25 de dezembro de 2016

Prenda de Natal para 100ª edição da Volta a Itália: Nairo Quintana confirma presença

Nairo Quintana venceu o Giro em 2014 (Fotografia: Facebook Movistar)
O anúncio não chegou como uma novidade, mas como a confirmação de um desejo que o colombiano tinha expressado pouco depois de conhecer o percurso da 100ª edição da Volta a Itália e que foi alimentando nas semanas seguintes. Nairo Quintana vai mesmo regressar à competição que venceu em 2014 - naquela que foi a sua primeira conquista de uma grande volta -, mas deixou uma ressalva: "O objectivo é o Tour. Vamos enfrentar o Giro com muito carácter, decisão e com uma grande equipa. Temos a ilusão de o ganhar, mas temos um compromisso com o Tour."

Naturalmente que ao estarmos a falar de Quintana, estamos a falar de alguém que não compete apenas para participar. O ano de 2016 é a prova disso: em nove corridas venceu quatro, esteve no pódio noutras três, foi quarto nos Campeonatos Nacionais e abandonou no Grande Prémio Miguel Indurain. "Já ganhámos [o Giro] uma vez, porque não voltarmos a fazê-lo...", disse numa entrevista ao jornal El Tiempo. O facto de ser a 100ª edição serviu de motivação para Quintana e a Movistar, com o colombiano a salientar que é uma "marca especial".

Desde que a corrida foi apresentada a 25 de Outubro que muitos ciclistas elogiaram o percurso e expressaram um certo desejo de estar na 100ª edição do Giro. Dois deles foram Nairo Quintana e Chris Froome. Enquanto que no caso do britânico parece cada vez mais difícil que se concretize essa presença, Quintana foi mantendo a hipótese em aberto e percebeu-se que estava mesmo a ponderar fazer Giro-Tour em vez de Tour-Vuelta, quando disse que depois de ter recuperado muito bem da Volta a França, de tal forma que venceu em Espanha, que talvez fosse possível fazer o Giro e manter o chamado "sueño amarillo".

Nunca é de mais recordar que o último ciclista a fazer a dobradinha vitoriosa Giro-Tour foi Marco Pantani em 1998. No ano passado, Alberto Contador tentou, mais por ordem do dono da equipa, Oleg Tinkov, do que por sua vontade. O espanhol venceu em Itália, mas esteve longe da melhor forma quando chegou a França. Nairo Quintana tem uma vantagem relativamente a Contador: a idade. O espanhol tinha 33 anos quando tentou, o colombiano terá 27. Outro factor a favor de Quintana é a equipa. Contador ganhou um Giro com pouca ajuda da Tinkoff, que também não foi famosa no Tour. A Movistar pode ter dificuldades em fazer frente a uma Sky a 100%, mas tem capacidade para apoiar muito mais o seu líder do que tinha a agora extinta Tinkoff.

Haverá efeitos colaterais?

Vincenzo Nibali e Fabio Aru eram já dois dos principais ciclistas da actualidade com presença confirmada no Giro. Sendo italianos, não quiseram faltar a uma edição especial. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) também expressou a vontade de lá estar, Steven Kruijswijk (o holandês que esteve tão perto de ganhar a Volta a Itália este ano, mas que deitou tudo a perder com uma queda) já confirmoui que voltará. A Orica-Scott quer Johan Esteban Chaves na Volta a França, mas é provável que o colombiano (segundo este ano) queira tentar de novo a sua sorte em Itália e depois desta decisão de Quintana, não seria de surpreender se Chaves segui-se o exemplo do seu compatriota, excluindo a Vuelta do seu calendário. Ilnur Zakarin (Katusha) vai estar no Giro, Thibaut Pinot (FDJ) também disse que é em Itália que quer apostar em 2017 e não tanto no "seu" Tour.

A escolha de Quintana poderá influenciar a escolha de outros ciclistas e o Giro poderá estar a preparar-se para o melhor "elenco" dos últimos anos. Porém, fica a questão se um dos efeitos colaterais poderá afectar Chris Froome. Afinal, agora fica a saber o calendário daquele que foi este ano o seu principal adversário. O receio de ficar a perder por fazer o Giro e os seus rivais apostarem só no Tour fica em parte afastado. No entanto, a Sky mantém-se, para já, fiel ao plano de dar oportunidade a outro ciclista de ser líder. Começou por ser Mikel Landa, mas agora já se fala que é possível que chegue a vez de Geraint Thomas mostrar-se como número um da equipa numa grande volta.

Quanto a Alberto Contador, nada irá afectar o seu objectivo primordial nesta fase da carreira: vencer a Volta a França pela terceira vez. Mudou-se para Trek-Segafredo na expectativa de encontrar ali uma equipa mais forte no apoio. O espanhol dará tudo pela glória no Tour, que venceu em 2007 e 2009 (foi retirado o triunfo de 2010 devido a doping, no caso que ficou conhecido como "bife à Contador").

Alejandro Valverde, terceiro na sua estreia no Giro e com uma vitória de etapa, irá regressar ao seu habitual calendário, voltando assim a ser líder no ataque à Vuelta, depois, claro, de voltar a desempenhar o papel de gregário no Tour.

Quintana não estará na Volta ao Algarve

Na mesma entrevista ao El Tiempo, Nairo Quintana disse que este ano não irá começar a época na Argentina, ou seja, não se realizando o Tour de San Luis, as atenções viraram-se para San Juan, mas o colombiano afirmou que em Janeiro e Fevereiro irá competir em Espanha. Depois regressará à Colômbia para habituais treinos em altitude no seu país, que nunca dispensa. A não ser que se verifique uma mudança de última hora, será difícil ver Nairo Quintana nas estradas algarvias, até porque nas mesmas datas (de 15 a 19 de Fevereiro) realiza-se a Ruta del Sol.

Num balanço do ano, o colombiano disse que 2016 foi o melhor da sua carreira, até ao momento, destacando precisamente os bons resultados em praticamente todas as competições em que participou. No entanto, falar da Volta a França já fez mudar o semblante de Quintana, como descreveu o El Tiempo. Admitindo a óbvia superioridade da Sky, referiu que sofreu de alergias que afectaram o seu desempenho.

"Estamos a tralhabar para chegar em melhores condições no próximo ano e superá-las [as alergias]. Não é fácil, pois não desaparecem de um dia para o outro. Não há medicina para isso, mas faremos o esforço para tentar que não me afectem tanto da próxima vez que enfrente esse problema", explicou. Ainda assim destaca que um terceiro lugar no Tour é sempre um pódio naquela que é vista como a prova mais importante do ciclismo, realçando que sentiu que ninguém percebeu que era isso que sentia verdadeiramente quando o afirmou durante a Vuelta.

E por falar de Volta a Espanha, a competição poderá também ela sofrer um efeito colateral da decisão de Quintana. Mais uma vez não terá o vencedor do ano anterior (isto se não acontecer nada de anormal que mude o calendário do colombiano) e se houver mais grandes nomes a apostarem na dobradinha Giro-Tour, enquanto em Itália se irá celebrar por se ter o melhor pelotão dos últimos anos, em Espanha poderá sentir-se alguma frustração por muitas estrelas que normalmente fazem Tour-Vuelta falharem a prova em 2017. Contudo, ainda é cedo para estas especulações. A longa temporada ainda nem sequer começou. Mas já não falta muito!


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