Desde 2013 que Scarponi não vencia (Fotografia: Facebook Astana) |
Quando em 2014 Michele Scarponi assinou pela Astana, o italiano assumia que era um último folgo na carreira, longe da pressão de lideranças, mas mais com uma missão de estar ao lado de Vincenzo Nibali e ajudar a estrela em ascensão, Fabio Aru. A Scarponi agradou-lhe um papel secundário, depois de uns anos de intensa pressão por ser o líder italiano de uma equipa italiana do World Tour, a Lampre. Aos 37 anos, a liderança numa grande volta é novamente dele. Não a pediu, mas também não havia outra solução para a Astana. Num ano em que a equipa cazaque está a enfrentar enormes dificuldades em encontrar-se com as vitórias, Scarponi reagiu com classe ao chamamento de líder. Venceu a primeira etapa da Volta aos Alpes (antigo Giro del Trentino), naquela que foi também a primeira vitória da equipa em 2017. Um pequeno respirar de alívio que não retira a pressão de uma formação que apostava forte (quase tudo) na Volta a Itália, mas que ao ficar sem Fabio Aru vê-se agora numa situação desconfortável, sem líder e sem resultados.
Por esta altura da época em 2016, a Astana somava 15 triunfos, três do nível World Tour. No Giro del Trentino somaria outras três vitórias. A má relação entre Alexandre Vinokourov e Vincenzo Nibali fez com que o italiano optasse por assinar por um novo projecto, a Bahrain-Merida. O cazaque vê em Aru o futuro da equipa e não se importou nada em perder um ciclista que já conquistou as três grandes voltas. Depois há outro jovem talento, Miguel Ángel López. O colombiano de 23 anos já deu mostras de ser outra excelente aposta, mas ainda tem muito a evoluir. A tíbia fracturada em Novembro numa queda durante um treino atrasou a preparação do ciclista, que ainda não apareceu em forma em 2017.
Mas era em Aru em quem Vinokourov apostava tudo. Jakob Fuglsang seria o líder da a Volta a França, mas era a 100ª edição do Giro que a Astana mais queria. O dinamarquês é um bom ciclista, mas ninguém espera que faça melhor que um top dez e talvez ganhar uma etapa. Aru caiu na Serra Nevada durante um estágio em altitude. O pesadelo de uma época longe das vitórias tornou-se numa catástrofe com a lesão no joelho que obrigou o corredor a um repouso total durante dez dias. Vinokourov anunciou que Scarponi, o suposto braço direito de Aru, seria o dorsal um da equipa na Volta a Itália e, por consequência na Volta aos Alpes.
É difícil dizer que Scarponi sentiu-se pressionado. Longe disso. A experiência vale muito nestas situações. O ciclista italiano assumiu o seu inesperado papel na Astana e que grande resposta deu. Não foi uma vitória por acidente. Houve muito mérito na forma como se agarrou a Geraint Thomas e bateu-o ao sprint, com Thibaut Pinot a ficar em terceiro. O britânico e o francês são dois dos candidatos à conquista do Giro, enquanto Scarponi nem entra no grupo de outsiders, ou de potenciais surpresas.
A última vitória individual de Scarponi remonta a 29 de Setembro de 2013, no GP Costa Degli Etruschi. Há um ano venceu o contra-relógio por equipas no Giro del Trentino. A certa altura da carreira de Scarponi, os italianos depositaram muito confiança nele. Porém, nunca foi um ciclista tão vencedor como Nibali, por exemplo. Conseguiu uma Volta a Itália, mas acabou por ser um momento sem glória, pois a vitória foi-lhe atribuída depois de Alberto Contador, que dominou essa edição, ter sido desclassificado. O espanhol competiu enquanto esperava pela sanção do caso de doping que ficou conhecido como "bife à Contador". A suspensão atribuída anulou vários resultados, incluindo o desse Giro.
