22 de maio de 2016

E se Nibali e Valverde trocarem a rivalidade por uma aliança?

Kruijswijk ganhou tempo aos adversários, que têm cinco etapas para
atacar a liderança do holandês (Fotografia: Twitter @giroditalia)
Um dia depois de Alejandro Valverde ter um péssimo dia na Volta a Itália, foi a vez de Vincenzo Nibali ver a vitória no Giro ameaçar escapar-lhe. A crono-escalada foi favorável a Steven Kruijswijk que aumentou a vantagem e agora tem Johan Esteban Chaves como o adversário mais próximo (a 2:12 minutos). Com cinco etapas ainda por discutir (exclui-se a última que normalmente é de consagração para o vencedor), Nibali e Valverde ainda não estão fora da discussão, mas com 2:51 e 3:29 minutos,  respectivamente, para recuperar, talvez seja o momento para uma aliança de circunstância de forma a atacar um ciclista que não tem uma equipa forte para o ajudar, mas que individualmente poderá estar suficientemente forte para aguentar.

"Porque não? Tudo pode acontecer", admitiu Valverde quando lhe foi colocada a questão. E é mesmo isso: porque não? A Astana e a Movistar são, de longe, as duas melhores equipas presentes no Giro. Situação normal, visto serem as duas que assumidamente traziam os homens mais fortes para a geral, a par da Sky que entretanto está com outros planos desde o abandono de Mikal Landa.

A Lotto-Jumbo, herdeira da famosa Rabobank (que venceu o Giro em 2009 com Denis Menchov), tem nos últimos dois/três anos tentado regressar à ribalta, principalmente através da rentabilização de jovens ciclistas, que até começaram muito novos a serem formados pela Rabobank (que tinha a equipa World Tour e uma Continental).

Steven Kruijswijk é o exemplo do sucesso dessa formação, tal como Wilco Kelderman - o homem para a Volta a França -, mas se a Lotto-Jumbo conseguiu ter líderes indiscutíveis, falta-lhe claramente construir uma equipa para os ajudar. E este pode ser o grande problema para Kruijswijk. O holandês esteve discreto durante praticamente duas semanas. No entanto, esteve sempre entre os melhores. Foi cirúrgico no ataque de sábado e foi poderoso na crono-escalada de domingo. Até agora dependeu de si mesmo, mas será que chega para ganhar o Giro? Alberto Contador conseguiu sem equipa vencer em 2015... mas é Alberto Contador!

Kruijswijk sabe o que lhe espera: vai ser atacado por todos os lados e de todas as formas. Estará preparado para responder a tudo? Esperam-lhe dias difíceis e a Astana e a Movistar têm as equipas para rapidamente isolar o holandês dos companheiros e depois... se Nibali e Valverde fizerem ataques coordenados, aos que certamente se juntará um Chaves (que também não deverá contar muito com ajuda da sua Orica-GreenEDGE) com o seu próprio objectivo. O holandês pode ter uma vantagem temporal motivadora, mas precisará de muita frieza, inteligência e pernas para aguentar o que aí vem e alcançar a primeira vitória no Giro para o seu país e, mais importante, a sua primeira grande volta.

Kruijswijk precisa que pelo menos Enrico Battaglin se supere na missão de braço-direito e que a restante equipa aguente o máximo de tempo possível no controlo das etapas. Mas não será fácil. É que sempre que se estiver a subir, a Movistar terá nomes como Visconti, Betancur (pelo menos a equipa espera que o colombiano apareça), Herrada e Amador (agora definitivamente a trabalhar para Valverde) para ajudar o líder. A Astana tem tido um Michele Scarponi brilhante no apoio a Nibali e um Jakob Fuglsang que ao trabalhar para Nibali pode ser compensado com um top dez.

