14 de março de 2017

"O mais importante é mostrar que estou motivado e que sou um bom ciclista. Não estou aqui para passar o tempo"

Com apenas 21 anos Egor Silin chegou ao World Tour por intermédio do então projecto russo Katusha. Por lá ficou, com uma passagem pela Astana antes de regressar "a casa". Porém, aos 28 anos, viu-se vítima das mudanças na equipa agora suíça e que optou por reduzir o número de ciclistas da Rússia. Fechou-se a porta da Katusha, parecia abrir-se a da Trek-Segafredo, mas não se concretizou. Falhou ainda a possibilidade de assinar pela Caja Rural. Silin viu-se numa situação inesperada: começou 2017 sem equipa. Trepador de qualidade, parecia quem em 2016 tinha encontrado o seu espaço na Katusha como um importante homem de trabalho e até foi 15º na Volta a Espanha. Porém, perante tanta contrariedade, Silin acabou por "apenas" querer continuar a competir e com uma ajuda de José Azevedo, que foi director desportivo do ciclista, o russo assinou pela Rádio Popular-Boavista.

José Santos não perdeu tempo e chamou-o de imediato para a Clássica Aldeias do Xisto. E ali estava o novo reforço, discreto, a equipar-se sozinho no carro da equipa. Depois de tanto tempo no World Tour, desde tão novo, como estaria o estado de espírito de um ciclista que aos 28 anos queria afirmar-se ao mais alto nível e vê-se obrigado a descer ao escalão Continental? Quando se pergunta se se pode falar um pouco com ele, Egor Silin rapidamente acede e apenas pede que seja em espanhol, pois o inglês não é o seu forte. E como vive no país vizinho, não tem problema com a língua. E o russo não perde tempo em garantir ao Volta ao Ciclismo: "Estou muito motivado. Estou muito contente por estar a correr numa equipa portuguesa e estou com o melhor ciclista do pelotão português." Neste momento sorri, deixando perceber que não é um discurso feito. Silin está satisfeito por poder representar a Rádio Popular-Boavista e por estar ao lado de Rui Sousa, com quem disse que poderá aprender muito.

"O José Azevedo ajudou-me [a ir para a Rádio Popular-Boavista] e aqui encontrei pessoas muito boas e muito amáveis. Fui muito bem recebido"

O semblante mais sério com que estava quando foi abordado, transformou-se. Silin mostrou-se muito bem disposto e com uma vontade enorme em começar a corrida. "Só tenho a minha nova bicicleta há dois dias", contou. Contudo, não estava preocupado com o resultado, ainda que quisesse tentar mostrar-se já ao seu director desportivo e aos colegas, afirmando que tinha treinado muito enquanto procurava definir o seu futuro. Não terminou a clássica, mas a Rádio Popular-Boavista poderá ter ganho um ciclista importante para as próximas corridas, principalmente quando o russo recuperar o ritmo de competição. Ciente que possa existir alguma desconfiança quanto ao que pretende fazer na equipa portuguesa, Silin reiterou: "O mais importante é mostrar que estou motivado e que sou um bom ciclista. Não estou aqui para passar o tempo."

Tenta, mas não consegue esconder um estado de resignação quando fala de não ter continuado na Katusha e das hipóteses falhadas da Trek-Segafredo e Caja Rural, esta última uma equipa Profissional Continental, que conta com o português Rafael Reis. "O José Azevedo ajudou-me [a ir para a Rádio Popular-Boavista] e aqui encontrei pessoas muito boas e muito amáveis. Fui muito bem recebido", salientou. "Sei que é uma equipa com história em Portugal", acrescentou. O contacto com o país ainda é pouco, mas disse estar a gostar, elogiou os portugueses e quanto à comida: "O peixe é muito bom!"

Realçou que gosta de corridas com montanhas e espera conseguir estar na Volta a Portugal, além das provas que a equipa vai realizar em Espanha, como o Grande Prémio Miguel Indurain. "Fui sétimo no ano passado", recordou. Negar que quer regressar ao mais alto nível não faz sentido, mas Silin quer mesmo assegurar que está concentrado no presente. "Vamos ver o que acontece no futuro, mas para já só quero desfrutar destas corridas ao máximo com o Boavista", afirmou. Disse ainda que José Santos pediu-lhe resultados. Umas vezes terá a função de ajudar, mas frisou que também está na equipa para conquistar vitórias. E Silin quer cumprir com o que lhe foi pedido: "Quero alcançar bons resultados e ajudar esta equipa que também me está a ajudar. Temos que trabalhar e lutar por vitórias."

Egor Silin acaba de se equipar e é chamado por um colega para ir assinar o livro de presença. Volta à sua postura mais discreta e mais séria. Estava quase a chegar o momento que parecia difícil em 2017: competir. Não foi um início ambicioso, mas agora é ver o que Silin poderá dar à Rádio Popular-Boavista, ao lado de alguns dos principais nomes do ciclismo nacional, como Filipe Cardoso, Domingos Gonçalves, João Benta e, claro, Rui Sousa. Pelo menos, vontade e motivação de se mostrar para não lhe faltar.



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