3 de agosto de 2016

Loucura? Heroísmo? Não, é pura determinação

Joni Brandão iniciou uma fuga solitária na subida à Torre (Fotografia: Volta a Portugal)
São várias as histórias de ciclismo que se escrevem assim. Uns consideram um acto de loucura, outros de heroísmo. Uma coisa é certamente: um acto de determinação, de acreditar no que mais ninguém parecia acreditar. Poderia até ser a única hipótese que restava a Joni Brandão para recuperar tempo e ainda ambicionar a algo mais nesta Volta a Portugal. Mas o ciclista da Efapel agarrou-se a essa oportunidade e deu tudo. Mostrou coragem, quando muitos teriam desanimado. Mostrou força, quando muitos se teriam resignado.

Foram mais de 80 quilómetros de fuga solitária, que começaram na segunda passagem pela Serra da Estrela. Ali foi ele. O homem de Santa Maria da Feira que pedalou sozinho pela estrada até à Guarda. Foi aguentando, mesmo sabendo que quem o perseguia era uma equipa coesa que manteve cinco homens unidos até muito perto do final. Dizem que é a nossa Sky. Quantos homens tentaram enfrentar a Sky no Tour?

Foi Joni Brandão contra a W52-FC Porto. Uma luta desigual, mas que cuja vontade de lutar e de principalmente de não desisitir de Joni o colocou desde já como uma das grandes figuras desta Volta. Era quase impossível. Mas pelo menos tentou. Quantos podem dizer o mesmo.

Não houve rampa que o desmoralizasse, não houve calor que o abrandasse. A táctica estava assumida pelo director desportivo Américo Silva. Mas mais importante do que um planeamento é o que se passa na cabeça do ciclista. Como encarar a etapa rainha sabendo que a única possibilidade é um ataque de longe? A organização optou por não ter uma chegada em alto na Torre. Joni Brandão não gostou. Porém, quando chegou o momento, encarou o dia como se fosse o seu. Era ali que estava a sua oportunidade. Há que no mínimo tentar agarrá-la. Assim o fez.

A três quilómetros do fim a aventura terminou. O sonho terminou. Já há alguns quilómetros que se percebia que seria difícil, para não dizer impossível. Mas Joni só cedeu quando não dava mais. Até acabou por perder algum tempo (21 segundos) e pode até ficar com o pódio em risco (está em quarto lugar, a 20 segundos de Daniel Silva, da Rádio Popular-Boavista). Mas Joni fez o que lhe competia para cumprir aquilo que mais quer: se é para ganhar a Volta a Portugal então há que arriscar e neste caso tinha de arriscar tudo.

A competição ainda não acabou, mas perante o perfil das etapas que restam até domingo, agora é Rui Vinhas quem começará a sonhar alto. Joni Brandão certamente que ainda gostará de tentar uma etapa e pelo menos o pódio. No entanto, a partir de agora - se nada de estranho acontecer - vai-se falar muito mais da W52-FC Porto. Sim, porque foi preciso uma equipa forte para bater a vontade de um homem determinado como Joni Brandão, mas depois bastou um Gustavo Veloso, que nestes momentos parece de outro mundo, para deixar todos para trás e ganhar na Guarda, a segunda vitória depois da Senhora da Graça.

A Rui Vinhas resta aguentar para pelo menos chegar à última etapa de amarelo e esperar ter tempo suficiente de vantagem no contra-relógio e, se calhar, um bom bocado da determinação de hoje de Joni Brandão, para concretizar a surpresa e vencer o seu colega de equipa.




7ª etapa: Figueira de Castelo Rodrigo - Castelo Branco (182 quilómetros)

É dia para recuperar o fôlego. Pode dizer-se que é o mais calmo, com uma expectável chegada ao sprint..

Veja as classificações da Volta a Portugal após a sexta etapa, que ligou Belmonte à Guarda (173,7 quilómetros).

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