A crono-escalada: que desgraça para Nibali e a vitória que justificou um convite duvidoso

Aquele que poderá tornar-se num momento chave do Gir
(Fotografia: Twitter @giroditalia)
Partiu a 41 segundos da liderança e como favorito à conquista da etapa. Mas dificilmente poderia ter tido um dia pior. Quando começou a ser feita uma comparação directa com o ritmo de Kruijswijk percebeu-se que o italiano não estava no seu melhor. Porém, mais uma vez se viu que quando as coisas estão a correr mal, ainda podem correr pior. Um problema com a corrente obrigou o italiano a trocar de bicicleta. Numa etapa de 10,8 quilómetros - entre Castelrotto e Alpe di Siusi - sempre a subir (tinha uns metros planos logo no início), ter de parar e voltar a recuperar ritmo não é fácil, ainda mais quando já revelava algumas dificuldades. Nibali não escondeu alguma frustração e até se chateou com um dos efusivos tiffosi. De 41 segundos, a diferença passou para 2:51 minutos! Como curiosidade, há seis anos, a 22 de Maio, Nibali vencia a sua primeira etapa no Giro...



Por outro lado, Valverde respondeu a um mau dia - aquele que se diz que o espanhol tem sempre numa grande volta - com uma exibição convincente (terminou com o terceiro tempo), que lhe permitiu recuperar tempo a todos, menos a Kruijswijk.

Chaves defendeu-se bem (ele que também já teve um dia menos bom no Giro no contra-relógio de 40,5 quilómetros) e acabou por beneficiar do azar e de alguma falta de força de Nibali. Destaque ainda para Bob Jungels (Etixx-QuickStep) que regressou ao top dez e, pelo negativa, a Rigoberto Uran e Domenico Pozzovivo. O colombiano da Cannondale - de quem se esperava muito (mas mesmo muito) mais nesta crono-escalada - e o italiano da AG2R ainda têm o top dez ao seu alcance, mas com mais de oito minutos de desvantagem para Kruijswijk, talvez seja o momento para pensarem na vitória de uma etapa.

O vencedor surpresa da crono-escalada, Alexander Foliforov
(Fotografia: Twitter @giroditalia)
E perante tantas decisões importantes a pensar na geral, quase que dá para esquecer que houve um ilustre desconhecido a ganhar a crono-escalada. Tal como na primeira etapa, foi preciso ir às centésimas para definir o vencedor. Alexander Foliforov, da Gazprom-RusVelo, quase viu Kruijswijk tirar-lhe um triunfo muito importante para a equipa russa.

Com o aproximar da última semana de prova, já se questionava a razão que teria levado a organização a convidar a Gazprom, uma das três equipas que não pertencem ao World Tour neste Giro. O conjunto 100% russo conquistou a quinta vitória do ano, todas em Itália. Claramente o objectivo do ano foi estar neste Giro, mas não se pode dizer que tenha justificado o convite. As dúvidas sobre a presença da Gazprom vão continuar, a diferença é que a equipa agora pode responder que ganhou uma etapa.

A Bardiani também já o fez através por intermédio de Giulio Ciccone. Falta a Wilier-Southeast de Filippo Pozzato e Nippo - Vini Fantini, que, no entanto, tem Damiano Cunego bem encaminhado para vencer a classificação da montanha.

Para a Gazprom estar no Giro ficou de fora outra equipa italiana, a Androni Giocattoli - Sidermec, e outras com mais créditos do que a russa, casos da Caja Rural (equipa dos gémeos Gonçalves e Ricardo Vilela, que chegou a alimentar a esperança de estar nesta competição), a Cofidis de Nacer Bouhanni e a Direct Energie de Bryan Coquard, Voeckler e Chavanel, que não terão ficado preocupadas já que estarão no Tour, mas ainda assim poderiam ter contribuído de maneira mais activa do que a Gazprom. Até se poderá incluir a Wanty que tem a Amstel Gold Race no currículo este ano e um italiano como líder: Enrico Gasparotto. Mas foi a Gazprom a escolhida...

Esta segunda-feira é dia de descanso. Faltam seis etapas para o final do Giro. Excluindo a última que é de consagração e para os sprinters, apenas uma poderá ser um pouco mais descansada para os homens da geral. Mas logo terça-feira é dia de atacar a liderança de Kruijswijk e ainda faltará o ponto mais alto do Giro: o Colle dell'Agnello.


Giro d'Italia 2016 - Stage 15 - Highlights por giroditalia

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