(Fotografia: Direitos Reservados) |
Antes de concentrar as atenções na Volta a Itália, que arranca esta sexta-feira, vamos apenas falar um pouco do Tour. Se estivéssemos a falar de um título objectivo no que diz respeito a candidatos a vencer o Tour, além de Froome ter-se-ia de acrescentar Nairo Quintana e mesmo Alberto Contador (e porque não Alejandro Valverde tendo em conta a época sensacional que está a fazer). Porém, este texto parte da premissa de Porte e Froome serem ex-companheiros, que continuam a ser bons amigos. Em 2016 o australiano quis seguir o seu caminho. No Tour do ano passado, a certa altura, foi quem demonstrou ter mais capacidade para seguir Chris Froome, mas não conseguiu a regularidade necessária para um pódio, por exemplo. Na Volta à Romandia, que terminou este domingo, o britânico esteve novamente muito abaixo do esperado, em comparação com o que tem apresentado nesta fase da temporada em anos anteriores. Porte venceu a corrida.
Além de ter competido muito pouco até ao momento - apenas quatro corridas (Cadel Evan Great Ocean Race, Herald Sun Tour, Volta à Catalunha e à Romandia) - Chris Froome tem andado discreto e com exibições muito pouco convincentes. Tem 19 dias em competição, andando mais pela África do Sul, onde tanto gosta de fazer os seus estágios. Ainda falta, é certo, dois meses para o início do Tour, mas nesta altura do ano, Froome normalmente já apresenta um nível de forma mais elevado, conta com algumas vitórias, ou pelo menos resultados bem mais do nível de um ciclista da sua classe.
Froome mantém-se calmo, limita-se a dizer que ainda tem muito trabalho a fazer até à Volta a França, admitindo que na Volta à Romandia faltaram-lhe pernas para conseguir acompanhar os restantes candidatos nas etapas mais difíceis. Perante o tempo que falta para o Tour, é cedo para especular que algo está mal com Froome, mas esta preparação em 2017 está a ser diferente e as expectativas para o britânico no Tour começam a ser muito mais do que se vai ou não ganhar o terceiro consecutivo, quarto da carreira, mas também em que forma vai apresentar-se.
Desde que apareceu a Sky demarcou-se das restantes equipas pela maneira como prepara ao pormenor as corridas, principalmente a Volta a França. Quase parece um disparate dizer que algo está mal com a preparação de Froome, tendo em conta que estamos a referir-nos à estrela máxima da Sky. Porém, que é uma estranha preparação, lá isso é. Mas parece que vamos ter de esperar pelo Tour para perceber se resultou. Froome só deverá participar mais no Critérim du Dauphiné, corrida que ganhou em 2013, 15 e 16, precisamente os anos em que venceu a Volta a França.
Richie Porte também não tem andado muito activo competitivamente. Tem mais dois dias que Froome, tendo estado no Santos Tour Down Under (venceu duas etapas e a geral), a Cadel Evans Great Ocean Race, o Paris-Nice (venceu uma etapa) e a Volta à Romandia (ganhou uma tirada e a geral). Contudo, ao contrário do amigo, Porte tem apresentado resultados, mesmo não estando numa forma sensacional, algo que não se espera de um ciclista que tenha como objectivo principal a Volta a França.
Depois de não ter consigo aproveitar as oportunidades dadas na Sky para liderar a equipa numa grande volta, Porte percebeu ainda assim que tinha potencial para ser mais do que um gregário de luxo para Chris Froome e assinou pela BMC. Há um ano, o quinto lugar no Tour já foi um lugar que deixou a equipa satisfeita, tendo em conta que o plano de ter Tejay van Garderen como líder já dava sinais de nunca vir a ter sucesso.
Este ano Porte surge como o único número um da BMC para a Volta a França e o ciclista apresenta uma maturidade nítida, principalmente a nível psicológico. 2016 teve o condão de dar a confiança que Porte tinha perdido depois do azar o ter perseguido na Sky quando teve a possibilidade de lutar pela Volta a Itália, por exemplo.
O facto de conhecer como ninguém Chris Froome, afinal foi o seu braço direito, pode mesmo ser uma vantagem, se Porte tiver a condição física para se bater por igual com o britânico. O maior problema poderá mesmo ser o apoio da equipa, ou falta dele. Nos últimos anos nenhuma formação tem consigo estar perto do nível da Sky na Volta a França. A Movistar é aquela que mais se aproxima.
Porém, Richie Porte também já mostrou que sabe bem "safar-se" sozinho, ainda que no Tour será bom ter pelo menos um ciclista que o possa ajudar um pouco nas etapas de montanha, já que na média montanha e nas tiradas planas, a BMC tem de apresentar-se forte dado os ciclistas de que dispõe.
O australiano está a gerar muita curiosidade e é já um possível candidato a um bom resultado na Volta a França. Ou melhor, a um excelente resultado no Tour, com o pódio a estar certamente em mente do australiano e da equipa, além de uma vitória de etapa. E se ganhar a Froome? É muito provável que o britânico seja o primeiro a dar-lhe os parabéns, pois a amizade mantém-se, mesmo depois dos dois já terem tido algumas disputas na estrada. Se Froome não puder ganhar e mais ninguém na Sky tiver condições de o fazer, então o britânico terá certamente um sorriso de cumplicidade em caso de vitória de Porte.
Se aplaudiu Nairo Quintana na Vuelta, seria curioso ver como agiria o britânico perante Porte. Mas claro, Chris Froome só tem um pensamento: ganhar o Tour e ficar a uma vitória das cinco que pretende atingir para igualar os grandes ciclistas Miguel Indurain, Eddy Merckx, Jacques Anquetil e Bernard Hinault. Já Richie Porte, quer suceder a Cadel Evans (2011) como um australiano a ganhar o Tour e comprovar que é de facto muito mais do que um dos melhores gregários que o pelotão já teve.
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