo não pensava Luis León Sanchez. O espanhol da Astana, assim como os seus companheiros de equipa, estão numa missão muito especial de tentar conquistar uma vitória que possam dedicar a Michele Scarponi. E muito trabalhou o espanhol para isso.

Ataques, contra-ataques, etapa com muito sobe e desce... Foram 189 quilómetros muito mexidos e o final esteve à altura de tudo o que aconteceu na oitava etapa. No quarteto que acabou por discutir os últimos quilómetros, Valerio Conti (UAE Team Emirates) - que chegou a ser o maglia rosa virtual até que a Quick-Step Floors assumiu as despesas do pelotão - e Giovanni Visconti (Bahrain-Merida) tentavam acabar com o falatório da falta de vitórias italianas no Giro (nunca em oito jornadas o país tinha ficado a zero), Sanchez procurava o triunfo emocional por Scarponi e Gorka Izagirre (Movistar) pedalava para aproveitar um dos poucos momentos de liberdade que irá ter na corrida.

E o que é um espectáculo sem um pouco de drama? Conti que teve tudo a ganhar, perdeu tudo com uma queda numa das muitas curvas em cotovelo da subida final. Izagirre evitou-o, Sanchez perdeu algum embalo, Visconti teve de abrandar para não cair também. Ainda faltava para a meta, mas tudo acabou por ficar ali decidido. Visconti ainda tentou apanhar o ex-companheiro da Movistar, mas Izagirre conquistou a vitória que não hesitou em considerar a melhor da sua carreira.

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