22 de março de 2017

Empurrões? Ou simples toques? Está aberto o precedente para mais polémicas

Foi uma super Movistar no contra-relógio, mas acabou por ser penalizada
Empurrões ou toques? Quantas vezes já se viu ciclistas darem toques nos colegas, às vezes até em adversários e não se geraram polémicas que se estava perante uma ajuda ilegal. José Joaquin Rojas vai pensar duas ou três vezes antes de voltar a tirar as mãos do guiador. Depois de ter perdido a camisola da liderança pelos comissários da Volta à Catalunha terem dado razão a um protesto da BMC e Trek-Segafredo, considerando que o espanhol empurrou Andrey Amador e Nelson Oliveira, a Movistar pensou que o assunto tinha ficado por aí. A Movistar e provavelmente quase todos, menos a BMC, a Trek-Segafredo e alegadamente também a Sky. Alejandro Valverde era suposto partir para a terceira etapa da Volta à Catalunha como líder, mas foi surpreendido com uma nova decisão. E se a primeira parecia ter sido tomada para evitar uma polémica maior, a segunda abriu um precedente que vai muito além de um polémica que marca desde já a edição da histórica corrida espanhola.

Inicialmente Rojas foi penalizado com três minutos, Amador com dois e Nelson Oliveira com um, um minuto por cada toque dado ou recebido. Antes da etapa começar, a Movistar foi informada que a sanção tinha sido modificada: todos os ciclistas perdiam um minuto e a vitória no contra-relógio colectivo era atribuído à BMC, que tinha ficado a dois segundos da formação de Eusebio Unzue. As imagens desde logo provocam um franzir do sobrolho. Empurrões? Visto ser uma situação aberta à opinião de quem vê as imagens em causa, assume-se aqui uma opinião pessoal: nada parece indicar que houve ajuda por parte de Rojas a Amador e Oliveira. A ideia que fica é que são apenas toques a indicar que ele está na última posição e provavelmente queria avisar os colegas que ali iria ficar e que não os iria ultrapassar naquele momento.

Considerar aquele gesto de Rojas como um empurrão abre um precedente perigoso. Assim o alertou Alejandro Valverde e com muita razão. Vão os toques começar a ser todos sancionados? Poderá abrir-se uma espécie de caça às bruxas, com todas as equipas a começarem a queixarem-se ao mínimo toque? Quantas vezes já se viu ciclistas darem toques idênticos? Quantas vezes já se viu ciclistas colocarem a mão nas costas de colegas (às vezes até de adversários), dando pequenos apoios? Mas haverá muito mais por onde se pegar. Se aqueles toques de Rojas foram considerados como ajudas, então o que dizer quando os ciclistas vão buscar o abastecimento aos carros e ficam algum tempo agarrados, às vezes claramente mais do que o necessário, para recolherem seja a bebida ou comida? E já agora, se se fala de empurrões, vão começar a cumprir as regras à risca e retirar da corrida ciclistas que nas etapas de montanhas são tantas vezes ajudados, muitas vezes pelo público, para passarem as dificuldades (sim, a referência é às conhecidas ajudas a sprinters, por exemplo)?

As regras são para se cumprir. Sejam em francês ou em inglês. Chegou-se ao ponto de dizer que uma língua indicava uma sanção, outra uma diferente! Afinal parecem que ambas são iguais, como era de supor. Se não se pode tocar, então a penalização à Movistar é justa e não há nada a dizer. Mas agora todos os toques terão de ser sancionados, principalmente no que se refere aos contra-relógios colectivos, já que é isso que está em causa.

Porém, fica o sentimento de injustiça. No passado já se "dobrou" as regras para tentar manter a verdade desportiva. Ninguém se esqueceu o que aconteceu no Mont Ventoux, na Volta a França. Chris Froome caiu depois da moto ter ficado sem espaço para passar por entre o público. Com a bicicleta partida, começou a correr para evitar perder muito tempo. A organização do Tour acabou por assumir a responsabilidade do sucedido, o que permitiu a Froome manter a camisola amarela. A verdade desportiva foi defendida, mas se as regras tivessem sido respeitadas, não só Froome teria perdido muito tempo, como ainda teria de ser penalizado por ter andado sem a sua bicicleta. É um caso completamente diferente do da Movistar, é certo. Serve apenas para exemplificar como constantemente existem dois pesos e duas medidas.

Mas há que tirar o chapéu à reacção da Movistar. Liderada por esse grande ciclista, um exemplo de como nunca se deve deixar abater por contrariedades, Alejandro Valverde foi forte. Muito forte. O espanhol venceu com autoridade a terceira etapa, recuperou algum do tempo perdido, numa altura que se calhar deveria estar a construir uma vantagem ainda maior... Mas enfim... Até o próprio diz que não há nada a fazer e que agora terá de correr para procurar anular a desvantagem para o agora líder Tejay van Garderen (BMC). Ainda são 45 segundos que o separam da liderança. Contudo, Valverde respondeu na estrada a uma decisão injusta tomada fora dela.

Empurrões? Toques? Neste link pode ver o vídeo, no site da Marca.



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