23 de março de 2017

"Gostava muito de estar na Volta a Espanha. É um dos meus principais objectivos ir aos Europeus e aos Mundiais"

Rafael Reis recebeu em Palmela o troféu de melhor ciclista de 2016
Rafael Reis está de volta à estrada. Uma fractura no rádio (antebraço) afastou-o da competição durante mês e meio, situação um pouco frustrante dado o bom início de ano que estava a realizar na sua nova equipa. No entanto, este ciclista de Palmela não se deixa abater por um contra-tempo e só pensava em reaparecer em boa forma e continuar o trabalho de evolução e confirmação na Caja Rural. O português está na Coppi e Bartali e se não tiver qualquer problema ou dores, o corredor será também um dos eleitos para estar na Volta ao País Basco, uma competição do nível World Tour.

A capacidade de auto-motivação de Rafael Reis é um dos factores que o diferencia de muitos ciclistas. Realista, o próprio admite que só quer estar na Volta ao País Basco se estiver bem, senão prefere ficar de fora e dar lugar a um colega que esteja melhor fisicamente. A época é longa e o ciclista garantiu que a Caja Rural o apoiou durante o tempo em que esteve em recuperação, afastando assim qualquer sentimento de pressão para rapidamente começar a apresentar resultados. "Naturalmente que é difícil. Na Argentina as coisas correram bastante bem e estavam a correr até àquela queda colectiva na Volta à Comunidade Valenciana. Estava a atingir um bom nível. Mas a equipa está tranquila", salientou ao Volta ao Ciclismo.

Rafael Reis referiu ainda que se preparou muito bem durante o Inverno para começar forte o ano na Caja Rural, equipa que já conhecia nos sub-23, mas foi agora contratado para estar na principal, no escalão Profissional Continental. Devido a essa preparação e apesar da paragem forçada, o ciclista espera que o regresso à competição possa ficar marcado com um rápido recuperar de ritmo, admitindo, contudo,  que os primeiros dias podem ser um pouco complicados. "Mas penso que vou voltar bem", afirmou. Num dia dividido por duas etapas, na em linha, o português terminou na 111ª posição a 3:37 do vencedor, o francês Laurent Pinchon, da Fortuneo-Vital Concept. Depois, no contra-relógio colectivo, mas com as equipas a serem divididas em dois blocos, Rafael Reis esteve no mais rápido da Caja Rural, terminando no 15º lugar, a 37 segundos da CCC Sprandi Polkowice.

A integração na equipa foi facilitada pelo facto de já conhecer grande parte do staff. "Há um grande ambiente e é uma equipa muito motivada", frisou. Apesar de agora o importante ser recuperar a forma e garantir que não tem problemas com a lesão que o afastou da competição, Rafael Reis não esconde os principais objectivos que delineou para ele próprio. Um deles é ser escolhido para estar na Vuelta, de 19 de Agosto a 10 de Setembro: "Gostava muito de estar na Volta a Espanha... Como qualquer ciclista da equipa. Mas não vai haver uma guerra por causa disso. Só temos de fazer o que nos pedem. Mas acho se as coisas correrem bem, poderei ir." Se tal acontecer, deverá significar que não se terá o melhor ciclista de 2016, em termos de ranking nacional, na Volta a Portugal. "São apenas quatro dias que separam as duas corridas, quem estiver na Volta a Portugal, não deverá ir à Vuelta", assinalou.


"É um nível muito diferente de uma equipa portuguesa. Vê-se pelas corridas que [a Caja Rural] faz. É uma equipa com condições extremamente boas, não nos falta nada. É mesmo muito boa"

No entanto, aos 24 anos, Rafael Reis quer afirmar-se definitivamente na selecção nacional. Já passaram quase três anos, mas aquele quarto lugar no contra-relógio de sub-23, nos Mundiais de Ponferrada, ainda custa a recordar: "Foram nove segundos para o terceiro classificado e 18 para o primeiro. Acho que me faltou mais experiência naquela distância." Mas aquele resultado positivo, mas ao mesmo tempo amargo, motiva Rafael Reis a querer mais com a camisola de Portugal. "É um dos meus principais objectivos da época ir aos Europeus e aos Mundiais. No contra-relógio e na prova de fundo. Melhorei muito nesta vertente e penso que posso não estar lá para alcançar grande um resultado, mas posso ajudar a fazer uma equipa bastante forte", explicou.

O ciclista sente que o seleccionador José Poeira confia em si e no trabalho que tem vindo a efectuar e sendo um especialista no contra-relógio, pode ainda não estar ao nível de Nelson Oliveira, mas assegurou: "Vou lutar pelo meu lugar." E a presença na Caja Rural poderá ter um papel importante no desenvolvimento das capacidades de Rafael Reis. "É um nível muito diferente de uma equipa portuguesa. Vê-se pelas corridas que faz. É uma equipa com condições extremamente boas, não nos falta nada. É mesmo muito boa."

Na Argentina até faltou o ar

A ambição de Rafael Reis é chegar alto. Muito alto. O ciclista está disposto a trabalhar muito para concretizar os seus sonhos e chegar onde já está o amigo Ruben Guerreiro, que este ano assinou pela Trek-Segafredo, equipa do World Tour. O salto para a Caja Rural, equipa que tanto aposta em portugueses, permitiu ao ciclista de Palmela estar noutro nível do ciclismo, diferença que sentiu logo na sua estreia na Volta a San Juan. "Na última etapa fizemos uma média de 49 quilómetros por hora, com 47 graus! Na primeira hora até faltou o ar", recordou Rafael Reis. Porém, diz que se sentiu bastante bem na corrida e o 15º lugar na geral confirma mesmo isso.


"Vou trabalhar para continuar a evoluir. Motiva-me muito mais estar a este nível. É aqui que quero estar"

O ciclista falou ainda da etapa rainha, ganha por Rui Costa (UAE Team Emirates): "A etapa de montanha [grande suspiro]... A chegada era a 2600 metros e quem não está preparado para essa altitude, como era o caso da maior parte dos ciclistas que ali estava, é difícil. Notava-se a falta de ar." Porém, o ciclista rapidamente acrescenta: "É isto que eu quero. Vou trabalhar para continuar a evoluir. Motiva-me muito mais estar a este nível. É aqui que quero estar."

Após a Volta a San Juan, as expectativas ficaram bem altas, mas infelizmente deu-se a queda e a fractura que impediram o ciclista de participar nas provas portuguesas, como a Volta ao Algarve, Alentejo e a Clássica da Arrábida, que terminou perto da sua casa. Ainda assim subiu ao pódio para receber o troféu de melhor ciclista de 2016, então ao serviço da W52-FC Porto. Foi um momento que o deixou feliz, mas o que Rafael Reis mais quer é regressar aos pódios para celebrar vitórias com a Caja Rural, sempre com a ambição de melhorar e continuar a dar passos rumo ao mais alto nível do ciclismo, como o director desportivo da Caja Rural, Eugenio Goikoetxea, acredita que poderá acontecer.

»»Eugenio Goikoetxea: "Rafael Reis pode perfeitamente chegar ao World Tour"««

»»Volta a San Juan. Muita Quick-Step Floors e os sinais positivos de Bauke Mollema, Rui Costa e Rafael Reis««

»»Rafael Reis o melhor do ano. W52-FC Porto confirma domínio««

Leia aqui mais conversas.

Sem comentários:

Enviar um comentário