(Fotografia: Volta a Portugal) |
26 de Abril de 1927 é uma das datas mais importantes do ciclismo nacional. Naquele dia, nos Restauradores, juntaram-se 42 ciclistas que competiram na primeira Volta a Portugal. António Augusto Carvalho, em representação do Carcavelos, foi o primeiro a escrever o nome na lista de vencedores. Naquele dia começou uma aventura com alguns sobressaltos e paragens na organização, mas a Volta a Portugal tornar-se-ia na corrida do povo, com milhares de adeptos a assistirem às etapas. A tradição de ver o pelotão à beira da estrada passou de geração em geração durante décadas, com locais míticos como a Senhora da Graça e a Torre a tornarem-se etapas de peregrinação para quem gosta de ciclismo em Portugal.
90 anos depois, perderam-se algumas dessas tradições, mas numa altura em que o ciclismo está a regressar à ribalta em Portugal, a Volta também tenta recuperar o sucesso de outrora entre os fãs, olhando também para um futuro que possa incluir novamente ciclistas e equipas estrangeiras com outro tipo de competitividade e mediatismo. Para já, a 79ª edição promete espectáculo com o equilibrar de forças (por cima) no pelotão nacional.
Mas hoje foi dia de recordar aquele 26 de Abril de 1927. 42 ciclistas reuniram-se nos Restauradores para depois apanhar o barco até Cacilhas. Aí sim, foram dadas as primeiras pedaladas com os 40,4 quilómetros até Setúbal. Ao todo foram percorridos quase dois mil quilómetros, com os locais onde terminavam as etapas num dia a serem os do início no outro. A Volta passou assim por Cacilhas, Setúbal, Sines, Odemira, Portimão, Faro, Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Bragança, Vila Real, Braga, Porto, Coimbra, Caldas da Rainha e Lisboa. Na capital esperavam os ciclistas muitas pessoas que os receberam em euforia. O sucesso da corrida era mais do que claro. Se olharmos para o mapa, podemos ver como as cidades de partida e chegada são sempre junto à fronteira ou costa, fazendo quase o desenho do país, que então teve os ciclistas a ir ao sul, centro e norte do país. Hoje em dia não há muito o hábito de ir a sul.
A primeira Volta a Portugal teve como organizadores os jornais Diário de Notícias e Os Sports (este último já extinto). Apesar do apoio popular, os elevados custos de uma corrida com 18 etapas (feitas em 20 dias) foram demasiado e os jornais só levariam novamente a Volta a Portugal para a estrada entre 1931 e 1935 e depois em 1938 e 1939. A interrupção deveu-se à Guerra Civil em Espanha. Os organizadores foram mudando ao longo dos anos. A Segunda Guerra Mundial, a falta de alguém que apostasse na corrida e o pós 25 de Abril levou a outras paragens, mas desde 1976 que a Volta de Portugal faz parte do calendário do ciclismo, continuando a alimentar o sonho de muitos ciclistas. Actualmente é a Podium Events que garante a organização da prova, com Joaquim Gomes a ser o director da Volta.
“Esta primeira Volta a Portugal em bicicleta teve a característica de percorrer todo o território nacional com etapas verdadeiramente heróicas, longas e feitas em condições muito difíceis. Sem estradas, muitos troços eram em terra e as bicicletas eram pesadíssimas”, salientou Delmino Pereira. O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo esteve presente na cerimónia que recordou a data histórica. “A história obriga-nos a fazer mais e melhor. Vamos ter em 2017 uma Volta moderna, actual e que acompanha aquilo que tem acontecido um pouco por todo o mundo”, acrescentou
A Volta a Portugal é uma das corridas de ciclismo mais antigas do mundo. Nos últimos cinco anos, a estrutura actualmente com o nome W52-FC Porto tem dominado a prova. Alejandro Marque, Gustavo Veloso (duas vezes) e a surpresa de 2016, Rui Vinhas, foram os mais recentes vencedores.
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