(Fotografia: © BORA-hansgrohe/Stiehl Photography) |
A evolução de Peter Sagan tem sido muito pública e acompanhada ao pormenor. O facto de ser um ciclista que aos 27 anos já soma 92 vitórias como profissional faz com que tudo o que faça seja analisado escrupulosamente, pelo que há muito se esperava por este momento, o momento em que o eslovaco, já bicampeão do mundo, atingiu a maturidade. Este domingo Sagan abdicou de vencer uma corrida, mas a decisão poderá valer-lhe muitos triunfos no futuro e confirmou a mensagem que já tinha deixado na sexta-feira na E3 Harelbeke: não contem mais com ele para trabalhar e depois ver os outros ganharem.
"Não sei o que queria fazer, porque atacou para ir na fuga e depois não quis trabalhar. Este é um exemplo de como podes perder a corrida contra mim. Que posso fazer? Não somos companheiros de equipa. Não posso trabalhar para todos para depois me ganharem ao sprint." As duras palavras de Sagan logo após a Gent-Wevelgem eram o sinal que o eslovaco fartou-se de ver os adversários colocarem-se na sua roda e não o ajudarem, seja numa fuga, seja numa perseguição. Depois de tantas vezes ter sido criticado por se expor em demasia, acabando por ser batido ao sprint, Sagan finalmente aprendeu que tem de começar a ser mais frio, mais calculista. Chegou o momento de fazer um jogo mental mais forte, mas descansem os fãs do ciclista e do ciclismo, atingir a maturidade não significa que se vá ver menos espectáculo de Sagan, apenas entraremos numa fase diferente da carreira de um corredor que agora sim tem tudo para se tornar num dos melhores ciclistas de clássicas da história.
Na frase citada, Sagan refere-se a Niki Terpstra. O homem da Quick-Step Floors entrou na fuga a cinco, mas começou a tentar resguardar-se, deixando o eslovaco a trabalhar, juntamente com Greg van Avermaet (BMC) - que acabaria por vencer - e Jens Keukeleire (Orica-Scott) e Søren Kragh Andersen (Sunweb). Este jovem dinamarquês também tentou jogar mais à defesa, mas o facto de ter 22 anos provavelmente fez com que fosse poupado nas críticas de Sagan. Já Terpstra tem 32, algumas vitórias importantes, incluindo um Paris-Roubaix, e naquela altura da corrida era a única esperança da Quick-Step Floors em vencer a clássica belga,
Em poucas palavras: ao aperceber-se da jogada de Terpstra, Sagan fez sinal para que o companheiro de ocasião trabalhasse e como isso não aconteceu, deixou praticamente de pedalar, abrandou muito para se colocar atrás do holandês e Andersen. Os dois preocuparam-se mais em não ajudar o ciclista da Bora-Hansgrohe e enquanto isso Avermaet e Keukeleire continuaram no seu ritmo e a pequena diferença que ganharam - chegou a rondar os 15 segundos - acabou por ser suficiente.
Sendo um ciclista que quer vencer, não lutar por uma vitória deve ser o mais difícil para Peter Sagan. Neste domingo, se alguém pensou que estava a fazer bluff na sexta-feira, percebeu que o eslovaco não mais será o ciclista que puxa para depois ver os outros ganharem. Era notório que não estava nada satisfeito com o resultado (foi terceiro), mas fez o que fez a pensar no futuro próximo. "Não estou decepcionado, estou mais motivado agora. Vamos ver o que acontece na Volta a Flandres e no Paris-Roubaix", salientou. E mesmo num dia menos feliz, lá deixou uma tirada à Sagan: "Se ganhar sempre perco a motivação!"
O que aconteceu na Gent-Wevelgem dificilmente se verá num dos monumentos, que mais do que nunca são a ambição de Peter Sagan. No entanto, fica agora a curiosidade para ver como esta maturidade de Sagan o poderá influenciar nas duas corridas. E como influenciará os seus rivais. Sendo a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix, os pontos de interesse são sempre muitos. Mas acabaram de ganhar mais dois.
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