(Fotografia: Facebook Volta aos Alpes) |
Seis ciclistas não partiram hoje para a última etapa da Volta aos Alpes. Tendo em conta que dois estavam no top dez e um era 18º (e é português), a ausência chamou a atenção e rapidamente se percebeu a razão: todos estão escalados para competir na Liège-Bastogne-Liège no domingo. A probabilidade dos abandonos estarem relacionados com o plano de dar mais um dia de descanso foi levantada, regressando também a discussão se este tipo de decisões são as mais correctas eticamente.
A Cannondale-Drapac e a BMC admitiram, através de mensagens no Twitter, que Davide Formolo (era quinto, a 31 segundos da liderança), Davide Villella (28º) e Damiano Caruso (oitavo, a 42 segundos) não competiram para descansarem a pensar no monumento de domingo. José Mendes (ciclista português - campeão nacional - da Bora-Hansgrohe, que estava no 16º lugar), Larry Warbasse (Aqua Blue Sport, 28º) e o colega Stefan Denifl (82º) foram os outros corredores que optaram por não participar na última etapa. A Volta aos Alpes, antigo Giro del Trentino, foi uma corrida marcada por muita montanha e mau tempo, que inclusivamente levou ao encurtamento de uma das etapas.
Esta situação não é inédita. Longe disso. No ano passado, a Volta a Itália viveu uma situação semelhante. É uma das competições mais importantes do ano, mas viu os principais sprinters abandonarem a corrida precocemente, apesar de estarem na luta pela classificação por pontos. Dada a dureza do Giro, Marcel Kittel e André Greipel, por exemplo, não quiseram desgastar-se, para estar em boa forma na Volta a França. A decisão não caiu bem na organização e o mesmo terá acontecido na Volta aos Alpes.
Porém, não houve uma reacção pública à saída dos seis ciclistas, tendo a organização preferido focar o facto de Domenico Pozzovivo (AG2R), Luis León Sánchez (Astana) e Pete Kennaugh (Sky) terem competido apesar de no domingo terem presença marcada na clássica belga.
As regras da UCI determinam que um ciclista que abandone uma corrida não pode participar noutra até que a que estava a participar termine. A medida não se aplica neste caso, já que a Volta aos Alpes acabou esta sexta-feira e a Liège-Bastogne-Liège é só no domingo. Até há um dia de intervalo. No entanto, perante mais uns casos de abandonos por se estar a pensar noutra corrida, voltou-se a levantar a questão se essa é a atitude mais correcta perante a organização e os próprios adeptos. É uma questão ética que acaba por estar em discussão, não estando em causa o profissionalismo dos ciclistas. Mesmo que fosse proibido este tipo de abandonos, também seria fácil contornar, alegando, por exemplo, problemas físicos. Não sendo bonito de se ver, é ainda assim preferível que exista honestidade, pelo que talvez apenas se possa esperar que sejam decisões que sejam pouco tomadas, em nome do respeito por quem tanto trabalho tem a organizar as corridas e por quem tanto gosta de as ver.
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