13 de julho de 2016

Dia de conversas paralelas na Volta a França

Joaquim Rodríguez vai terminar a carreira no final do ano (Fotografia: Team Katusha)
O Tour voltou à estrada após um dia de descanso, mas as conversas predominantes foram sobre o que aconteceu fora da competição. O ciclismo espanhol teve duas notícias que provocaram algum choque. Primeiro foi Joaquim Rodríguez a anunciar o final da carreira quando terminar o ano, depois seguiu-se um Alberto Contador desapontado por perder a oportunidade de conquistar uma medalha olímpica. Com novidades como estas, a etapa relativamente calma da Volta a França passou para segundo plano.

Começando por Joaquim Rodríguez. Aos 37 anos e em final de contrato com a Katusha, já se levantavam algumas questões sobre o futuro do espanhol. A equipa russa tem claramente apostado na evolução de Ilnur Zakarin, a ciclista apontado para ganhar uma grande volta. Porém, claramente Rodríguez continua a ter muito crédito na Katusha, justificado por em sete anos sempre ter sido um ciclista de alcançar vitórias, tendo inclusivamente sido líder do ranking mundial.

Num treino com Laurent Jalabert, um jovem Rodríguez quis mostrar a sua forma passando pelos colegas a fingir que estava a fumar um charuto e o francês deu-lhe a alcunha que perdurou na sua carreira: Purito. Rodríguez ganhou etapas na Vuelta e no Tour e subiu ao pódio nas três grandes voltas, mas nunca soube como é ganhar uma, muito por culpa da falta de capacidade de se defender nos contra-relógios. Conquistou o Giro da Lombardia duas vezes, talvez as mais importantes 44 vitórias da carreira, além, claro, das nove etapas na Volta a Espanha e três em França. E quase, quase foi campeão do mundo, mas Rui Costa ficou com a camisola do arco-íris em 2013.

Purito é daqueles ciclistas que sempre se quer ver nas corridas. Dele é sempre de esperar algo. Nunca foi de grandes esperas, sempre gostou do ataque, do espectáculo, de preferir tentar vencer e falhar, do que esperar e desperdiçar uma oportunidade. Pode não ter o currículo de um Miguel Indurain ou de um Alberto Contador, mas Joaquim Rodríguez será um nome que recordado no ciclismo espanhol, também muito devido à sua personalidade.

Livre da pressão de um profissional que em 2001 assinou o seu primeiro contrato com a ONCE, Rodríguez apareceu este ano com um espírito diferente, conhecendo-se agora a razão: o adeus ao ciclismo. O Tour poderá não ser para ele - talvez uma etapa -, mas a Vuelta representará a sua derradeira oportunidade de vencer uma grande volta, ainda que já não pareça tão obcecado como no passado por alcançar esse triunfo. Antes, Rodríguez espera estar no Rio de Janeiro e poderemos ver um Purito ao estilo Fabian Cancellara: se é a última época, então é para dar o tudo por tudo e se ganhar muito bem, senão... são 15 anos ao mais alto nível e Rodríguez já nada tem a provar. O que tem a fazer é aproveitar e saborear todos os quilómetros, todas as pedaladas.

Quanto a Alberto Contador, ele que ameaçou reformar-se este ano, mas que recuou na decisão, está a ter uma segunda metade de 2016 desanimadora. Após o abandono do Tour, o espanhol submeteu-se a vários exames médicos que determinaram lesões tanto na perna como no ombro. Resultado? Os Jogos Olímpicos são quase uma miragem o que poderá acabar com o sonho de uma medalha. O percurso este ano no Rio de Janeiro é perfeito para Contador. Daqui a quatro - se ainda competir - arrisca-se a não ter um tão propício a trepadores. Mas não é em 2020 que Contador pensa. É já em 20 de Agosto, quando começar a Vuelta. Em 2014, quando partiu uma perna no Tour, fez uma recuperação espantosa e ganhou a Volta a Espanha e o El Pistolero está desejoso de salvar a temporada com um triunfo em casa.

As conversas sobre Contador continuaram na ordem do dia com a quase garantida transferência para a Trek-Segafredo. Não é novidade e oficialmente o contrato só poderá ser anunciado a partir de 1 de Agosto. Porém, o próprio ciclista já garantiu que tem o destino traçado, deixando uma Tinkoff que até deverá fechar portas por vontade do dono, mas mesmo que não fechasse, depois do que aconteceu com Roman Kreuziger no Tour - desrespeitou ordens da equipa e não ajudou o espanhol - Contador seguiria certamente o seu caminho, até porque está em final de contrato.

E na estrada...

A décima etapa do Tour trouxe algumas dores de pernas na primeira categoria que abriu o dia, mas depois foi tudo muito calmo. Rui Costa até foi o primeiro a passar na subida - o ponto mais alto da Volta a França, a 2408 metros em Port d'Envalira, o que lhe valerá um prémio monetário -, integrando uma fuga que mais parecia um pelotão que qualquer competição adoraria ter: Peter Sagan, Greg Van Avermaet, Vincenzo Nibali, Mikel Landa, Edvald Boasson Hagen, Tony Galopin, Sylvain Chavanel, Stephen Cummings, Samuel Dumoulin, Damiano Caruso, Gorka Izaguirre, Daryl Impey, Luke Durbridge e o eventual vencedor da tirada, Michael Matthews.

O pelotão quase passeou desde que ultrapassou a subida inicial. A Katusha, a IAM e mais tarde a Direct Energie ainda trabalharam um pouco, mas sem grandes resultados. A fuga ganhou tempo e depois do grupo se partir - Rui Costa ficou para trás - a Orica-BikeExchange fez valer o facto de ter três homens na frente e trabalhou para Matthews se juntar ao restrito lote de ciclistas que já conquistaram etapas nas três grandes voltas. Triunfo importante também pelo facto da equipa australiana estar a competir neste Tour com um novo patrocinador.

O pelotão cortou a meta mesmo em ritmo de passeio e hoje é de esperar uma etapa também sem grande acção, a não ser que o vento anime as hostes. É dia para os sprinters reaparecerem, numa tirada em que os homens da geral vão estar muito atentos para evitar qualquer problema. É que quinta-feira é dia de Mont Ventoux, uma das etapas mais aguardadas da Volta a França. Aí sim, espera-se muita acção!


Résumé - Étape 10 (Escaldes-Engordany / Revel... por tourdefrance

Etapa 11: Carcassonne - Montpellier (162,5 quilómetros)


Sem comentários:

Enviar um comentário