Nunca se sentiu que o Giro de 2011 fosse de Scarponi. Talvez o próprio tenha dificuldades em sentir também. Quando foi chamado em demonstrar que era mesmo um ciclista para ganhar mais grandes voltas, Scarponi foi aos poucos desaparecendo e o papel secundário na Astana até foi quase um alívio. Porém, toda a experiência que acumulou, todos os momentos difíceis que viveu enquanto líder da Lampre, podem muito bem ser uma mais valia numa altura em que a Astana mais precisa de um homem que não sucumba à pressão de ser visto como o substituto de Aru, ainda mais um substituto que não dá garantias de vitórias. Ou melhor, não dava.
Scarponi revelou um discurso confiante depois da vitória em Innsbruck. Recusou falar do Giro, pois agora quer fazer tudo para manter a liderança na Volta aos Alpes. Olhando para o palmarés do ciclista, é em Itália que gosta de ganhar e até já conquistou esta competição em 2011. E para que não existam dúvidas que a Astana tem o líder que precisava para esta fase complicada, Scarponi não só assume o papel, como se mostra disponível e expectante para o entregar a Fabio Aru, caso um milagre aconteça e o jovem italiano recupere a tempo de estar na partida a 5 de Maio, na sua Sardenha.
Vincenzo Nibali apelou que Aru tente estar no Giro e Scarponi afirmou que era um bom conselho e que todos ainda esperavam ver Aru assumir a liderança que lhe pertence. Mas Scarponi não quis mesmo falar muito da Volta a Itália. Perante uma vitória que há uma semana não esperaria conquistar - se Aru estivesse em prova, certamente que teria sido o seu gregário -, o veterano pediu para que o deixem aproveitar o momento que está a viver na Volta aos Alpes.
Porém, depois de ser líder, Scarponi voltará ao seu papel de leal companheiro e poderá muito bem ser de uma importância ainda maior do que o esperado. Apesar de Fuglsang continuar a ser apontado por Vinokourov como líder para o Tour, será difícil acreditar que Aru não ataque a Volta a França, depois de falhar o Giro. Há um ano, a estreia acabou por ser uma desilusão e talvez também por isso Aru não tenha tido problemas em querer apostar tudo no Giro e depois na Vuelta. Mas tendo de regressar já ao Tour, a pressão será enorme e Aru nem sempre lida da melhor forma com ela. Tende a deixar-se dominar por algum nervosismo. Scarponi poderá ser chamado a ajudar Aru a evoluir, a controlar melhor o seu lado emocional.
Veja aqui a classificação da primeira etapa da Volta aos Alpes
»»Aru cai numa descida e diz adeus ao Giro. Alaphilippe falha clássicas das Ardenas««
»»Quando a rivalidade fica em segundo plano. Nibali apelou a Aru: "Não percas a esperança"««
Por esta altura da época em 2016, a Astana somava 15 triunfos, três do nível World Tour. No Giro del Trentino somaria outras três vitórias. A má relação entre Alexandre Vinokourov e Vincenzo Nibali fez com que o italiano optasse por assinar por um novo projecto, a Bahrain-Merida. O cazaque vê em Aru o futuro da equipa e não se importou nada em perder um ciclista que já conquistou as três grandes voltas. Depois há outro jovem talento, Miguel Ángel López. O colombiano de 23 anos já deu mostras de ser outra excelente aposta, mas ainda tem muito a evoluir. A tíbia fracturada em Novembro numa queda durante um treino atrasou a preparação do ciclista, que ainda não apareceu em forma em 2017.
Mas era em Aru em quem Vinokourov apostava tudo. Jakob Fuglsang seria o líder da a Volta a França, mas era a 100ª edição do Giro que a Astana mais queria. O dinamarquês é um bom ciclista, mas ninguém espera que faça melhor que um top dez e talvez ganhar uma etapa. Aru caiu na Serra Nevada durante um estágio em altitude. O pesadelo de uma época longe das vitórias tornou-se numa catástrofe com a lesão no joelho que obrigou o corredor a um repouso total durante dez dias. Vinokourov anunciou que Scarponi, o suposto braço direito de Aru, seria o dorsal um da equipa na Volta a Itália e, por consequência na Volta aos Alpes.
