(Fotografia: Facebook de Joaquim Rodríguez) |
Decidir terminar uma carreira não pode ser uma decisão fácil. Talvez, por isso, este tipo de indefinição possa acontecer. Nem foi caso único. Alberto Contador também pretendia terminar em 2016 e o ano nem ia a meio quando voltou atrás numa afirmação que tinha convencido pouca gente (há que dizê-lo). Rodríguez chorou quando na conferência de imprensa, durante o Tour, anunciou que tinha chegado o momento de terminar uma longa carreira, com alguns sucessos, mas também com algumas frustrações de vitórias que estavam ali tão perto e que acabaram por lhe escapar.
Talvez o facto da Katusha o ter contrariado nas suas pretensões de terminar a carreira nos Jogos Olímpicos (foi quinto), obrigando-o a competir, mesmo já não estando em forma - fez três corridas em Itália e não acabou nenhuma -, tenha deixado Purito com vontade de continuar a procurar outra forma de se despedir, mais digna daquilo que o espanhol foi e representou para o ciclismo durante os 16 anos de profissionalismo.
Rodríguez (37 anos) não poderá alterar a forma estranha com que colocou um ponto final na carreira. Nem poderá fugir às teorias da conspiração que defendem que esta decisão já acontece quando a Bahrain-Merida já não precisa dos tais pontos do espanhol, primeiro porque a UCI tinha confirmado que daria a licença World Tour a todas as 18 equipas (se cumprissem os requisitos, o que falta acontecer com a TJ Sport, de Rui Costa) e não apenas a 17 e em segundo porque a formação já tem mesmo a sua licença confirmada.
Purito nos Campos Elísios, na sua última etapa de sempre no Tour (Fotografia: Facebook Katusha) |
Tudo começou na ONCE em 2001. Convenceu como estagiário no ano antes e juntou-se a uma equipa que contava com o português José Azevedo. As primeiras vitórias chegaram em 2003 e foi logo em grande: uma etapa no Paris-Nice, outra na Volta à Catalunha e depois uma na Vuelta, depois de ter conquistado com a equipa a primeira tirada na competição, no contra-relógio colectivo. O ano marcaria também o adeus à ONCE, mas foi nesta equipa que ficou com a alcunha de Purito, por ter fingido estar a fumar um charuto depois de ultrapassar os colegas durante um treino. O autor: Laurent Jalabert.
Esteve três anos na Saunier Duval-Prodir, passando depois para a Caisse d'Epargne, onde evoluiu muito, mas percebeu que com Alejandro Valverde na equipa dificilmente teria o protagonismo desejado. A Katusha abriu-lhe as portas e Rodríguez viveu os seus melhores momentos na carreira na equipa russa e já depois dos 30 anos. Terminar no top dez nas grandes voltas tornou-se vulgar, tendo subido ao pódio nas três. Faltou a vitória. E ela esteve perto primeiro em 2012 no Giro e depois em 2015 na Vuelta. Neste último caso, foi Fabio Aru quem lhe "tirou" o triunfo por 57 segundos. Mas foi aquele Giro de 2012 que mais frustrou Rodríguez. Sempre teve problemas com o contra-relógio e foi isso que o fez perder a Volta a Itália. Ryder Hesjedal alcançou uma vitória histórica para o Canadá, com 16 segundos a separá-lo de Rodríguez.
E depois ainda há aqueles Mundiais de 2013, em Florença. O português Rui Costa foi mais forte no final e mais uma vez Purito viu fugir-lhe uma grande vitória, depois de Alejandro Valverde não ter ajudado (a relação entre os dois espanhóis não foi a melhor).
Apesar de tantas frustrações e por ver os anos passarem sem conseguir ganhar uma grande volta, Rodríguez nunca deixou de lutar. Sempre que estava bem numa corrida, estava para ganhar e muito ele gostava daqueles muros de inclinação brutal que lhe assentavam tão bem à sua postura muitas vezes explosiva nas provas.
Despediu-se em 2016 sem vitórias, mas com um sétimo lugar no Tour e o quinto nos Jogos Olímpicos. Despediu-se sem uma festa como teve Fabian Cancellara. Despediu-se com uma última frustração da equipa o obrigar a competir quando já não queria. Se calhar é difícil haver despedidas perfeitas, mas Rodríguez merecia mais. Um adeus para recordar e sem polémicas de pontos à mistura.
No discurso que ficará então como o da despedida, disse que se apercebeu que não estava "nem física nem mentalmente preparado para regressar a 100%". Agradeceu à equipa a oportunidade e vai agora fazer parte do staff, que, segundo o director desportivo Brent Copeland, foi a razão que levou a Bahrain-Merida a contratar Rodríguez. Purito irá trabalhar principalmente na formação de jovens ciclistas, ficando também ligado à associação de turismo para ajudar a promover o Bahrein e será ainda um dos rostos da marca de bicicletas Merida.
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