(Fotografia: Twitter @giroditalia) |
Num dia elogia-se e no seguinte corre tudo muito mal. Num dia estão dois ciclistas a sonhar com a vitória, no outro pede-se vingança como forma de disfarçar que o Giro pode estar (e provavelmente está) perdido. A Movistar desceu do céu ao inferno em 210 quilómetros, na etapa rainha da Volta a Itália. Primeiro a equipa mostrou não conseguir acompanhar os dois líderes, depois foi Andrey Amador que não conseguiu aguentar o ritmo e logo se viu que a camisola rosa ficaria pouco tempo no seu corpo. E para terminar em desgraça, Alejandro Valverde ficou sentado quando Vincenzo Nibali atacou e perdeu muito tempo.
Na 13ª etapa, na sexta-feira, Amador fez história ao tornar-se o primeiro costa-riquenho a liderar uma grande volta. Momento de festa, mas também de discussão sobre quem afinal era o número 1 da equipa espanhola. Eusebio Unzué, director desportivo, preferiu esperar e deixar a estrada decidir. Pelo meio Giovanni Visconti tentou ganhar a etapa e somou pontos para a montanha. Parecia tudo controlado e a Movistar mostrava a sua força. Parecia, pelo menos...
O primeiro problema surgiu logo com a polémica de Valverde dizer que não sabia que havia bonificações em jogo, deixando Nibali ganhar quatro segundos. A ser verdade, foi uma grande falha, ainda que, pelas indicações que o espanhol estava a dar, não seria razão para fazer uma tempestade num copo de água. Pelo menos, não nesta altura. E realmente não vale a pena tendo em conta o que aconteceu depois. Os quatro segundos não preocupavam em demasia, já os 3:06 minutos deste sábado são um enorme problema.
Outra discussão era em relação a Visconti: deveria ter ficado para trás e esperar por Valverde ou fez bem em tentar a vitória? Unzué achou que ficar na frente era o melhor e dado o resultado da etapa, nada lhe tirou a razão, pois não haveria garantias que Valverde conseguisse bonificar (tendo em conta o engano quanto às bonificações, se calhar foi mesmo melhor assim) e o espanhol estava confortável no grupo de favoritos.
Neste sábado, a Movistar falhou em todas as frentes na etapa rainha. A equipa rapidamente deixou os seus líderes sozinhos, numa etapa que apenas teve uns poucos quilómetros planos no início. Seis subidas em 150 quilómetros arruinaram a Movistar. Visconti pagou caro o esforço do dia anterior. Quando o ritmo aumentou, muito devido à Astana, o italiano desapareceu e não sobrou ninguém para ajudar Valverde e Amador. O costa-riquenho também não aguentou muito mais tempo.
Quando vestiu a camisola rosa, Amador não teve dúvidas em considerar Valverde o líder indiscutível. A pressão não era dele e o ciclista sabia que tinha de a afastar. A 14ª etapa deu-lhe razão em o ter feito. Amador não falhou. Fez o que pôde. Depois de perder o contacto, aproveitou a descida para recolar. Assumiu uma pequena ajuda a Valverde, sabendo que não demoraria muito a voltar a ficar para trás.
A pressão estava mesmo do lado de Valverde. No primeiro real teste à sua capacidade, o espanhol chumbou completamente. No primeiro ataque não teve reacção. Ficou a ver Nibali afastar-se com Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo), Johan Esteban Chavez (Orica-GreenEDGE) e outros dos candidatos.
A aposta em dois candidatos, a liberdade dada a Visconti não era afinal um sinal de força. Era um erro táctico. O Giro está numa fase de três dias muito importantes, que termina este domingo com a crono-escalada. E neste domingo também pode terminar de vez as hipóteses da equipa em lutar pelo Giro, se é que já não terminaram. Como vão estar Valverde e Amador física e animicamente? Essa é a dúvida.
A Astana também chegou a ter outro ciclista melhor que o seu líder. Mas se não quis afastar a possibilidade de ter um plano B, nunca houve dúvidas que Jakob Fuglsang trabalharia para Nibali. Ficará sempre a questão para discussão: cometeu a Movistar um erro em permitir ter dois ciclistas a lutar pela vitória? Ainda falta muita montanha e no site da equipa lê-se que as Dolomitas (onde ocorreu a tirada deste sábado) pedem vingança, mas depois da 14ª etapa, a equipa terá de repensar toda a sua estratégia e esperar por um dia muito bom de um dos seus ciclistas e de um muito mau dos que agora ocupam o lugares do pódio. Esta "vingança" está dependente de demasiado factores.
Porém, esta Volta a Itália tem sido rica em mudanças de dia para dia. Com a etapa rainha a definir três favoritos - Kruijswijk, novo líder, Nibali e Chaves - falta saber se algum outsider ainda tem capacidade para surpreender. Porque sim, Valverde passou de favorito a outsider.
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