É difícil dizer que Scarponi sentiu-se pressionado. Longe disso. A experiência vale muito nestas situações. O ciclista italiano assumiu o seu inesperado papel na Astana e que grande resposta deu. Não foi uma vitória por acidente. Houve muito mérito na forma como se agarrou a Geraint Thomas e bateu-o ao sprint, com Thibaut Pinot a ficar em terceiro. O britânico e o francês são dois dos candidatos à conquista do Giro, enquanto Scarponi nem entra no grupo de outsiders, ou de potenciais surpresas.
A última vitória individual de Scarponi remonta a 29 de Setembro de 2013, no GP Costa Degli Etruschi. Há um ano venceu o contra-relógio por equipas no Giro del Trentino. A certa altura da carreira de Scarponi, os italianos depositaram muito confiança nele. Porém, nunca foi um ciclista tão vencedor como Nibali, por exemplo. Conseguiu uma Volta a Itália, mas acabou por ser um momento sem glória, pois a vitória foi-lhe atribuída depois de Alberto Contador, que dominou essa edição, ter sido desclassificado. O espanhol competiu enquanto esperava pela sanção do caso de doping que ficou conhecido como "bife à Contador". A suspensão atribuída anulou vários resultados, incluindo o desse Giro.
Nunca se sentiu que o Giro de 2011 fosse de Scarponi. Talvez o próprio tenha dificuldades em sentir também. Quando foi chamado em demonstrar que era mesmo um ciclista para ganhar mais grandes voltas, Scarponi foi aos poucos desaparecendo e o papel secundário na Astana até foi quase um alívio. Porém, toda a experiência que acumulou, todos os momentos difíceis que viveu enquanto líder da Lampre, podem muito bem ser uma mais valia numa altura em que a Astana mais precisa de um homem que não sucumba à pressão de ser visto como o substituto de Aru, ainda mais um substituto que não dá garantias de vitórias. Ou melhor, não dava.
Scarponi revelou um discurso confiante depois da vitória em Innsbruck. Recusou falar do Giro, pois agora quer fazer tudo para manter a liderança na Volta aos Alpes. Olhando para o palmarés do ciclista, é em Itália que gosta de ganhar e até já conquistou esta competição em 2011. E para que não existam dúvidas que a Astana tem o líder que precisava para esta fase complicada, Scarponi não só assume o papel, como se mostra disponível e expectante para o entregar a Fabio Aru, caso um milagre aconteça e o jovem italiano recupere a tempo de estar na partida a 5 de Maio, na sua Sardenha.
Vincenzo Nibali apelou que Aru tente estar no Giro e Scarponi afirmou que era um bom conselho e que todos ainda esperavam ver Aru assumir a liderança que lhe pertence. Mas Scarponi não quis mesmo falar muito da Volta a Itália. Perante uma vitória que há uma semana não esperaria conquistar - se Aru estivesse em prova, certamente que teria sido o seu gregário -, o veterano pediu para que o deixem aproveitar o momento que está a viver na Volta aos Alpes.
Porém, depois de ser líder, Scarponi voltará ao seu papel de leal companheiro e poderá muito bem ser de uma importância ainda maior do que o esperado. Apesar de Fuglsang continuar a ser apontado por Vinokourov como líder para o Tour, será difícil acreditar que Aru não ataque a Volta a França, depois de falhar o Giro. Há um ano, a estreia acabou por ser uma desilusão e talvez também por isso Aru não tenha tido problemas em querer apostar tudo no Giro e depois na Vuelta. Mas tendo de regressar já ao Tour, a pressão será enorme e Aru nem sempre lida da melhor forma com ela. Tende a deixar-se dominar por algum nervosismo. Scarponi poderá ser chamado a ajudar Aru a evoluir, a controlar melhor o seu lado emocional.
Veja aqui a classificação da primeira etapa da Volta aos Alpes
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