Quando o assunto é cobrar bilhetes em corridas de ciclismo, inevitavelmente pensa-se em Oleg Tinkov. Esta forma de rentabilização da modalidade foi uma das várias propostas que o magnata russo fez e que nem sequer foi considerada. Tinkov fartou-se de ninguém o ouvir e de o modelo de negócio do ciclismo pouco ou nada favorecer as equipas, colocando um ponto final na sua formação no final do ano passado. Porém, Tinkov deve ter pensado "agora já acham boa ideia" quando uma sondagem revelou que cerca de metade dos organizadores de corridas na Bélgica consideram que a cobrança de bilhetes será inevitável para garantir a sobrevivência das provas, completamente dependentes de patrocínios.
O trabalho foi publicado no final do mês de Fevereiro pelo jornal belga Het Nieuwsblad e mostra que cerca de metade dos organizadores de corridas naquela país estão a ponderar implementar o sistema, alegando a necessidade de facturar algum dinheiro, de forma a não depender exclusivamente de patrocínios. Algumas provas têm estado em risco de não se realizarem por falta de investimento e já há uma que cobra cinco euros - a Nokere Koerse - a quem quiser assistir à passagem dos ciclistas nos últimos 30 quilómetros. É chamada a "zona da verdade".
Mas há um pormenor muito importante a ter em conta: os organizadores que defendem este sistema são de corridas mais pequenas na Bélgica, pois as grandes empresas que metem na estrada a Volta a Flandres, a Gent-Wevelgem e a E3 Harelbeke, por exemplo, garantem que vão manter o acesso gratuito em qualquer zona dos percursos.
O resultado desta sondagem levantou a questão: a cobrança de bilhetes é inevitável? Numa modalidade sempre vista como do povo, muito pela forma como tem a capacidade de atrair muitas pessoas à berma da estrada para apoiar os ciclistas, a cobrança de bilhetes quase parece um piada de mau gosto. Conseguiremos imaginar pagar cinco euros (pegando no exemplo da Nokere Koerse) para estar no Alto da Senhora da Graça, na Volta a Portugal? Se alguma vez a ideia vier a ser implementada, seja em que país for, uma coisa é certa: será necessário promover uma enorme mudança de mentalidade, que não será nada fácil.
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