17 de fevereiro de 2017

Os melhores mostram porque são os melhores na Volta ao Algarve

Castroviejo estreou-se a vencer com a camisola de campeão europeu
Às vezes não basta ter um pelotão com grandes nomes. Não seria inédito ciclistas importantes estarem em corridas apenas a pensar em "rolar", ou seja, a preparar outras provas que considerem mais importantes. Nesta Volta ao Algarve não se está a ver esse tipo de atitude. Até poderia parecer, pois quem esteve esta sexta-feira em Sagres foi presenteado com um dia primaveril, o que fez com que ao, se passear por entre os autocarros das equipas, via-se, por exemplo, um Arnaud Démare a desejar ter uma espreguiçadeira, um Bouhanni a rir-se enquanto olhava para o telemóvel depois de terminar a sua etapa, na Roompot e Gazprom RusVelo o ambiente não podia ser de maior relaxamento. Mas desengane-se quem poderia pensar que era um ambiente demasiado descontraído para um dia que poderia ajudar a definir a geral. Démare, por exemplo, fez um surpreendente sexto tempo.

Olhando para a classificação do contra-relógio de Sagres (18 quilómetros), facilmente se tira a conclusão: os melhores estão na Volta ao Algarve para mostrar porque são os melhores. Haverá certamente corridas mais importantes pela frente, mas esta semana, a que querem vencer decorre nas estradas algarvias. Ora vejamos: o campeão europeu de contra-relógio - que finalmente estreou a camisola -, Jonathan Castroviejo (Movistar), venceu, ficando o campeão do Mundo, Tony Martin (Katusha), a quatro segundos. Seguiram-se Primoz Roglic (Lotto-Jumbo), o campeão esloveno que no ano passado foi o mais rápido num dos contra-relógios do Giro, Michal Kwiatkowski (Sky) e Lars Boom (Lotto-Jumbo) que também andam bem nesta especialidade, Alex Dowsett (Movistar), o campeão britânico, Edvald Boasson Hagen (Dimension Data), o campeão norueguês e em nono o tetra-campeão português, Nelson Oliveira, que fez mais 20 segundos que o companheiro de equipa, Castroviejo. Os melhores... chegaram-se à frente.

E é assim que se gosta de ver estas corridas de início de temporada, na qual os níveis físicos nem sempre são os ideais. Mas esta Volta ao Algarve está a proporcionar espectáculo desde o primeiro dia, quando os grandes nomes do sprint lutaram pela vitória. No segundo dia, os candidatos à geral apareceram na Fóia. O espectáculo está garantido até à meta no Alto do Malhão, no domingo, já que as diferenças deixam tudo em aberto para o último dia. Antes, será de novo dia para os sprinters, com a etapa mais longa a começar em Almodôvar e 203,4 quilómetros depois, Tavira recebe novamente o final.

Roglic cada vez mais uma certeza no ciclismo

Roglic é o novo líder e tem 22 segundos de vantagem
Tem 27 anos e só há cinco é que decidiu que era numa bicicleta que queria fazer carreira e não nos skis. Fazia Ski Jumping, até tem um título europeu, mas a Lotto-Jumbo encontrou um ciclista que apareceu "tarde", mas muito a tempo de ganhar o seu espaço entre os melhores. Em 2016 foi quinto na Volta ao Algarve, naquele que acabaria por ser o seu ano de confirmação, tendo ajudado, e muito, a vitória no contra-relógio no Giro. É certo que beneficiou da chuva que prejudicou quem partiu para a estrada mais tarde, mas também há que lembrar que perdeu a primeira etapa para Tom Dumoulin por uma questão de centésimos.

No contra-relógio Roglic dá confiança à Lotto-Jumbo, falta agora perceber se será uma aposta para corridas de uma semana, ou se irá ser um homem para as grandes voltas. Para já, corridas como a Volta ao Algarve são o que melhor lhe assentam, tendo já vencido a Volta à Eslovénia e ao Azerbaijão. No Malhão a ver vamos se está preparado para aguentar uma subida mais explosiva comparativamente com a Fóia. Os 22 segundos são uma vantagem importante, mas Michal Kwiatkowski está a ver uma oportunidade de conquistar a sua segunda Volta ao Algarve, pois é um ciclista que gosta do tipo de subida que irá enfrentar no domingo. Castroviejo está a 36 segundos e é também um forte candidato.

Quem conseguiu passar de favorito a praticamente fora da luta foi Daniel Martin (Quick-Step Floors). Já se sabe que o contra-relógio não é uma especialidade sua, mas perder mais de minuto e meio foi demasiado mau. Uma palavra ainda para Luis León Sánchez. O ciclista da Astana era o líder por esta altura na edição de 2016, mas uma queda no contra-relógio atirou-o para fora da corrida. Este ano é quinto a 59 segundos. Missão difícil, mas este espanhol é capaz do melhor e do pior, pelo que, atenção a ele.

Quanto aos portugueses, não houve surpresas. Amaro Antunes (W52-FC Porto) e Edgar Pinto (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack) - os dois que estavam no top dez - perderam tempo, mas nada que os afaste dos objectivos. Amaro é nono (a 1:54) e Edgar Pinto caiu para 11º, a 2:07, a mesma desvantagem que tem Nelson Oliveira. Há ainda que destacar Rinaldo Nocentini. Velho? Nem pensar. O italiano de 39 anos do Sporting-Tavira ainda tem algo para dar. Esteve bem na Fóia e ainda que o contra-relógio não tenha sido brilhante, está na 10ª posição, a 1:56.

Este sábado é então dia para os sprinters, se não houver nenhuma surpresa. Ficamos à espera de todas as decisões em mais uma muita aguardada subida ao Alto do Malhão.







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