10 de novembro de 2016

Um clube de formação de referência como homenagem a um dos maiores nomes do ciclismo: José Maria Nicolau

José Nicolau. O nome não engana. Nos anos 30 foi uma referência do Benfica e do ciclismo nacional. Actualmente é uma referência na formação de jovens ciclistas. O avô foi um dos melhores ciclistas portugueses (venceu a Volta a Portugal em 1931 e 34), o neto orienta um dos clubes mais importantes para quem quer começar e evoluir na modalidade. Frederico Figueiredo e César Fonte (Rádio Popular-Boavista), Nuno Almeida (Efapel) ou Rui Rodrigues (Louletano-Hospital de Loulé) foram alguns dos agora profissionais que passaram pelo Clube de Ciclismo José Maria Nicolau, que há muito que deixou de ser apenas um símbolo no Cartaxo, para se tornar numa das principais equipas nacionais nos vários escalões em que compete: todos até aos sub-23, inclusive.

O projecto nasceu em 2003 e conta com várias vitórias, incluindo títulos nacionais. Mas mais do que vitórias, José Nicolau (51 anos) quer ajudar os seus ciclistas - este ano foram cerca de 30 - a cumprirem o objectivo de chegarem a profissional, algo que sempre foi difícil e o próprio sabe disso. Até aos 22 anos foi amador e ao não conseguir um contrato, dedicou-se à sua vida profissional, tendo uma loja de bicicletas, sem nunca ter deixado por completo a modalidade, ligando-se principalmente à formação.

Ao Volta ao Ciclismo, José Nicolau explicou porque resolveu criar o seu próprio clube: "O Cartaxo não tinha uma equipa de ciclismo, que eu me lembre, há muitos anos. Houve algumas formações no concelho, mas não no Cartaxo. Começámos com as escolinhas." José Nicolau recordou que foi um amigo que o fez ver que era a oportunidade perfeita para homenagear o seu avô, natural precisamente do Cartaxo. "Era uma maneira de perpetuarmos o seu nome e homenageá-lo", salientou.


"Temos de fazer uma ginástica com os pequenos patrocínios... uns pequenos, outros grandes, mas os grandes são cada vez mais difíceis"

Como qualquer director de uma equipa de ciclismo, para mantê-la em funcionamento ano após ano é necessário uma ginástica financeira. "Sem os subsídios seria impensável e há que agradecer isso à federação, pois assim conseguimos ir às corridas e sobreviver. Só com os patrocínios não chega. Temos de fazer uma ginástica com os pequenos patrocínios... uns pequenos, outros grandes, mas os grandes são cada vez mais difíceis", afirmou.

Até aos sub-23 um jovem ciclista pode evoluir em equipas de formação como o Clube de Ciclismo José Maria Nicolau. Porém, o salto para o profissionalismo é um passo que nem todos conseguem dar. "No nosso ciclismo falta existirem uma ou duas equipas a nível Profissional Continental. Temos atletas para isso, como comprovam os bons que temos a competir internacionalmente. Nesse escalão eles poderiam competir lá fora a maioria do tempo, nas corridas europeias. Iriam competir com os melhores e temos valores para isso. Agora não conseguem entrar nesse mercado porque é muito competitivo", frisou.


"[Ter formações no escalão Profissional Continental] faria com que as equipas mais pequenas tivessem ainda mais gosto para trabalhar e formar atletas, sabendo que uma ou duas equipas os poderia lançar"

Para José Nicolau, ter equipas portuguesas no escalão Profissional Continental poderia ser uma rampa de lançamento internacional para os jovens ciclistas. "Isso faria com que as equipas mais pequenas tivessem ainda mais gosto para trabalhar e formar atletas, sabendo que uma ou duas equipas os poderia lançar", acrescentou.

O FC Porto até poderá dar esse salto em 2018 e José Nicolau elogia a "ousadia e coragem" dos responsáveis quererem passar a ser uma equipa Profissional Continental. "Ao subirem de escalão irão abrir-se muitas portas nas provas internacionais pela Europa. É o não existirem equipas a esse nível que tira visibilidade ao valor que os nossos jovens atletas têm."

Para já a realidade é que as equipas portuguesas são do escalão Continental, o que faz com que muitos dos jovens tentem entrar em equipas estrangeiras, também de formação, mas que lhes permite competir lá fora. E no Clube de Ciclismo José Maria Nicolau podem dar os primeiros passos rumo ao sonho do profissionalismo, com as inscrições já abertas para o próximo ano.

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