12 de março de 2017

No Paris-Nice repetiu-se o filme para Contador e para a Sky, com mudança no actor principal: o vencedor

(Fotografia: Facebook Paris-Nice)
O que aconteceu este domingo na última etapa do Paris-Nice deixou a sensação de déjà vu. Alberto Contador parece ter uma missão impossível, mas faz um daqueles ataques ao seu estilo provocando o pânico no líder, um homem da Sky, No entanto, depois de muito trabalhar, vê a vitória escapar por uns míseros segundos. E de nada adianta dizer que ficou feliz com o que alcançou. Ninguém acredita. Há um ano perdeu para Geraint Thomas por quatro segundos. Agora foram dois os que o separaram de Sergio Henao. Contador pode ficar satisfeito com a sua forma física, mas era impossível esconder no seu rosto a frustração por ter voltado a estar tão perto, mas no final, teve de assistir aos festejos de um rival. E por falar de rivalidade, só não se pode dizer que poderá ter nascido mais uma entre espanhóis porque a carreira de Contador não deverá ser muito mais longa, mas que a relação com David de la Cruz não vai ser de grande amizade, isso é quase certo. Mas já lá vamos.

A chamada corrida do sol não brilhou mais uma vez para Alberto Contador, ainda que já a tenha conquistado em 2007 e 2010. Sol também não se viu muito nuns primeiros dias de autêntico temporal e de baixas temperaturas. E o mau tempo, principalmente o vento, trocou as voltas ao espanhol e a Richie Porte. No entanto, o ciclista da Trek-Segafredo ainda se conseguiu manter na discussão, já ao da BMC restou lutar por uma etapa, que conseguiu. E atenção ao australiano, parece estar cada vez melhor e poderá ser um homem a ter em conta (e muito) para a Volta a França.

Mas o Paris-Nice teve outros destaques. Nos sprints, Arnaud Démare (FDJ) deixou um sério aviso que quer estar na luta para repetir a vitória de há um ano na Milano-Sanremo, monumento que se realiza no próximo sábado. André Greipel (Lotto Soudal) cumpriu, Sonny Colbrelli (Bahrain-Merida) conquistou a sua primeira vitória no World Tour e Sam Bennett (Bora-Hansgrohe) deu sinal à equipa que podem confiar nele. Simon Yates (Orica-Scott) caminha para um bom momento de forma, rumo à Volta a Itália, contudo, uma das grandes estrelas foi Julian Alaphilippe. O ciclista da Quick-Step Floors está passo a passo a tornar-se num super ciclista. Foi simplesmente brilhante na crono-escalada, mas acabou por não aguentar nas derradeiras etapas de montanha. Porém, o quinto lugar é mais uma excelente referência e agora a questão é: em que tipo de ciclista vai evoluir? É bom em corridas de uma semana, é bom nas clássicas como as das Ardenas e tem muito potencial para provas de três semanas. Com apenas 24 anos, Alaphilippe tem uma qualidade que deixa os franceses a sonhar alto. E com razão!

(Fotografia: Facebook Paris-Nice)
A vitória no Paris-Nice foi para Sergio Henao, pouco depois de se ter sagrado campeão colombiano. Há um ano fez um trabalho preponderante para "puxar" Geraint Thomas e assegurar que o britânico conquistava a corrida gaulesa. Desta feita, com Thomas no Tirreno-Adriatico, Henao foi o líder e se também sofreu nos primeiros dias, o colombiano aproveitou a oportunidade que lhe foi concedida pela Sky. Confessou que entrou um pouco em pânico quando Contador ganhou mais de um minuto de vantagem, mas explicou que se lembrou do que tinha acontecido na edição passada e que isso o motivou a não baixar os braços.

Aos 29 anos, Henao dá o sinal que não quer ser um esperança que nunca se confirmou. Sabe que onde está Chris Froome, nunca será líder, mas também sabe que pode conquistar mais vitórias. Henao chegou a ser suspenso pela equipa devido a irregularidades com o seu passaporte biológico no ano passado. O pior nunca se confirmou, mas Sergio Henao sempre demonstrou uma enorme ambição em colocar toda a sua qualidade na estrada e libertar-se de qualquer suspeita, colocando-se como um dos ciclistas de uma geração colombiana de luxo, liderada pelo inevitável Nairo Quintana. Vencer o Paris-Nice é uma afirmação dentro da Sky e Henao será mais um a pedir mais oportunidades em corridas de elevada importância.

Para a equipa britânica é também um triunfo muito relevante. Dado o momento conturbado que vive, com toda a suspeita sobre um pacote mistério dado a Bradley Wiggins, quando o ciclista estava na equipa, a conquista da Strade Bianche por intermédio de Michal Kwiatkowski e agora do Paris-Nice por parte de Sergio Henao, é uma espécie de regresso à normalidade, pelo menos a nível competitivo.

(Fotografia: Facebook Paris-Nice)
Quanto a Alberto Contador, ainda não foi desta que conquistou um triunfo pela sua Trek-Segafredo. Foi segundo em três etapas, na geral e na classificação por pontos. Ficou em terceiro na montanha. Na derradeira etapa do Paris-Nice, Contador foi batido pelo compatriota David de la Cruz. Mais do que a vitória, eram as bonificações que Contador tanto procurava. Somou seis segundos, além dos que ganhou na estrada. De la Cruz ficou com os dez da vitória na tirada. Contador ficou a dois de Sergio Henao na classificação geral...

A carreira de Alberto Contador não deverá ser muito mais longa. Se conquistar a Volta a França até poderá abandonar este ano. Caso contrário, Contador e De la Cruz não deveriam tornar-se grandes amigos, o que também não é exactamente novo entre ciclistas espanhóis. Não há nada a apontar a David de la Cruz. O ciclista encontrou estabilidade na Quick-Step Floors e depois de ter vencido uma etapa na Vuelta em 2016 e um top dez, este triunfo na derradeira tirada do Paris-Nice é a confirmação que Espanha não precisa de desesperar por ver as suas referências a aproximarem-se do fim de carreira sem terem substitutos. O talento e o potencial estão lá, agora é saber trabalhá-los e De la Cruz poderá tornar-se num ciclista muito interessante.

Quanto a portugueses, o único a participar na corrida francesa foi o campeão nacional José Mendes, que terminou no 98º lugar, a 1:28.54 horas. O ciclista da Bora-Hansgrohe tinha a função de ajudar o seu líder Jan Bárta, aproveitando também para preparar a sua estreia na Volta a Itália.




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